31 janeiro 2022

Isabela Fogaça | Porto Alegre é demais

MARCO PIGOSSI, o ex-galã de novelas que se assumiu como gay




Na edição de janeiro da revista Piauí, um depoimento de duas páginas e meia do ator Marco Pigossi falando a respeito de ter assumido recentemente sua orientação sexual como gay. No último feriado de Ações de Graças nos EUA, 25 de novembro, seu namorado Marco Calvani, cineasta italiano, como já se sabe, publicou no Instagram uma foto com ele, de mãos dadas, que Pigossi resolveu reproduzir para seus seguidores, motivado por comentários positivos que leu a respeito dela. E ainda acrescentou a seguinte legenda: Feliz Dia de Ação de Graças. p.s. choca zero pessoas. Ex-ator global, tendo protagonizado oito novelas da Vênus Platinada, como é de praxe nessas circunstâncias, temia perder seu público e arruinar sua carreira se o fato de ser gay viesse a público.

O ator, que trocou a Globo pela Netflix em 2017 e que atualmente vive com seu namorado em Los Angeles, conta em seu testemunho que na adolescência, quando passou a ter consciência de sua homossexualidade, torcia para que isso fosse algo transitório, devido ao grande preconceito que ainda vigora neste país a respeito dessa orientação sexual. Relembra o fato de que nas novelas e programas de humor da TV, os gays eram retratados de forma caricata e pejorativa, o que só complicava as coisas. Além do mais, sabia que não poderia contar com o apoio de sua família. Mais tarde, tendo decidido ser ator, após papéis secundários em novelas da Globo, sua carreira deslanchou ao interpretar um gay afeminado na bem-sucedida novela Caras & Bocas (2009), de Walcyr Carrasco.

"À medida que eu subia degraus na profissão, atuando como protagonista de algumas novelas, mais medo eu sentia. A mera possibilidade de que soubessem da minha vida sexual me paralisava, pois eu tinha a percepção clara de que minha carreira seria destruída. E ser ator me cura, me preenche. Eu seria um vácuo, um vazio, se as portas se fechassem." - afirma o ator.

Quando estava atuando em Fina Estampa (2011), de Aguinaldo Silva, uma falsa notícia de que tinha um caso com um colega da mesma novela, Marco Pigossi entrou em parafuso. Passou a tomar antidepressivos e ansiolíticos, em meio a crises de pânico em função do ocorrido, chegando a ter pesadelos a respeito. Em 2017, depois de oito anos de análise, algo dito por seu analista o marcou profundamente: "Você vê a sua homossexualidade como uma maldição, um carma, que acarreta medo. Será que você, exatamente por ser homossexual, não foi obrigado a olhar para dentro de si mesmo e entender medos e vontades das pessoas? Será que isso não pode te fazer um ator melhor? Será que, diante de tudo isso, você não tem um panorama mais complexo de vida e histórias humanas, algo que pode ser uma boa matéria-prima na construção de personagens?"

Em 2018, quando Bolsonaro deu voz a racistas e homofóbicos, o ator passou a sentir a necessidade de participar da luta em defesa da comunidade LGBTQ+, posicionando-se claramente a respeito. Começou a questionar seus próprios vínculos de trabalho com a Globo. Não seriam eles que o aprisionavam num "grande armário social e artístico"? Já no final de 2017, tinha trocado a Globo pela Netflix. Então surgiu a ideia de morar no Exterior e assumir-se como gay futuramente, longe do moralismo tacanha que se observa no Brasil bolsonarista movido a ódio.

Em 2019, mudou-se para Los Angeles e participou das séries Tidelands (australiana), Alto Mar (espanhola) e Cidade Invisível (brasileira), da Netflix. Após isso, foi produtor executivo do documentário CorPolítica, sobre quatro candidatos  à vereança em SP e RJ assumidamente LGBTQIAP+ e atualmente trabalha no projeto de um documentário sobre a história da Aids no Brasil.

