29 setembro 2022

MOÇAMBICANOS rejeitam sua cultura autóctone | SP: tempestades de poeira | O PT abandonou as bases. E mais.

 




ACULTURAÇÃO | Moçambicanos rejeitam

sua cultura autóctone - "Por incrível que pareça, no meu país, falar de africanismo é quase um tabu" - afirmou a escritora moçambicana Paulina Chiziane, 67 anos, ganhadora do Prêmio Camões em 2021, em palestra sua na primeira Feira Literária Brasil-África, realizada em Vitória, ES. "Os africanos independentes ainda produzem os estereótipos do colonizador sobre si mesmos. Todo negro que foi submetido à dura repressão colonial começa a olhar-se com medo de si próprio", acrescentou. O temor de se sentirem ultrapassados obriga-os a rejeitarem suas formas originais de prática religiosa, bem como sua medicina tradicional e sua forma de pensar, desvalorizando-as em nome do legado europeu, a fim de se sentirem modernos...

Fonte: Com a força da água, matéria de José dos Remédios, publicada em Piauí de set/22 


ECOLOGIA | São Paulo: 

tempestades de poeira - São Paulo teve sua vegetação nativa reduzida a 8% no fim do século XX. Hoje enfrenta tempestades de poeira no norte do estado, provocadas pela terra solta decorrente de um modelo de agricultura insustentável. O cerrado paulista está em extinção, com fortes sinais de desertificação (...). > Fragmento da matéria Abrace um árvore, de Carlos Bocuhy, publicada em CartaCapital de 28/set/22


Mafalda


- Domingo, vote pelo Futuro e não pelo Passado!


TELEVISÃO | Fora da Globo - Eu fui mandada embora [da Globo] em março de 2020. Levei um susto. Cheguei em casa, chorei um pouquinho e falei: Quer saber? Vou tomar vinho. Tomei meu vinho, me acalmei e pensei: não tem volta. Depois, eu comecei a ficar muito feliz. Novela é uma coisa que não me atrai mais, não. Mas, se vier um bom personagem... Porque agora eu posso escolher. (...) É preciso se adaptar a uma nova realidade em todos os sentidos. > Vera Fischer, atriz, 70 anos, em entrevista para a coluna de Mônica Bergamo publicada na Folha de S. Paulo de 18/set.22


POLÍTICA | O PT abandonou 

as bases - "Um efeito colateral dos governos do PT foi a perda de contato com as a rua", escreveram Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago em seu artigo Transgressões do Populismo (Piauí, set/22). Segundo eles, a inserção muitos militantes na máquina pública, os movimentos sociais passaram a receberem menores atenções ou até mesmo ignorados, "além de manter o governo alheio a mudanças nos próprios movimentos sociais". Sirva-se de lição.


IDEIAS | Cabeças Pensantes - E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico(Almeida Garret) *** A nossa escolha não tem que ser feita entre socialismos que foram pervertidos e capitalismos perversos de origem, mas entre a humanidade que o socialismo pode ser e inumanidade que o capitalismo sempre foi. (José Saramago)


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https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/09/fake-news-telegramicas-delegado-da-pf.html


26 setembro 2022

FAKE-NEWS telegrâmicas... | Delegado da PF sobre Bolsonaro | Vera Magalhães sentiu na própria pele. E mais.

 




INTERNET |  Fake-news

telegrâmicas... - A jornalista Vanessa Bárbara passou duas semanas passando os olhos por mensagens em saites de (ultra)direita no aplicativo Telegram, que permite grupos com até 200 mil membros* e canais ilimitados de inscritos, "onde reina uma espécie de vale-tudo moral e epistemológico", como comentou no início de sua matéria para a revista Piauí (vide fonte) a respeito da questão.
"Em grupos públicos e canais do Telegram é possível encontrar, sem esforço, um vasto conteúdo antissemitista, racista, misógino, homofóbico, de apologia ao nazismo e à tortura." - observou ela.

