30 novembro 2021

O RS colonial (5) | Paulistas e lagunistas rumo ao Sul/ Portugal de olho no Prata




Como vimos na postagem anterior, ao final do séc.17, o extremo sul do Brasil passou a conectar-se economicamente com a Região Sudeste, graças ao advento da mineração em Minas Gerais como a nova grande fonte econômica para a colônia portuguesa. "Para o Rio Grande começaram a descer paulistas e lagunistas, objetivando prear esse gado xucro para levar até a zona mineradora. Em especial, Laguna, fundada em 1676 pelo paulista Domingos de Brito Peixoto, tornou-se o foco de irradiação da descida para o sul, num movimento espontâneo que, contudo, teve o incentivo da coroa portuguesa" (Sandra Pesavento). Quatro anos depois os portugueses fundaram Colônia do Sacramento, de olho no Prata e na riqueza que advinha da mineração em Potosí*, exportada para a Espanha através do porto de Buenos Aires**. O Rio Grande do Sul servia como ponto de apoio para as pretensões portuguesas de vir a dominar a região do Rio da Prata.

Em 1725 lagunistas comandados por João Magalhães desceram mais ao sul, em viagem oficial a pedido da Coroa Portuguesa. Desde o início do século a região já era conhecida de tropeiros e contrabandistas de gado em favor do abastecimento das Gerais, além da captura de mulas em território argentino, inicialmente redirecionadas para as minas de Potosi, que vivia agora um período de decadência. O tropeiro era uma espécie de chefe de um bando armado, que muitas vezes tinha que enfrentar os castelhanos. Graças a eles foram abertas duas importantes vias de contato entre o extremo sul e o resto do Brasil: uma estrada na serra (1703) e outra no litoral (1727).

O gado preado era conduzido pelos tropeiros até Sorocaba***, em São Paulo, e em sua feira era vendido a outros grupos de tropeiros que o levavam para as minas gerais. Com o tempo, tiveram a ideia de investirem na criação a fim de aumentarem suas margens de lucros, o que foi do interesse da Coroa Portuguesa em ocupar a região entre Laguna e o Rio da Prata, dadas as dificuldades para manter Colônia de Sacramento (1680) sob seu domínio.


* Cidade na Bolívia fundada em 1546. Tornou-se a maior produtora de prata do mundo por um tempo.

** Fundada em 1536 por Pedro de Mendonça, que a chamou de Nuestra Señora Santa Maria del Buen Aire. Em função dos ataques indígenas, o assentamento foi abandonado. Em 1580 é refundada por Juan de Garay, explorador e conquistador espanhol.

*** Vale lembrar que Ana Terra, uma das personagens protagonistas do 1º volume de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, pertencia a uma família proveniente de Sorocaba e que migrou para o Continente, designação dada ao Rio Grande do Sul na época. Não é por acaso que o 1º volume tem o título de O Continente.


Fontes |

História do Rio Grande do Sul, de Sandra Jatahy Pesavento (Ed. Mercado Aberto)


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O RS colonial (5) | A vida nas missões jesuíticas/ Expulsão dos jesuítas/ A descoberta do ouro nas "Gerais"

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29 novembro 2021

PARTE 01 | Como será o ano de 2022?

Séculos 16 e 17 | Japoneses escravizados por portugueses

 




Entre os séculos 16 e 17, houve um rendoso comércio de escravos originários do Japão, cujas vítimas não eram apenas adultos, mas também crianças e que foi promovido por portugueses. Estima-se que o número de japoneses escravizados foram milhares. Segundo o pesquisador português Lúcio de Souza, da Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio, as pessoas, oriundas das classes mais pobres do país, eram raptadas ou até mesmo se vendiam para escapar da fome e da guerra. As mulheres, dentre elas meninas, eram vendidas muitas vezes como escravas sexuais. Em Portugal, eram adquiridas por famílias mais abastadas e eram usadas principalmente no trabalho doméstico.

Em 2013, nos Arquivos Gerais da Nação, no México, o referido pesquisador pôde apurar maiores dados sobre o comerciante português Ruy Pérez, estabelecido em Nagasaki, bem como a respeito de outros escravos japoneses adquiridos por ele, entre os quais um menino de oitos anos, que foi vendido a ele em 1585, tendo recebido o nome de Gaspar Fernandes. Junto à família de Pérez, passou a atuar como serviçal e acabou aprendendo português e espanhol. Quando Pérez e a família transferiram-se para Manila, nas Filipinas, o comerciante acabou sendo condenado por praticar o judaísmo às ocultas. Foi enviado para o México para ser julgado pela Santa Inquisição, mas acabou morrendo dois dias antes de o navio atracar no porto de Acapulco. 

O comércio de escravos foi proibido no Japão em 1590, mas acabou persistindo até a primeira metade do séc. 17, só finalizando com a expulsão dos portugueses que habitavam no país, sob o rigoroso regime do Xogunato Tokugawa, que passou a ter um controle severo sobre a influência estrangeira, o que incluiu a expulsão dos portugueses.