A repercussão positiva do episódio da foto com o namorado serviu como um grande alento, diz ele, o que foi comemorado pelos dois e um grupo de amigos com um "porre" por parte dele. "E hoje me sinto invencível", diz o ator ao final da matéria da revista.


Mais sobre o ator-produtor:


Ainda esta semana em Cem Ideias |

01/fev, 3ª-feira - Armazém Dorneles
02/fev, 4ª feira - Das 100 músicas de que gosto mais
03/fev, 5ª-feira - Cabeças Pensantes
04/fev, 6ª-feira - Porto Alegre 250 Anos (4)



Imagem | Repórter Brasil, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, através da wiki Wikimedia Commons

28 janeiro 2022

CURIOSIDADES | Expressões alemãs/ Páscoa babilônica/ Origem dos brindes/ Fantasmas etc. e tal




Expressões do alemão (2)
Geh wo der Pfeffer wächst! = Vá pra onde a pimenta cresce!, ou seja, Vá plantar batatas!

Es ist mir Wurster! = Pra mim é linguiça!, ou seja, Pra mim tanto faz!


Pênis gigante
Numa pedra em Lagoa Santa (MG), alguém desenhou um pênis gigante datado de 8500 a.C.

Páscoa babilônica
Lá por 2000 a.C. os babilônios celebravam uma espécie de Páscoa em se comemorava o renascimento de Ishtar, deusa da natureza e da fertilidade, o que foi posteriormente adaptado pelos cristãos para a celebração da Ressurreição. O nome Ishtar originou a palavra easter, páscoa em inglês.


Brindes
O costume de brindar antes de beber tem origem na Antiga Grécia (1100 a.C). O anfitrião tomava a iniciativa de beber primeiro para provar que a bebida não estava envenenada. O hábito de erguer os copos juntos está ligado à antiga oferenda aos deuses. 


Mulheres e Olimpíadas
Nos Jogos Olímpicos da Antiga Grécia, as mulheres não eram permitidas de participar diretamente, como já se sabe (onde já se viu!...), mas pelo menos podiam ser consideradas vencedoras de uma corrida de biga, se fossem proprietárias dos animais. 


Fantasmas
No Livro de Samuel, da Bíblia, registra-se o episódio em que o rei Saul pede a um médium para evocar o espírito de Samuel, o qual acaba aparecendo coberto por um manto. Acredita-se que os fantasmas são retratados envoltos por um lençol em função disso.


Fonte |
Revista Mundo Estranho, de out/2017


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CURIOSIDADES | Cuecas brancas/ Expressões do alemão/ Línguas do mundo/ Insetos sentem frio? etc. e tal

27 janeiro 2022

CABEÇAS PENSANTES | A mulher negra/ Trabalhar por amor/ Brizola e a Educação/ A maior fé/ Salve-se a República!

 





Ser mulher negra

Ser mulher é difícil. Negra, ainda muito mais. Mas, se você parar porque é negra, não chega a lugar nenhum. Elza Soares, cantora (1937-2022)


Trabalhar por amor não é trabalho?

É uma mentira. O trabalho traz prazer e sofrimento, mesmo aquele que amamos fazer. Isso faz parte da vida. Fatores de estresse desnecessário são obrigação da organização mitigar. O trabalho pode ser e deve ser, e é para a maioria das pessoas, apesar de tudo uma experiência valorosa. Por que pensar que trabalho não é trabalho?
Carla Furtado, professora de Psicologia e pesquisadora, diretora do Instituto Feliciência, Brasília




Brizola e a Educação 

[Brizola] criou milhares de escola no RS e os famosos Cieps, escolas de turno integral no RJ e em alguns outros Estados. Ele, que foi o único brasileiro a governar dois Estados da federação, colocou em prática seu pensamento de que somente a educação  pública e de qualidade - pode dar igualdade de oportunidades para as crianças pobres em relação às que não são. Pedro Ruas, advogado e vereador em Porto Alegre