Vejamos, a título de exemplificação, algumas "pérolas" encontradas pela jornalista: "Basta pesquisar um pouco - inclusive na Bíblia - para ter certeza que a terra é plana e estacionária. /// "Crianças consumindo cocaína escola. Este é o projeto de Lula para as crianças da tua família. E você, vai permitir que Lula faça isso contra as crianças? /// "Analistas políticos internacionais afirma que Bolsonaro passará de 100 milhões de votos." /// "As vacinas da infância castram o intelecto, condicionando a mediocridade e incapacitam fisicamente e matam!!! Nenhum vida em toda a história humana for salva por vacina". /// "Quem aprovar a lei do incesto". /// "Desconfie de tudo que você sabe sobre cosmologia, astrofísica, arqueologia, geologia, antropologia, ciência, filosofia e religião". 

Bem, deixei por fim uma brilhante sugestão para o candidato à reeleição: a de que Bolsonaro abra uma conta bancária para que seus eleitores façam um Pix no valor de 1 real. "Aposto que teremos nessa conta mais de 70 milhões de reais em depósito, ou seja, 70 milhões de eleitores reelegendo o presidente. Teríamos como o recibo do Pix uma espécie de VOTO IMPRESSO pra contestar uma POSSÍVEL FRAUDE ELEITORAL", explica o internauta. Enfim, uma ideia única e inigualável!...

* Comparando: No WhatsApp, grupos podem ter no máximo 256 participantes.

Fonte: "Híbridos zumbificados interagem com o 5G", reportagem de Vanessa Barbara publicada em Piauí de set/22




Cabeças Pensantes | O bolsonarismo é uma coisa tão absurda que temos que ter um pensamento pró-civilização. Não se pode usar como parâmetro para nada. Ele é obscurantismo, negacionismo. É tudo de ruim. A gente não precisa ser anti-Bolsonaro. Mas sim a favor da civilização, da vida. (Alexandre Saraiva, delegado da Polícia Federal, ex-superintendente da PF no Amazonas), em matéria da a Folha de S.Paulo de 18/set/22)


IMPRENSA | Sentindo na própria pele - A jornalista Vera Magalhães (TV Cultura), vítima de uma ataque verbal e quase físico por parte de um deputado bolsonarista semanas atrás, mereceu toda empatia e apoio posterior em função do que sofreu. De qualquer forma, como lembrou Milly Lacombe em sua coluna no UOL, Vera, por outro lado, em tempos recentes, também agiu de forma condenável: 

"Quando a caravana de Lula foi recebida a pauladas no Sul do Brasil, Vera disse que pedradas faziam parte da política. Quando Lula foi ao velório de dona Marisa, Vera debochou e sugeriu que nos casássemos com alguém que não fosse fazer comício em seu velório. Quando Manuela D'Ávila foi 62 vezes interrompida no Roda Viva, Vera disse que era do jogo e que estava acostumada a atuar em ambientes cheios de homens, indicando que Manuela fazia drama (...). Quando Boulos foi contratado como colunista da Folha, Vera democraticamente sugeriu que ele fosse desligado, dado que, segundo ela, Boulos estava associado ao banditismo".

Vera Magalhães sentiu na própria pele... 



Curiosidades | No português lusitano, camisinha é durex que se diz. Durex é fita-cola. Vejamos outras palavras: cafezinho: bica, fila: bicha, homossexual: paneleiro, pãozinho francês: cacete, grupo de crianças: canalhas, calcinha: cueca, ficar menstruada: estar com histórias, dentista: estomatologista, garis: almeidas, sanitário: salva-vidas, cego: invisual, chiclé: pastilha elástica, injeção: pica, feira de artesanato: feira da ladra, contundir-se: magooar-se, imposto: propina, tesão: ponta, Alô?: Está?