Fonte |
A história dos japoneses escravizados pelos portugueses e vendidos pelo mundo mais de 400 anos atrás

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Rio Grande do Sul | Saint-Hilaire e o negrinho escravo





26 novembro 2021

LÍNGUAS | À procura de um gênero neutro

 




Em 2014 o pronome neutro hen passou a fazer parte do Glossário da Academia Sueca, juntando-se os já existentes hon (ele) e han (ela), lembra o prof. Francisco Marshall (UFRGS) em sua coluna recente de jornal, no qual tratou do movimento social pela neutralidade de gênero nas línguas que não o possui. "Não se negam gêneros masculino e feminino, mas expande-se o campo da linguagem com uma ou mais opções, com maior liberdade e respeito", esclareceu ele. Para o articulista, "é arrogância apedeuta* usar a autoridade da norma culta para tentar barrar a evolução da linguagem. Muitas legislações mundo afora e diversos comportamentos comunicativos na educação, na economia, no direito, na ciência, na arte e na imprensa, avançam consolidando essa evolução cultural que aperfeiçoa a linguagem com educação e respeito."

Vale lembrar que até mesmo em esperanto, uma língua planejada, hoje com com status de língua viva, que se desenvolve como qualquer outra, propõe-se a introdução do pronome ri, pronome neutro que significa "a pessoa à qual se fala", para juntar-se a li, ŝi e ĝi (este último, neutro, para indicar coisas e animais). Como falante de esperanto, particularmente não aderi à ideia, o que não significa que seja inteiramente contrário a ela. Vejamos o que acontecerá.

Algo para mim bastante curioso em seu artigo tem a ver com sua introdução ao assunto, no qual evidencia que a expressão de gêneros nunca se limitou à polarização binária entre masculino e feminino. Marshall, em sua introdução, chama a atenção para fatos curiosos em torno da questão dos gêneros gramaticais. No proto-indo-europeu** havia no início apenas a distinção entre gêneros animados e inanimados. Posteriormente o gênero animado dividiu-se em masculino e feminino e do inanimado originou-se o neutro. A maior parte das línguas indo-europeias seguem esse esquema, como o antigo sânscrito, o grego, o latim, o alemão o russo por exemplo. Há, porém, línguas que não diferem o gênero, como o turco, o húngaro, o japonês e até mesmo o tupi-guarani. No continente africano, nas línguas da família Bantu, há línguas com mais de 20 gêneros.

* "Desprovido de instrução".
** Língua de origem asiática que teria surgido no quinto milênio a.C., falada por um povo pré-histórico, e que espalhou-se pela Índia e Europa, dando origem a tantas outras línguas, asiáticas e europeias.


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Português, grego, árabe e outras línguas numeram os dias da semana

25 novembro 2021

CABEÇAS PENSANTES (19) | O desmonte de um país/ Soviéticos definiram a 2a Guerra / A língua: fenômeno vivo






Consigo ver claramente que, no Brasil, tudo sofre desmonte ou desestruturação. É uma coisa muito delicada porque um país não consegue sobreviver destruindo aquilo que havia sido construído, mas sim aprimorando e refletindo. (...) Temos que parar de derrubar o que foi tão difícil de ser desenvolvido, em todos os cantos, independentemente de quem estiver no poder. É incompreensível isso, que a gente se sabote desse jeito.
Carla Camurati


O homem deseja tantas coisas, 
mas precisa de tão pouco.
Goethe


Não creio em Deus e nunca tive crise religiosa. Mas não posso ignorar que, embora não seja crente, minha mentalidade é cristã.
José Saramago


Se alguém diz a verdade, pode estar certo de que será descoberto, mais cedo ou mais tarde.
Oscar Wilde


(...) Foi a vasta ofensiva soviética de janeiro de 1945 que quebrou a espinha dorsal da Wehrmacht e acabou, tanto na cúpula nazista como na população em geral, com qualquer esperança de evitar a derrota. Envolvendo cinco grupos do Exército soviético (...), foi a maior operação ofensiva da Segunda Guerra Mundial, e a primeira que assegurou aos Aliados a conquista de largas faixas de território alemão.
Richard Bessel, historiador, professor de história 
da Universidade de York


A língua é um fenômeno vivo. Pertence aos seus usuários e muda constantemente. Esperneiam gramáticos, exasperam-se puristas, descabelam-se professores: ela ignora molduras e flui orgânica nas ruas e famílias.
Leandro Karnal


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Cabeças Pensantes (18)

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23 novembro 2021

O RS colonial (4) | A vida nas missões jesuíticas/ Expulsão dos jesuítas/ A descoberta do ouro nas "Gerais"


Como já vimos na postagem anterior desta série (veja linque abaixo), em 1682 os padres jesuítas da Companhia de Jesus começaram a retornar ao Rio Grande do Sul e fundaram os chamados Sete Povos das Missões, fato que deu origem a algumas cidades do oeste gaúcho. Os índios levados para as reduções jesuíticas "passaram a trabalhar sob a orientação e fiscalização dos jesuítas, em regime comunitário". Tanto a terra quanto os meios de produção pertenciam à comunidade.