A maior fé

A maior fé seria acreditar nos homens. 
Carel Capek (1890-1938), escritor tcheco


É preciso salvar a democracia e a República

Mesmo que [Bolsonaro] seja derrotado nas urnas, a extrema direita não desaparecerá do mapa. O zumbi do bolsonarismo irá nos acompanhar por muitos e muitos anos. (...) A situação do Brasil é terminal. Não estamos falando de consolidar as instituições ou de ampliar os horizontes da democracia, mas de salvá-las da destruição. Fernando de Barros e Silva, repórter da revista Piauí


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CABEÇAS PENSANTES | Promessas mentirosas/ Prevenir e não remediar/ Sebo/ Fica decretado, etc. e tal. 

https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/01/cabecas-pensantes-promessas-mentirosas.html

25 janeiro 2022

HUMOR | Mário Quintana, o piadista/ BBB/ Amigos/ Verbo auxiliar/ Abacate/ Hoje na História

 




Mário Quintana, o piadista (2)

Dona Mafalda, esposa de Erico Verissimo, gostava de tricotar. Luvas de lã era uma de suas preferências. Com frequência, Mário Quintana, que costumava visitar o casal, ganhava um par. Vários pares de presente ao longo do tempo. Um dia ela ficou sabendo de um comentário dele sobre a amiga: "Essa Mafalda tem cada uma... Deve estar pensando que eu sou uma centopeia..."




- Capitão, vejo no binóculo a aproximação 
de uma tropa.
- São amigos ou inimigos?
- Devem ser amigos, capitão. Vêm todos juntos.




Dar, emprestar,
Avalizar:
Tudo verbo auxiliar.

Millôr Fernandes


Curiosidades da botânica



De todas as árvores frutíferas, só o abacateiro consegue dar abacates. Fraga



Hoje na história | 1692 - Na França, o verbo guilhotinar é incorporado à gramática, fazendo com que o povo francês cuide mais da língua. Fraga


Mais |
HUMORÍSTICAS (4) | Candidate-se!/ O sagrado direito dos vascaínos/ Quintana e o Ministro de Estado etc. e tal.

24 janeiro 2022

PORTO ALEGRE 250 anos (3) | Sesmarias às margens do Guaíba/ A chegada dos açorianos



Em 1680 os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento num tentativa de estender seu poderio rumo ao sul. Quatro anos depois, criou-se Laguna, como forma de sustentar suas intenções. Muitos de seus moradores começaram a pleitear a obtenção de uma das sesmarias oferecidas pela Coroa, com a intenção começar o processo de povoamento dos chamados Campos de Viamão, uma região que compreendia o nordeste do Rio Grande do Sul, entre o rio Mambituba (hoje divisa entre RS e SC) e a região do Lago Guaíba, limitando-se a oeste com o rio das Antas. 

Às margens do lago Guaíba, estabeleceram-se três sesmarias, entre elas a de Jerônimo de Ornellas, por muito tempo tido como "fundador" de Porto Alegre, fato rejeitado pela historiografia atual. Pensava em criar gado e não fundar alguma cidade, tanto é que posteriormente transferiu-se para a região de Triunfo. Sua sesmaria estendia-se entre o rio Gravataí e o arroio Dilúvio, então chamado de Rio Jacareí.

É importante frisar que nessa época, os guaranis já haviam se retirado da região, para fugirem das tentativas de serem aprisionados por caçadores de escravos provenientes de Laguna. Subiram o rio Jacuí para se estabelecerem na região central do atual Rio Grande do Sul.

Em 1750, graças ao Tratado de Madri, Portugal incorpora a região das Missões e decide enviar colonos açorianos para povoá-la, um plano que acabou não se concretizando, em função das Guerras Guaraníticas, nas quais os índios se recusavam a deixar a região missioneira. Porto Alegre surge apenas como um acampamento de migrantes açorianos que acabaram sendo entregues à própria sorte.