FONTE: Pílulas de Sabedoria Instantânea da Professora Etelvina, de Max Gehringer (Ed. Globo, 2009)


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22 setembro 2022

O MITO do agronegócio | Às voltas com o imperativo | Do anedotário da vida de Mário Quintana | Mafalda

 




ECONOMIA | O mito
do agronegócio - Para muitos, "o agronegócio é o Brasil que dá certo", como afirmou o economista Roberto Gianetti da Fonseca em uma palestra na Agrishow, tida como maior feira de tecnologia agrícola do hemisfério sul, em Ribeirão Preto (SP). "Cresce com uma taxa positiva, fantástica. Um sucesso absoluto", acrescentou. Alardeia-se, aliás, aos quatro cantos, o dado segundo o qual o agro é responsável por 27,4% do PIB nacional. Na verdade, as coisas não são bem assim. Segundo o IBGE, os índices, a rigor, não passam de 7%. Por quê? Simplesmente porque a metodologia aplicada aos 27,4% baseia-se naquela adotada pelo agribusiness norte-americano, que leva em conta toda a cadeia econômica envolvida no campo. "Por toda a cadeia econômica entenda-se até prego enfiado no mourão da cerca. Até o medicamento do cavalo, a gasolina do caminhão que vai para o porto. Até o empréstimo que a fábrica de móveis contraiu" - exemplificou Marcos Emílio Gomes em sua matéria "O agro é top", publicada na revista Piauí de outubro.

LÍNGUA | Às voltas com o imperativo... - De há muito que o paradigma dos pronomes pessoais do português brasileiro é o seguinte: eu - você (tu) - ele/ela - nós - vocês - eles/elas. Não há nenhuma razão para continuar sendo apresentado com a presença do pronome "vós", um arcaísmo na língua. É compreensível que se leve em conta sua existência para os alunos, mas como observação à parte. Ele é um corpo tão estranho que em cenas de  novelas, minisséries e filmes de época, como observei outro dia, na minissérie Inteligências, da TV Cultura, nem os atores, que deveriam memorizar previamente as formas do imperativo, dão conta do recado.


Mafalda
 

- Hoje de novo é dia de TDF - 
Tensão Pré-Datafolha!


HUMOR 😀 | Quintana,
o espirituoso - Luis Fernando Verissimo conta que certa vez encontrou-se com Mário Quintana no hotel Canadá, em Copacabana, onde este sempre se hospedava quando ia ao Rio. O poeta, sempre espirituoso, contou a ele que a coisa de que mais gostava na cidade era entrar em túnel, uma oportunidade de descansar da paisagem... *** Certa vez perguntaram a Quintana por que tinha saído de Alegrete, cidade onde nasceu. "Lá quem não é estancieiro é boi. Como não tenho nenhuma vocação para as duas coisas, vim para Porto Alegre!" - respondeu. *** Em 1967 Mário Quintana foi ao Alegrete, na época já um poeta bastante conhecido. Acabou encontrando-se ao acaso na rua com um general, um tipo conhecido pela sua grosseria. "Então, Mário, quem te viu, quem te vê! Ontem as borracheiras, hoje um poeta nacional! - exclamou o homem, tentando ser gentil e sabendo que Quintana no passado apreciava uma boa bebida. Mário não gostou da alusão e respondeu: "Então, general: quem te viu e quem te vê: sempre a mesma coisa!"

Fonte: Ora Bolas, de Juarez Fonseca (L&PM, 2007)


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Revolução Farroupilha (1835-1845):
História versus mitos
 

17 setembro 2022

ESPÍRITAS lançam manifesto contra Bolsonaro





A Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e Espíritas à Esquerda divulgou recentemente um manifesto endereçado aos espíritas em geral para não votarem em Bolsonaro:


Manifesto Espírita sobre a eleição presidencial em 1º turno

Nós, espíritas, abaixo assinados, vimos ao público em geral e às comunidades espíritas em particular para nos posicionarmos sobre a eleição presidencial de 2 de outubro de 2022 afirmando que os espíritas NÃO devem votar no atual presidente da República. E tal posicionamento se dá em função de:

a) o espiritismo possuir caráter essencialmente progressista, conforme textos de Kardec, como se lê, por exemplo, em “A gênese”, nos itens 10, cap. IV; 56, cap. XVII; e 24, 25, 28 e 30, cap. XVIII. E esse caráter progressista, colocado como lei no cap. VIII da parte III de “O livro dos espíritos” (LE), está ligado ao respeito e ao fomento das ciências, incluindo as ciências sociais, a à educação como base de nossas relações;

b) que “numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”, como afirma a resposta à questão 930 de “O livro dos espíritos”, mostrando-nos que a justiça social é parte indissociável das propostas espíritas, pois “Deus fez o homem para viver em sociedade” (LE766) e que “todos devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente” (LE767).

c) que o primeiro de todos os direitos naturais é o de viver, como nos diz a resposta à questão 880 de “O livro dos espíritos”, e que tal direito é oposto à disseminação de armas e à falta de cuidados com a saúde da população;

d) que o compromisso com a vida se estende necessariamente aos seres que compartilham conosco o planeta que nos acolhe, sendo, portanto, essenciais o cuidado e a manutenção de todos os biomas naturais para a preservação da fauna e da flora;

e) que o espírito imortal não tem sexo, gênero, etnia ou nacionalidade e que, portanto, torna-se premente a superação da discriminação social que aflige grande parte da população, como o racismo, a LGBTfobia, o machismo, o capacitismo e todas as demais formas de discriminação e preconceito;

f) que a “justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais” (LE875) e que “o forte deve trabalhar para o fraco. […] É a lei de caridade” (LE685), não sendo possível, portanto, pactuar com a contínua e opressiva cassação de direitos básicos de trabalhadoras e trabalhadores; e

g) que, como a laicidade do estado é um pilar das sociedades contemporâneas, as pautas sociais discutidas nos parlamentos e na própria sociedade devem-se pautar exclusivamente pela ciência e pelo interesse social, excluindo-se quaisquer interferências de credo nesse debate.

Diante dessas premissas fundamentais do espiritismo e do fato de o atual presidente não se alinhar a NENHUM desses princípios, entendemos que o avanço da sociedade brasileira só será possível mediante a superação desse trágico momento social em que vivemos no Brasil e que isso passa necessariamente pela NÃO reeleição desse grupo ora no poder, pois o amor ao próximo e a justiça social estão justamente no seu lado oposto.

15 setembro 2022

REVOLUÇÃO FARROUPILHA (1835-1845): História versus mitos

 


Alegoria Farroupilha, aquarela sobre papel, colado em papelão, 
cuja autoria é atribuída ao Pe. Francisco das Chegas Marins Ávila 
e Sousa, o Padre Chagas. Faz parte do acervo do Museu Júlio 
de Castilhos, de Porto Alegre.

"A partir da década de 1970, levas de trabalhos de historiadores lançaram um olhar crítico, fruto de pesquisa sistemática de fontes históricas, sublinhando o caráter elitista do levante Farroupilha [1835-1845]. Uma guerra que dizia respeito a uma parcela dos estancieiros sulinos, aferrada ao latifúndio escravocrata e rechaçada em diversas regiões do Estado, inclusive por Porto Alegre" - comentou o historiador Éder da Silveira, da UFCSPA em artigo no jornal Zero Hora (set/2020). Os revolucionários contaram ainda com o apoio de militares ligados ao movimento de abdicação de Pedro 1º e por isso postos na "geladeira", tendo sido transferidos para o extremo sul. Na verdade, ao final do séc. 19, a população pouco gostava de lembrar de uma guerra perdida, na qual morreram algo em torno de 3.000 pessoas, segundo estimativas nada seguras. Com o advento da República, tal como a Conjuração Mineira, sua memória foi resgatada, no sentido de valorizar-se todos os movimentos do passado que de uma forma ou de outra valorizaram o ideal republicano, mas que na prática, a rigor, sobretudo atendia aos interesses particulares das elites agrárias relacionadas com a produção de charque, insatisfeitas com a política tributária da Corte, indiscutivelmente bastante injusta, que prejudicava a concorrência com o produto produzido pelos países do Prata. Além disso, havia o conflito entre liberais, que propugnavam um maior autonomia das províncias em oposição ao caráter centralizador da Constituição de 1824.* 