A terra era demarcada para as famílias, sendo que outras eram destinadas para o usufruto de incapazes, como órfãos, viúvas e doentes bem como aqueles com cargos administrativos. As colheitas eram armazenadas para posterior  distribuição às pessoas.

Além da criação de gado e cultivo da erva-mate, as comunidades ocupavam-se com outras atividades, como fiação, tecelagem, metalurgia, trabalhos artísticos ligados principalmente à arquitetura e escultura. Inicialmente os caciques eram nomeados como chefes de setores. Com o tempo, tais nomeações passaram a se dar pelo processo de eleição.

Em meio às disputas pela posse da região praticadas pelos impérios português e espanhol, as reduções jesuíticas agiam de maneira autônoma, expandindo-se economicamente e passaram a ser vistas como uma ameaça às pretensões de Portugal e Espanha. Passaram a ser consideradas como "um estado dentro do estado" e corriam boatos que tencionavam criar um "Império Teocrático na América".

O conflito crescente foi pauta do Tratado de Madri (1750) entre os dois impérios europeus e disso resultou nas expulsões dos jesuítas em Portugal, Espanha e América, num período de nove anos entre elas.

Ao final do séc. 18, com a descoberta das minas de ouro e pedras preciosas nas "Gerais", aumentando a população na região e não mais apenas no litoral, criou-se um mercado interno e os rebanhos de gado no sul do país passaram a gozar de uma maior importância, conectando-se economicamente as duas regiões brasileiras.


As missões jesuíticas no RS em 1752


Fonte | 

História do Rio Grande do Sul, de Sandra Jatahy Pesavento. Ed. Mercado Aberto, 1984.

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O RS colonial (3) | O comércio de couro/ Fundação da Colônia do Sacramento/ Os Sete Povos das Missões

https://cesardorneles4.blogspot.com/2021/11/o-rs-colonial-3-o-comercio-de-couro.html


Missões Jesuíticas (vídeo)

https://www.youtube.com/watch?v=fP-1FQu-BvY

Imagens |

1. Renato A. Costa, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons

2. O autor não foi fornecido de forma legível por computadores. Presume-se que seja Pruxo (com base nos direitos de autor reivindicados)., Public domain, através da wiki Wikimedia Commons

22 novembro 2021

Antiracismo: O futebol não pode estar fora da luta

 




Entrevistas de jornal (vide fonte) com Marcelo Carvalho - diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Sebastião Arcanjo (Tiãozinho) - presidente da Associação Atlética Ponte Preta (Campinas, SP), único negro de clubes das séries que disputam as séries A e B, e Marco Aurélio de Oliveira (Marcão), treinador do Fluminense, também negro, dão conta da necessidade de o futebol dar sua parcela de contribuição na luta contra o racismo estrutural existente no Brasil desde o período colonial.

Para Marcelo Carvalho, o futebol é extremamente racista, algo facilmente detectável em função de atos de teor racista contra jogadores, mas em outras situações, como o fato de não termos negros em posição de destaque ligados ao futebol, fora de campo. Lembra que isso acontece em outros setores importantes da sociedade. Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF e Alceu Collares, ex-governador gaúcho, são dados por ele como exemplos de exceção à regra. Difundiu-se ao longo do tempo a ideia de que negros não têm capacidade intelectual, são malandros, preguiçosos. Para Carvalho, "a grande parcela das pessoas nos locais em que acontece um ato racista acha que é apenas um insulto, um xingamento". Segundo ele, o futebol pode se envolver na luta contra o racismo com ações de combate, muito além de postagens e camisetas. Os clubes deveriam criar espaços para a promoção de palestras e debates sobre racismo, até mesmo dentro da própria instituição, por exemplo. Isso faria com que seus atletas se sentissem mais protegidos e seguros para abordarem o tema. Para ele, a luta contra o racismo "é luta por direitos civis, é progressista, humanitária".


Sebastião Arcanjo (Tiãozinho), ex-deputado estadual, presidente da Ponte Negra, é uma figura de destaque no enfrentamento do racismo nos meios futebolistas. Para ele, além das ações punitivas contra atos racistas, para uma política a longo prazo deveríamos adequar o currículo escolar, valendo-se de uma pedagogia mais inclusiva que levasse em conta a pluralidade cultural deste país, o que significaria dar mais visibilidade à importância da cultura negra na formação do país, diria eu. Para Tiãozinho, é importante que no engajamento na luta contra o racismo, haja a participação de brancos. Cita o exemplo o caso George Floyd, nos EUA, em que "jovens brancos estavam na linha de frente para os outros pudessem se manifestar".

Marco Aurélio de Oliveira (Marcão), um dos poucos treinadores negros do futebol brasileiro, atualmente no comando da equipe do Fluminense, vê com simpatia iniciativas de seu clube atual, bem como as do Bahia, em prol de um trabalho de conscientização frente à questão. De qualquer forma, sempre tem a impressão de que "tem de fazer tudo em dobro". Vê na capacitação cada vez maior dos treinadores negros um elemento valioso  para enfrentarem as questões raciais.