Em 1752, entre os meses de novembro e dezembro, desembarcaram no então Porto de Viamão, localizado na sesmaria de Jerônimo de Ornellas, mais precisamente no local onde hoje se localiza a Praça da Alfândega. Cansados, fracos, alguns atacados de varíola, acabaram se acomodando como podiam. Cada família construiu sua choupana de barro coberta de capim, iludidos pela promessa de uma vida melhor nas região das missões jesuíticas.

Fonte |
História Ilustrada de Porto Alegre, edição patrocinada pela CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica. Responsável pela publicação: Elmar Gomes da Costa (1997).

Mais |
PORTO ALEGRE 250 anos (2) | Os primeiros milenares habitantes (2ª parte)


Imagem | Monumento aos Açorianos (detalhe)
Carlos Nascimento, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, através da wiki Wikimedia Commons

21 janeiro 2022

O SOFRIMENTO que o Homem causa aos animais

 




"A jaula tem 1 metro de largura por 1,8 de comprimento. A porca reprodutora, um enorme animal de 140 kg, mal consegue se mexer ali dentro. Passa a vida inteira deitada, sem andar, com as patas atrofiadas. Ela só sai para parir - em outra jaula. Com menos de um mês, os filhotes são desmamados à força, e a porca é inseminada de novo. Esse processo se processa cinco, seis, sete vezes. Só para quando ela não consegue mais engravidar, e então é descartada como uma máquina velha."

Assim começa a reportagem (vide fonte) da qual extraí algumas informações a respeito do assunto: o homem ainda causa grande sofrimento aos animais, quer em função de seu sistema de alimentação, o que inclui o consumo de carne de animais, quer para pesquisas em laboratórios, além de outras razões, como a caça aos animais por simples esporte.

A reportagem continua com mais exemplos. Primeiramente refere-se aos coelhos trancafiados em laboratórios de pesquisa, nos quais são imobilizados, sem a possibilidade sequer de piscarem, enquanto substâncias são pingam em seus olhos. "A tortura pode durar horas ou dias a fio até que, no fim do teste, o animal é sacrificado - a morte boa que vem ao seu socorro."

O segundo exemplo refere-se aos pintinhos machos, que não são do interesse de serem criados nas granjas, porque demoram mais para engordar. Seu destino, ao nascer, é o de serem metidos em sacos plásticos ou moedores para que tenham uma morte motivada por sufocação ou sejam simplesmente estraçalhados vivos.

Há ainda uma terceira situação mencionada, igualmente bastante cruel, que tem a ver com a sorte das aves, principalmente as galinhas. Segundo a FAO, a divisão da ONU ligada à alimentação, criam-se 19 bilhões de galinhas por ano. "A imensa maioria vive confinada, ocupando espaço menor do que um caderno. Muitas não veem a luz do dia. Estressadas, elas atacam e ferem umas às outras, o que os criadores tentam evitar recorrendo a uma prática medieval: fazem a chamada debicagem, ou sejam, cortam a ponta do bico dos animais."

E por último, uma quarta, sobre as vacas. Em fazendas de criação intensiva, a novilha é inseminada aos 15 meses de idade e seu destino é ter uma gestação todos os anos, com a finalidade de produzir muitas vezes até 50 litros por dia. Tal escorço, diz a reportagem, pode ser comparado ao de um maratonista que viesse a correr diariamente. No caso das vacas, não suportam tal exigência e acabam morrendo aos 5 ou 6 anos de idade, quando poderiam viver 20.

É claro que outros exemplos poderiam ser citados, como a situação que envolve os abatedouros de animais pelo mundo afora. Felizmente, inovações científicas e tecnológicas têm amainado de alguma forma o problema, como o surgimento da carne de laboratório (veja linque abaixo), mas evidentemente estamos longe ainda de uma vivermos num mundo em que o homem não inflija sofrimento aos animais, seres completamente indefesos. O processo de conscientização quanto a isso segue em frente. 


Fonte |
Maus-tratos as animais, reportagem de Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni publicada na revista Superinteressante nº 395 de nov/2018

Mais |
O consumo de carne de animal está sendo substituído pela carne da laboratório


20 janeiro 2022

ELZA SOARES (1937-2022) | Voz da Resistência

CABEÇAS PENSANTES | Promessas mentirosas/ Prevenir e não remediar/ Sebo/ Fica decretado. Etc. e tal.




Chega de promessas mentirosas!

Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.
Txai Suruí, 24 anos, brasileira, ativista dos Direitos Humanos, em seu discurso na Cop26 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática


O jeitinho brasileiro em ação

Em 2013, acusado de matar Eliza  Samudio, Bruno Fernandes das Dores de Souza foi condenado a 20 anos e 9 meses de prisão por homicídio triplamente qualificado - e não por feminicídio. Ficou 8 anos e 10 meses preso em regime fechado. Em 2019, passou para o regime semiaberto domiciliar.
Paula Ramón, em O carrasco em casa, reportagem da revista Piauí/183 em que apresenta exemplos da dificuldade do Brasil para caracterizar o feminicídio


Até quando?

Quando é que ser brasileiro vai parar de doer?
Martha Batalha, escritora, em artigo em Piauí/183 sobre a morte da cantora Marília Mendonça




Sebo

Quando eu morrer, não quero ir para o céu: 
quero ir para um sebo.
Frase atribuída a Ruy Castro, jornalista


Suborno e ameaça

O que é o céu senão um suborno? 
O que é o Inferno senão uma ameaça?
Jorge Luis Borges, escritor


Prevenir ao invés de remediar

Culpar a natureza [sobre desastres naturais] é apenas um jeito de desviar da responsabilidade que todos temos que evitar que isso ocorra. Cheias acontecem, mas pessoas morrerem ou ficarem desabrigadas não é, nem pode ser, natural. Claro, todos podemos reagir a um desastre, participar da ajuda às pessoas, e muitos fazem isso. Mas políticas públicas não podem ser reativas; precisam ser criadas e aplicadas pensando em prevenir, ao invés de remediar.
Cristina Bonorino, imunologista, em seu artigo Desastres, publicado em sua coluna do jornal Zero Hora, de 15-16/jan/22




Fica decretado

Fica decretado que agora vale a verdade
Que agora vale a vida
e que de mãos dadas
trabalharemos todos
pela vida verdadeira

Thiago de Mello (1926-2022), poeta brasileiro, em Os Estatutos do Homem (fragmento)


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CABEÇAS PENSANTES | O poder da linguagem/ Água tratada para lavar carro?/ Poder perpetuado? Etc. e tal. 

 

18 janeiro 2022

ARMAZÉM Dorneles | "O Mapeador de Ausências"/ Vou ser rebelde!/ Água tratada pra lavar carro?...

 




Andanças 
literárias

Até ontem, encontrava-me em Beira, interior de Moçambique, em meio às páginas de O Mapeador de Ausências, o novo romance de Mia Couto, editado no Brasil pela Companhia das Letras, cujas 279 páginas acabei terminando de ler na parte da noite, depois de mais uma chuva preocupante em Porto Alegre, com direito a muita trovoada e vento forte. Desta vez não faltou luz, como na chuvarada de final de tarde no dia anterior. Mas enfim, foi meu primeiro contato com a literatura moçambicana e Mia Couto merece o prestígio que alcançou como escritor. Como diz a contracapa, "neste romance de grande fôlego, Mia Couto se inspira na figura de seu pai e nas memórias da própria juventude para criar uma história que se descoloca entre a Moçambique pré-independência e os dias atuais". O tipo de obra literária que nos distrai como boa leitura, nos fornece novos conhecimentos e nos estimula a reflexões. Fica a sugestão.

Alguns fragmentos do livro:
"Li em algum lado que a eficiência da mentira diz mais da ingenuidade do enganado do que da arte do mentiroso." (Em carta da avó do protagonista a ele, quando jovem.)