Fontes
Entrevistas de Marcelo Carvalho, Sebastião Arcanjo e Marco Aurélio de Oliveira publicadas no caderno de esportes de Zero Hora, de 20-21/nov/2021

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Por que não temos mulheres e heróis negros?

19 novembro 2021

HUMOR | Joãozinho/ Buzinadores/ Despertador/ Hoje na História/ Zagueiros/ Quando a mulher diz "não" etc. e tal

 





Pra variar, Joãozinho está boiando na aula de português.

- Joãozinho, me diga dois pronomes. - solicita a professora.

- Quem? Eu?

- Muito bem, Joãozinho.


Ah, aqueles buzinadores! Permitir que eles guiem um carro é o mesmo que dar um apito para uma criança. Mário Quintana

O despertador é um objeto abjeto. Idem


Hoje na história

1945 - Aparece um boato sobre a Declaração dos direitos do Homem, desmentido por todos os países até os dias atuais. Fraga


Por que os zagueiros são os jogadores que mais deixam saudade quando se aposentam no futebol?

- Porque são os que mais fazem falta!


O que martelo foi fazer no culto? Pregar.


O que o zero disse pro oito?

- Gostei do seu cinto.

A diferença entre um cirurgião plástico e um cardiologista é que quem vê cara não vê coração. Max Nunes


Quando uma mulher diz "não" a primeira vez, "não" a segunda vez e "não" a terceira vez, com toda certeza ela já é a sua mulher. Idem


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Fantasia sexual da mulher e algo mais do bom humor...

https://cesardorneles4.blogspot.com/2021/07/fantasia-sexual-feminina-e-algo-mais-do.html


18 novembro 2021

CABEÇAS PENSANTES (18) | Brasil: o crime compensa/ Mortos/ Grandes fortunas/ Abel/ Balé/ Reeleição






O crime no Brasil parece mesmo compensar muito. O pior Ministro do Meio Ambiente que já tivemos está crente que sairá impune diante de seus inúmeros crimes perpetrados contra a Floresta Amazônica e os povos indígenas. Provavelmente ele conta com o voto da parcela esquizofrênica da população para lhe ofertar um cargo no Legislativo e assim adquirir foro privilegiado e evitar a cadeia.
Valéria A. S. Silveira Bordin, em carta publicada em Piauí nº 181.


A natureza com todos os seus vulcões, terremotos, furacões e inundações não causou tantos mortos como a humanidade a si própria. Lutas de toda a ordem; guerras religiosas, guerras de interesses materiais, guerras absolutamente absurdas e estúpidas como as dinásticas. Não há um raio de luz - para pôr a questão assim - que dê na cabeça das pessoas e as faça perceber que não se pode viver assim!
José Saramago, escritor


O segredo das grandes fortunas sem causa aparente é um crime esquecido, pois foi muito bem realizado.
Personagem no romance O Pai Goriot, de Honoré de Balzac


Se Abel tivesse sido assassinado por aqui, até hoje ninguém saberia que o criminoso era Caim.
Max Nunes, humorista e médico



A prova de que o balé dá sono na plateia é que os artistas entram sempre na ponta dos pés.
Idem



Impedir a reeleição deste projeto ruinoso deveria ser uma prioridade muito mais clara para todos os que reivindicam para si a condição de democratas. Isso se o Brasil ainda tiver a pretensão de ser ao menos um arremedo de nação.
Fernando de Barros e Silva, jornalista


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16 novembro 2021

O RS colonial (3) | O comércio de couro/ Fundação de Colônia do Sacramento/ Os Sete Povos das Missões

 




Bem próximo é o rio Jacuí e o forte de pedra construído em 1752 perto da foz do rio Pardo e de onde se originou a cidade. Dali os dragões de Rio Pardo tinham vencido todas as invasões, das feitas pelos índios guaranis às dos espanhóis e argentinos. E foi como houve a fixação das mais meridionais fronteiras brasileiras. Tinha dez canhões e um exército regular de quase cem homens. Trecho do romance "Tuiatã", de Hilda Simões Lopes (Libretos, 2017)

Ao se retirarem do extremo sul do Brasil em 1640, os jesuítas espanhóis da Companhia de Jesus levaram consigo os índios catequizados, deixando para trás o gado criado em suas reduções, que continuou se reproduzindo, inteiramente bravios. O fato acabou criando o fundamento econômico da região: a apropriação do gado xucro.

Nesta época, o império português, ao perder possessões consideráveis no Oriente e na África em função de concessões para ingleses e holandeses. Em razão disso, voltou sua atenção para o sul do Brasil, com atenção especial para a região do Prata. Em razão disso, em 1680 fundou-se Colônia de Sacramento, hoje cidade uruguaia às margens do rio da Prata, como base de apoio para uma futura conquista da atual capital argentina. No pampa gaúcho, começaram uma atividade de cunho predatório, caçando o gado xucro para extração do couro, que acabava sendo exportado para a Europa. A carne em si não era considerada uma fonte de renda. Simplesmente em parte era consumida para as necessidades do dia a dia e o resto deixado para apodrecer. Tal prática envolvia ainda espanhóis e índios das missões jesuíticas, agora estabelecidas apenas no outro lado do rio Uruguai. 

O interesse crescente pela chamada Vacaria del Mar estimulou os jesuítas a voltarem a se estabelecerem  na região e disso resultou a criação dos chamados Sete Povos das Missões: São Borja, São Nicolau, São Miguel. São Luís Gonzaga, São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo. Começaram a capturarem o gado xucro e conduzi-lo para uma reserva de gado que batizaram com o nome de Vacaria dos Pinhais ou Campos de Vacaria. Além disso, estabeleceram estâncias para criarem o gado junto às suas reduções. Exportavam o couro para Buenos Aires e deram início ao cultivo da erva-mate.

Fonte |
História do Rio Grande do Sul, de Sandra Jatahy Pesavento (Ed. Mercado Aberto) 

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Imagem | Renato A. Costa, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons


15 novembro 2021

Carolina Machado de Assis, a esposa

 




Carolina Augusta de Novaes Machado de Assis (Porto, 1835 - Rio de Janeiro, 1904) foi a esposa de Machado de Assis, o maior vulto da literatura brasileira, numa vida conjugal que durou 35 anos. A escritora Rosa Busnello acaba de lançar seu quarto romance histórico, que tem como título O Livro de Carolina - A Improvável Bibliografia de Carolina Machado de Assis, através da Editora Libretos (232 p.). Segundo pude apurar na Wikipédia, Carolina transferiu-se para o Rio de Janeiro a fim de cuidar de seu irmão enfermo. Por outro lado, a autora apurou por meio de consultas a cartas e amigos e familiares de que ela teria deixado seu país por ter se envolvido em um escândalo que comprometeu sua reputação. 

Pelo fato de o livro tratar-se de um romance baseado na vida de Carolina, Busnello criou uma situação fictícia segundo a qual ela teria tido em Portugal uma relação amorosa ilícita com um inglês casado, motivo de um escândalo. O fato é que o boato de que ele teria vivido de fato um relacionamento do tipo a acompanhou desde sua chegada ao Brasil.

De qualquer forma, o romance destaca sua vida como esposa de Machado, num casamento construído em bases sólidas, unidos por um sentimento amoroso correspondido. Uma união que teve que enfrentar, diga-se de passagem, a não aprovação de seus familiares em Portugal, contrariados pelo fato de ela ter se casado com um negro. Além do mais, Carolina era uma jovem muito culta, com um apreço especial pela literatura inglesa. Era a primeira leitora dos livros escritos pelo marido e responsável pela correção dos textos. Segundo consta, ao apresentar-lhe romances das literaturas portuguesa e inglesa, fez com que ele redefinisse seu estilo literário. 

Duas cartas de Machado para ela, quando ainda eram namorados, hoje fazem parte do acervo da Academia Brasileira de Letras. Numa elas, o escritor escreveu: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Além disso, tens para mim um dote que realça-os mais: sofreste."


Fontes |
Carolina Augusta Xavier de Novais

Os segredos de Carolina, artigo de Karine Dalla Valle publicado no Caderno Donna, em Zero Hora de 13-14/nov/202.

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Machado em inglês: desafios de uma tradutora


Imagem |

Unknown authorUnknown author, Public domain, via Wikimedia Commons

12 novembro 2021

Minhas ideias regadas a café (4) | Estudo do latim/ Redes sociais, joio e trigo/ Protesto/ Fatalidades etc. e tal






Nomes da semana

Monday, Tuesday, Wednesday... Será que os obscurantistas norte-americanos não se invocam com os nomes pagãos (oh, que horror!...) dos dias da semana em inglês?


O latim na faculdade

Não sei como são as coisas hoje, mas quando fiz Letras na UFRGS, entre os anos 70 e 80, na minha licenciatura em português e inglês, tive que estudar dois anos de latim, sob o argumento de ser a língua que originou o português e demais línguas neolatinas e que nos ajudaria a entender melhor as estruturas da língua de Camões. De há muito sou de opinião que apenas dois anos de estudo de latim de nenhum modo podem servir para tal objetivo. Seria bem mais produtivo uma disciplina do tipo história da língua portuguesa, enfocando suas origens latinas, como qualquer compêndio a respeito. Eu particularmente só passei a ter um gosto maior pelo latim quando passei a me interessar por questões etimológicas, mais adiante na pós-graduação. Nada contra o estudo do latim, diga-se de passagem. Que bom que haja excelentes latinistas por aí, assim como pessoas versadas no grego antigo. Mas outros são os objetivos.