"Bom, era assim antigamente. Agora já nem sei, o mundo anda todo ao descontrário." (Personagem Arlito, pescador)

"- Você gosta de mim, Capitine? - perguntou a mulher.
- Agora estou a comer, resmungou Capitine.
- Mas gosta? - insistiu ela.
- O que se passa agora? Eu já te disse quando a conheci. Ou ganhaste a mania dos casais dos brancos que passam a vida a perguntar se gostam um do outro?"

"O meu irmão mais velho era conhecido na vizinhança como o "sísmico". - O miúdo sofre é de epilepsia - corrigiu o homem da farmácia. Epilepsia? O farmacêutico que escolhesse outra enfermidade." (Carta do personagem Óscar Campos, inspetor, para um de seus superiores)




Minhas ideias 
regadas a vinho

Nunca tive um temperamento rebelde. Pensando bem, um pouco de rebeldia não faz mal a ninguém. Ah, já sei! Vou passar a usar acento em pára novamente.

Cada vez que pára a chuva e abro as janelas de novo, volta a chover. Aí tem coisa!

Certos consertos que se fazem em casa custam o valor de um bilhete de concerto.

Gaia recorre aos 4 elementos - terra, ar, água e fogo - para reagir contra o desrespeito humano contra ela durante séculos. Aliás, vivem-se hoje os últimos tempos de uma economia baseada no consumismo. Dias virão, não muito longe de nós, em que poupar estará entre as maiores preocupações do homem.

Por falar em: água tratada para lavar carros e calçadas? Pois sim! A tecnologia está aí para passarmos a utilizar a água da chuva em uma série de situações diferentes.


Mais |
MINHAS IDEIAS regadas a vinho (24) | Planeta primitivo/ O Coirmão na estrada/ "Heróis da Pátria"/ Gaia reagirá




17 janeiro 2022

PORTO ALEGRE 250 anos (2) | Os primeiros milenares habitantes (2ª parte)

 




Vimos na primeira parte desta série de postagens alusivas aos 250 anos de Porto Alegre a serem comemorados em março deste ano que tribos indígenas já habitavam o Rio Grande do Sul já há 12 mil anos atrás. Há pelo menos 3 mil anos, caçadores coletores já viviam na região às margens do lago Guaíba, que banha a cidade. O panorama alterou-se com a chegada de invasores guaranis, vindos do norte do Brasil mil anos depois. Estes eram horticultores.

Os europeus que chegaram nos séculos 15 e 16, depararam-se além do mais com índios charruas, minuanos e caingangues. Muitos foram simplesmente exterminados, outros foram absorvidos pela sociedade colonial que erguia suas bases. Parte deles "criaram mecanismos de resistência ao processo de dominação, mantendo-se até hoje como grupos étnicos, isto é, com usa língua, organização social e cultura". (Vide fontes)


Como viviam

Os guaranis que habitavam a região de Porto Alegre viviam em ocas feitas de troncos e cobertas de palha. Eram de dois tamanhos: uma menor, um poderia viver cerca de 12 pessoas e outra maior, 24 pessoas. Calcula-se que uma aldeia podia atingir a marca de 300 habitantes. No centro da aldeia, a vida social se manifestava: espaço para danças, prática de esportes e que servia também para se beber junto com os companheiros.

Sob os cuidados das mulheres, nas roças plantavam-se milho, feijão, abóbora, batata doce, além de fumo e algodão. Adivinhe o que os homens faziam... Iam à caça para abaterem capivaras,  ratões-do-banhado, veados, preás, ouriços e outros animais. Ou pescavam no Guaíba bem como em riachos. Sentiam-se proprietários apenas dos bens pessoais, como a rede de dormir, suas armas, adornos, utensílios de cerâmica. O território em que viviam era visto como algo de propriedade coletiva. Sim, os guaranis eram "comunistas"... Próximo às ocas, havia o cemitério, onde enterravam seus mortos numa urna de cerâmica, sendo que o cadáver era colocado em posição fetal. Acreditavam que um ser mítico tivesse retirado o primeiro homem de um recipiente de cerâmica.