Erros de português

Passei minha vida toda como professor de português corrigindo os "derepente" de muitos alunos. De jeito nenhum aprendiam que o certo é "derrepente", com dois erres! :-)


O joio do trigo

Redes sociais não me parecem muito empenhadas em combaterem o festival de notícias falsas que rola por aí, ameaçando inclusive a própria democracia, sem falar em outras baboseiras. Há quem as abomine e caem fora, sem falar naqueles que jamais tiveram interesse por elas. Eu particularmente adoto a postura de separar o joio do trigo, o que, diga-se de passagem, é uma atitude saudável em relação a muitas situações diferentes da vida, como por exemplo ligar a TV para assistir a alguma coisa.


Conferência da ONU

Falam tanto em Crise Climática... Tudo bem, mas cá entre nós, quando será que a ONU promoverá uma conferência sobre a Crise Moral e abordar a origem de todos os males?


Protesto

Ninguém está usando máscara nos novos comerciais de TV tipo as maravilhas da vida em família quando se consome a margarina X. Desserviço!...


Poupar

Fui criado para poupar as coisas. Até hoje trato de economizar água e luz aqui em casa, por exemplo. Lâmpadas acesas dentro de casa só quando se faz necessário. Nada de esbanjamento d'água. Nestes tempos bicudo em que vivemos, voltei-me igualmente para a questão do consumo de gás. Quando vou aquecer água para um cafezinho, por exemplo, passei a colocar na chaleira exatamente a quantidade de água de que preciso, o que implicará menor uso do gás. Vai influir consideravelmente na conta do gás? Claro que não. Mas fico feliz com meu gesto mesmo assim.


Fatalidade

Neste pobre país, fatalidade agora virou sinônimo de negligência pura e simples. Escrevi agora? Hoje estou muito bonzinho.


Viver

"Viva o dia de hoje como se fosse o último", diz um ditado no qual particularmente não vejo sentido nenhum, tamanha é a falta de realismo. Prefiro o "Nada como um dia depois do outro", que tem um caráter esperançoso, principalmente para quem vive neste pobre país que perdeu o rumo.


O garfo

Em vez de erguimento de estátuas homenageando verdadeiras nulidades, que tal uma lembrando o inventor do garfo, o último talher a ser criado? Você saberia viver sem ele?


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Minhas ideias regadas a café (3)

https://cesardorneles4.blogspot.com/2021/10/minhas-ideias-regadas-cafe-3.html



11 novembro 2021

O Rio Grande do Sul colonial (2) | As reduções jesuíticas/ A criação de gado/ O fim das investidas dos bandeirantes


 


Vivia João no Sul do Brasil, junto ao forte feito na confluência dos rios Pardo e Jacuí, guarnecido pelo regimento dos guardiões de Rio Pardo. Para lá, o idoso João tinha fugido com a família quando houve a tomada pelos espanhóis da Fortaleza Jesus, Maria, José, e da vila de Rio Grande das quais fora um dos fundadores, e seus familiares, primeiros habitantes. (Trecho do romance Tuiatã, de Hilda Simões Lopes (Libretos, 2017)


Para os bandeirantes, vindos de São Paulo, a escravização dos índios das reduções jesuíticas do Paraguai, criadas pela Companha de Jesus, representava uma mão-de-obra mais qualificada, mais adestradas para o trabalho e a obediência. Os ataques  às reduções obrigaram a transferência das missões, em 1626, para mais ao sul, no que hoje é a região noroeste do Rio Grande do Sul, na outra margem do rio Uruguai, numa região que foi designada por ele como Tape.

Antes disso, jesuítas portugueses já tinha procurado estabelecerem reduções na região nordeste gaúcho, numa área entre o rio Mampituba, na divisa com o atual estado de Santa Catarina, até a região do rio Gravataí, mais ao sul. Entretanto, sem o devido apoio por parte das autoridades jesuítas de Salvador, então capital da colônia portuguesa na América, o projeto fracassou. Já os jesuítas espanhóis, por outro lado, tiveram mais sucesso, ocupando uma área considerável do norte do Rio Grande do Sul, de Ijuí a Rio Pardo, fomentando a agricultura e criação de gado trazidos de Corrientes, na Argentina.

Tudo ia bem até as primeiras investidas por parte dos bandeirantes, na busca de índios para o trabalho forçado. Em 1640, os jesuítas desistiram do Rio Grande do Sul, sendo que o apresamento de muitos nativos da terra foi bastante considerável. Com a libertação de Portugal do domínio espanhol (1580-1640), os portugueses foram bem sucedidos em expulsarem os holandeses da África, o que normalizou o tráfico de negros a seu favor. Com isso, os bandeirantes acabaram com suas investidas no extremo sul para a captura de índios.


Fonte |
História do Rio Grande do Sul, de Sandra Jatahy Pesavento, 
para a Ed. Mercado Aberto. Série Revisão (1984).

Mais |
O Rio Grande do Sul colonial (1) | 
Os bandeirantes paulistas voltam-se para o Sul


Imagem | Renato A. Costa, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons

CABEÇAS PENSANTES (17) | O essencial/ Que futuro?/ Faca/ Ouro/ Poluentes/ Racismo/ Arte

 






Mas é preciso escolher.
Porque o tempo foge.
Não há tempo para tudo. (...)
É necessário aprender a arte de "abrir mão" -
a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.
Rubem Alves, teólogo


Que futuro existe hoje, neste país, para essas meninas e meninos geniais [doutorandos]. Orçamento de ciência praticamente zerado, ministérios paralisados, universidades reféns de desmandos. O que parecia antes um desafio é hoje uma sentença. Sim, essas meninas e esses meninos têm um futuro brilhante, e vão contar essa história - só que não aqui.
Cristina Bonorino, imunologista e professora da UFCSPA


Meu poema é a minha faca. Paul Celan, poeta romeno


O ouro não deixa um tostão na Amazônia. O garimpeiro não vê esse ouro. O atravessador ganha um pouco mais, e o grande beneficiário é o comerciante de ouro, que está a centenas de quilômetros da floresta. É uma destruição de graça.
Ana Beltrame, diplomata, cônsul do Brasil em Rivera, Uruguai


No mundo todo, são 8 milhões de pessoas que morrem de forma prematura todos os anos por conta das emissões de poluentes. E o custo dessas mortes, seja pelas internações hospitalares ou pela perda da capacidade produtiva, é muito maior do que o custo de abater as emissões.
Paulo Saldiva, médico patologista, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP


Marighella foi um defensor da justiça social e igualdade entre as pessoas, mas nunca falou sobre a questão do racismo, porque não era uma pauta da esquerda. Também não é suficientemente hoje. A esquerda não entendeu que não se pode falar de nenhuma questão social sem entender que o evento histórico que fundamenta nossas relações sociais é a escravidão. Wagner Moura, ator e cineasta


Por que a arte importa? Porque, entre várias outras coisas, inspira, educa, conta uma história. A arte também denuncia, defende, argumenta, manifesta, emociona. A arte desenvolve o senso crítico, faz pensar além, expande o universo. Luís Wulff, CEO do Tax Group e diretor financeiro da Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea do RS


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Cabeças Pensantes (16)

10 novembro 2021

Línguas "separatistas" (3) | Corso/ russo/ sardo/ siciliano/ servo-croata

 

Na Córsega, anexada à França em 1769, o corso é a segunda língua mais falada, depois do francês. Possui muitas semelhanças com o dialeto da Toscana, na Itália, por razões históricas. Desejos de mais autonomia em relação à França ou mesmo de independência acham-se presentes.


Na Crimeia, que está situada na Ucrânia, por ter relações culturais e linguísticas com a Rússia, existe um movimento separatista. Em 1912 um presidente ucraniano pró-Rússia, que tornou o russo língua oficial da península, foi expulso do cargo pelos ucranianos e uma das consequências foi de que Putin invadiu e anexou a Crimeia.


A Sardenha faz parte da Itália, mas anteriormente foi dominada pela Espanha. Fala-se sardo (língua próxima ao italiano), catalão e até mesmo o corso. Lutam pela independência no Congresso italiano.


Movimentos separatistas também existem na Sicília, orgulhosa pelo fato de o siciliano ser classificado como um idioma e não um simples dialeto do italiano.


Tanto os croatas  quanto os sérvios, na prática, falam um mesmo idioma: o servo-croata. Os primeiros, católicos, utilizam o alfabeto latino; os segundos, cristãos ortodoxos, utilizam o alfabeto cirílico. Os dois povos reivindicam suas línguas como sendo distintas uma da outra. Na realidade, a diferença mesma entre elas é o sotaque...


Fonte |
Línguas separatistas, artigo de Carolina Fioratti, publicado em Superinteressante de ago/2021.

Mais |
Línguas "separatistas" (2)


08 novembro 2021

Rio de Janeiro, Ilha Fiscal | O ÚLTIMO BAILE do Império (09/nov/1889)

 


Tela de Francisco Figueiredo, Museu Histórico Nacional



Em 11 de novembro de 1889, o Conde d'Eu, príncipe francês e membro da Casa de Orléans e marido da Princesa Isabel de Bragança, herdeira do trono imperial do Brasil, escreveu ao pai, Luís d'Orléans, Duque de Némours o seguinte:

Meus familiares finalmente desceram de Petrópolis no dia 5 deste mês e, após virem para passar a sexta-feira e o sábado aqui e, anteontem, na noite de domingo [9 de dezembro], para participar do baile gigantesco organizado pelo governo em uma ilha usada pela alfândega em homenagem à visita ao Rio de um navio de guerra chileno, retornaram a Petrópolis ontem às nove horas da manhã. Eles devem voltar no domingo [16 de novembro] como de costume.


A Ilha Fiscal, à esquerda.


O Conde d'Eu refere-se ao famoso Baile da Ilha Fiscal, também conhecido como O Último Baile do Império, que tinha como objetivos homenagear a oficialidade do navio Almirante Cochrane, que fazia parte de um grupo de embarcações ancoradas na Baía de Guanabara e oriundas do Chile e que foi realizado em 9 de novembro de 1889, bem como as bodas de prata da Princesa Isabel e o Conde d'Eu. Além do mais, a ideia tinha conotações de caráter político, pois em função da grandiosidade do evento, serviria como uma demonstração de força do Império já claudicante, ameaçado pelo movimento republicano, que contava cada vez mais com o apoio do Exército e da Marinha, através do Clube Militar.