Canibalismo

Tem-se como certo que os guaranis que habitavam a região do Parque Estadual de Itapuã, no município de Viamão, vizinho ao de Porto Alegre, exerciam a prática do canibalismo. As provas foram encontradas junto ao encontro do lago Guaíba com a Lagoa dos Patos, tendo como base a existência de ossos humanos misturados a restos de comida verificados em um dos sítios arqueológicos da região. A antropofagia era uma prática comum na cultura guarani, com provas inclusive coletadas em outras regiões do Estado.


Lagoa dos Patos. O Guaíba representa seu "braço" à direita.


Fonte |
História Ilustrada de Porto Alegre, edição patrocinada pela CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica. Responsável pela publicação: Elmar Gomes da Costa (1997)

Porto Alegre: Uma história em três tempos. Edição sob a responsabilidade do Museu de Porto Alegre José Joaquim Felizardo (1998)

Mais |
PORTO ALEGRE 250 anos (1) | Os primeiros milenares habitantes


Imagem 1 | 
Herrmann Rudolf Wendroth (18??-18??); a German mercenary who fought for Brazil in the Platine War (1851-52), Public domain, através da wiki Wikimedia Commons

Imagem 2 |
NASA/GSFC/LaRC/JPL, MISR Team, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons

14 janeiro 2022

NÃO OLHE PARA CIMA | "O cometa da alienação se aproxima de nós"

2016 | Minha chegada a Roma (vídeo)

APRIMORE seu esperanto (02) | Sinônimos/ Enriqueça seu vocabulário/ Notas gramaticais

 





Sinônimos

ekskremento - fekaĵo - merdo
epoko - erao - periodo
gvdi - direkti - estri
ofte - multfoje, plurfoje
senco - signifo



Enriqueça seu vocabulário

arroto = rukto
babador = salivtuko
cadeira de rodas = rulseĝo
carrinho de bebê = sidĉar(et)o
chupeta = suĉilo
passa = sekvinbero
rolo de massa = rulpremilo
sótão = subtegmento


Notas gramaticais

o francês = la Franca (lingvo)
o japonês = la Japana (lingvo)


a cor verde: verdo
 pintou a parede de verde = li/ŝi farbis la muron 
per verdo

Acabei o trabalho. = Mi finis la laboron.
O trabalho acabou. = La laboro finis.

Se disséssemos La laboro finis, seria o caso de perguntar: "O trabalho acabou o quê?". O trabalho não acabou nada...

O professor começou a aula. = La instruisto komencis la lecionon.

Se disséssemos La leciono komencis, seria o caso de perguntar: "A  lição começou o quê?". A lição não começou nada...


Fontes |

Detala Gramatiko de Esperanto, de Bertilo Wennergren (E@l pere de Espero, 2012)
Esperantaj Sinonimoj, de Jaan Ojalo (UEA, 1999)
Gramática Completa do Esperanto, de Geraldo Mattos (Fonte, 1987)
Hejma Vortaro:


Mais |
APRIMORE seu esperanto (02) | 
Como dizer/ Sinônimos/ Gramática 

13 janeiro 2022

CABEÇAS PENSANTES | O poder da linguagem/ Água tratada para lavar carro?.../ Poder perpetuado? etc. e tal.

 




A linguagem fez a diferença

O doutor em linguística Aldo Bizzocchi diz em seu livro o Universo da Linguagem que "a linguagem verbal articulada propiciou, sobretudo nos últimos dez mil anos, um avanço cultural mais rápido do que o verificado nos vários milhões de anos anteriores" e que "a capacidade de nos expressarmos com palavras, de sermos compreendidos e de escrever, é o principal salto evolutivo da nossa espécie".
Elói Zorzetto, jornalista




Água é vida

Na luta corpo a corpo da sociedade de consumo, acabamos perdendo certas noções básicas. Água é vida. O planeta tem milhões de anos, mas só passou a ter vida com a água. Desperdiçamos, porém, nosso bem mais precioso, o único realmente vital. Lavamos calçadas e carros (ou regamos jardins) com água tratada, a mesma usada no banho e na cozinha. Os edifícios não recolhem água da chuva nem foram planejados para isso. 
Flávio Tavares, jornalista


Posicionamento

O [escritor Guimarães Rosa] sempre falava que o que a vida pede da gente é coragem. Peço licença a ele para dizer que o que a vida pede da gente é posicionamento. A gente tem que se posicionar diante das coisas, com todos os bônus 
e ônus que isso traz.
Aline Midley, jornalista apresentadora do Jornal das Dez


Poder perpetuado

Nosso risco maior não são golpes militares, mas modelos como a Turquia e a Rússia, em que um presidente se perpetua no poder por meio e eleições fraudulentas nas quais seus opositores são todos desqualificados, perseguidos, presos ou assassinados. Não estamos ainda bem nesse nível aqui no Brasil - reitero, muito por causa do STF-, mas acho que em vários momentos a gente correu riscos muito sérios.
Antonio Hohlfeldt, jornalista e professor


Algazarra

O varejo da algazarra política engole tudo 
que deve ser seriamente discutido. 
A conta de nossas distrações chegará.
Eugênio Esber, jornalista e escritor


Mais |
CABEÇAS PENSANTES (25) | Brincar de morrer/ Uma esperança/ O "brasileiro médio" tem agora sua voz...

11 janeiro 2022

"Horse"

 



O primeiro dicionário polonês (publicado em 1746) incluía definições como: "Cavalo: Todos sabem o que é um cavalo."

HUMOR | Candidate-se!/ O sagrado direito dos vascaínos/ Quintana e o Ministro de Estado etc. e tal

 




Candidate-se. Por mais idiota que você seja sempre haverá um número suficiente de idiotas maiores do que você para acreditar que você não o é.

Millôr Fernandes, o grande filósofo nascido no Méier

TODO HOMEM
TEM O SAGRADO DIREITO
DE TORCER PELO VASCO
NA ARQUIBANCADA DO FLAMENGO.

Idem. Deveria ser incluído, salvo melhor juízo, como adendo 
à Declaração Universal dos Direitos Humanos, extensivo às demais torcidas, exceto a do Co-irmão daqui de Porto Alegre, a qual, convenhamos, não sabe se comportar direito... :-)


Sabe o que o melão estava fazendo de mãos dados com o mamão perto de Copacabana?
Levando o mamão papaya.


O pai de Joãozinho disse a ele:
- Se você tirar nota baixa na prova de amanhã, me esqueça!
No dia seguinte, quando Joãozinho voltou da escola, o pai perguntou:
- E aí, como foi na prova?
Joãozinho respondeu:
- Quem é você?

Por que o pinheiro não se perde na floresta?
- Porque ele tem um mapinha.

Perdão, leitores...

Minha vó começou a andar 5 km por dia quando ela tinha 70 anos. Agora ela está com 85 e não fazemos ideia de onde ela está.





Mário Quintana, o piadista

Em seu pequeno livro Ora bolas: o humor de Mário Quintana, através da editora L&PM, o jornalista Juarez Fonseca compilou 130 historinhas da vida de Mário Quintana, conhecido pela sua veia satírica. Uma delas está relacionada com algo ocorrido quando o poeta do Alegrete, tchê, estava autografando um de seus livros para um grupo de crianças na fila quando foi apresentado a um Ministro de Estado que encontrava-se de passagem em Porto Alegre. 
- Gosto muito dos seus versinhos, disse o sujeito, tentando ser gentil.
Quintana, "com uma expressão típica de incredulidade", registrou o jornalista, aproveitou a deixa e lascou:
- Muito obrigado pela sua opiniãozinha.



Mais |

HUMORÍSTICAS (3) | A coisa mais rápida/ Duas galinhas estão fazendo café/ Por que o policial não usa sabão? E mais.