Foi um evento e tanto, com a participação da nata da sociedade carioca, além de toda a família imperial, bem como a de representantes ilustres das forças políticas aliadas à monarquia. 


Na ilha funcionava um posto da Guarda Fiscal, devidamente instalada num palacete (foto acima), que hoje abriga um museu histórico-cultural. Para a sua realização, o baile contou com uma verba de 250 mil contos de réis advindos o Ministério de Viação e Obras Públicas e que representava 10% do orçamento da Província do Rio de Janeiro para o ano seguinte. Nos jardins do palacete, foram montadas duas mesas à disposição de 250 convidados cada uma. Uma banda animou o evento, ao som de valsas e polcas até a madrugada. Para o cardápio do jantar, iguarias incomuns e bebidas importadas é que não faltaram:

- 800 kg de camarão
- 300 frangos
- 500 perus
- 64 faisões
- 1.200 latas de aspargos
- 20.000 sanduíches
- 14.000 sorvetes (oba!)
- 1.900 pratos de doce (será que tinha pudim de coco? Hummm...)
- 10.000 litros de cerveja
- 300 caixas de vinhos, champanhe e outras bebidas

Dom Pedro 2º chegou ao baile, acompanhado de sua família - filha, genro e netos - às 10 horas da noite e retirou-se à 1h da manhã, sem ter jantado. Conta-se que ao chegar ao salão do baile, desequilibrou-se e levou um tombo, vindo a ser socorrido por jornalistas. Teria dito: "O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu." Seis dias depois...

Fontes |
Baile da Ilha Fiscal
Imperador Cidadão, de Roderick J. Barman (Ed. UNESP)

Mais |
A Ilha Fiscal e o último baile do império

Pedro 2º, o governante brasileiro que amou as artes, a ciência e a cultura

IMAGENS |
Na sequência:
Por Aurélio de Figueiredo - Museu Histórico Nacional (http://www.museuhistoriconacional.com.br/), Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4161928

Francisco Joaquim Gomes Ribeiro, Public domain, via Wikimedia Commons

Brazilian National Archives, Public domain, via Wikimedia Commons

05 novembro 2021

De onde vem a palavra "gaúcho"? Origem etimológica bastante incerta. Várias hipóteses.

 

O gaúcho em trajes típicos



Para o Prof. Guilhermino César (1908-1993), meu professor na faculdade de Letras da UFRGS, um mineiro de vasta cultura, há muito tempo radicado no Rio Grande do Sul, a origem do termo gaúcho tratava-se de um verdadeiro quebra-cabeça. O fato é que a origem etimológica da palavra ainda hoje é incerta, com vários posicionamentos diferentes sobre ela não só no Brasil, bem como no Uruguai, Argentina e Chile. 

Augusto Meyer (1902-1970), jornalista, escritor e folclorista gaúcho, apontava inúmeras versões, sem definir-se por nenhuma.

João Ribeiro (1860-1934), historiador e filólogo carioca, além de outras ocupações de ordem cultural, tachava o caso como insolúvel.

Para Barbosa Lessa (1929-2002), folclorista e escritor gaúcho, um dos criadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho (1948), simplesmente disse certa vez: "Ninguém sabe."

Além de apontar-se como origem da palavra o francês "gauche" ("esquerdo"), há tantas outras hipóteses disseminadas por aí. O argentino Costa Alvarez chegou a catalogar 25 supostas etimologias da palavra, o uruguaio Buenaventura Caviglia Hijo foi mais longe: 36. Para ele, em termos conclusivos, "gaúcho" vem de "garrucho", portador daquilo que em português chamamos de "garrucha", uma arma de fogo de cano curto semelhante a uma pistola. Curiosamente, para a escritora Hilda Simões Lopes, igualmente advogada e socióloga, autora do romance histórico "Tuiatã", que estou lendo, tem a mesma opinião, mencionando tal origem etimológica ao longo da obra.

Já para o chileno Rodolfo Lenz, uma possibilidade seria a palavra "araucana cachu" ou "cauchu" e para o argentino Paulo Groussac, a palavra vem de "guacho". O fato é que o termo é de origem certa. Sabemos apenas que "gaúcho", entre nós, antes de passar a ter o sentido moderno de "natural ou habitante do Rio Grande do Sul", tinha conotações nada honrosa: era aquele que não passava de um "marginal, ladrão, vagabundo, contrabandista, coureador, aquele que saqueava fazendas só para roubar o couro das rezes", conforme certa vez esclareceu em artigo o jornalista Antônio Goulart, já falecido.

Fonte |
De onde vem a palavra gaúcho? Artigo de Ricardo Neves, em sua coluna Almanaque Gaúcho, publicada em Zero Hora de 30-31/out/2021

Mais |
Palavras de origem indígena como "cutucar", "peteca" e outras