Mais tragédias do que heroísmo | Para o jornalista, historiador, escritor e professor Juremir Machado da Silva, o conflito revestiu-se mais de tragédias do que o tão decantado heroísmo

"A guerra civil teve de tudo, às vezes um grupo tombava prisioneiro e era executado sumariamente, eles eram impiedosos. Teve execuções sumárias, saques em fazendas, estupros, muita corrupção. Então, teve algumas batalhas em que os homens demonstraram valentia, heroísmo. Mas também teve muita vilania, muita crueldade, muita ganância, muito jogo de poder em nome de poucos". 

- afirmou ele em entrevista sobre o tema e reproduzida no saite do jornal Brasil de Fato (set/2019).


O massacre de Porongos | Em seu livro História Regional da Infâmia, a respeito do episódio que ficou conhecido como o Massacre de Porongos, Juremir retrata a traição sofrida por parte dos negros escravizados que lutaram ao lado dos farroupilhas sob a promessa de liberdade após a guerra. Quando a guerra acabou, simplesmente foram entregues ao exército adversário para continuarem como escravos na corte imperial. Atualmente o vergonhoso episódio passou a ser objeto de atenção nas aulas de história das escolas.




Porto Alegre:  Uma cidade sitiada 
por 4 anos Entre 1836 e 1840 as tropas farroupilhas impuseram um cerco a Porto Alegre, que sofreu diversas restrições e situações até mesmo de fome principalmente vividas pela população mais pobre. Tiroteios, combates e ataques noturnos faziam parte do contexto da guerra. O evento foi pouco lembrado pela historiografia oficial, ocupada em ver o conflito apenas sob a ética dos revolucionária. A cidade tinha boas relações comerciais com o Rio de Janeiro e o empenho de seus habitantes de resistirem ao cerco mereceu da parte do governo central do Império, em 1841, o título de "Leal e valorosa cidade de Porto Alegre", ostentado até hoje em seu brasão. Vale lembrar que outras cidades importantes da região leste do Estado, como Pelotas e Rio Grande, seguiam o posicionamento da capital da província, as três unidas por interesses econômicos que pouco tinham a ver com os da região agropastoril dos pampas.

Enfim, a historiografia oficiosa sempre levou em conta o posicionamento ideológico das classes dominantes. Só que a História não é uma coisa estática e nenhum relato é definitivo, ainda mais pelo fato de que nos últimos tempos novas luzes foram e são lançadas sobre ela graças a uma pesquisa mais séria e aprofundada. De qualquer forma, não se trata de menosprezar os motivos compreensíveis da Revolução, também chamada de Guerra dos Farrapos, levando em conta o contexto histórico, mas sem conjugá-los com uma postura ao mesmo tempo mitificante.



Imagem da Alegoria Farroupilha | Ricardo André Frantz (User:Tetraktys), Public domain, através da wiki Wikimedia Commons


POR QUE Lula incomoda? | Genocida em placa de rua | Para escapar do Xandão. E mais.

 


Amazônia

Secos & Molhados  | Em meu bairro, na zona norte de Porto Alegre, há uma rua chamada Bezerra de Menezes. Na placa, abaixo do nome, em tipos de letra menores, a inscrição "Designação de logradouro consagrado (sic) pelo uso". Custava apresentar o costumeiro dado biográfico sobre o homenageado? Já em bairro próximo, Rua Fernando Cortez. Nada mais a não ser o nome. Também pudera! Como iriam escrever algo do tipo "Invasor genocida espanhol"? 😰 *** A CNN ao longo da programação anunciava uma "entrevista" com o Lula. O que se viu foi um verdadeiro inquérito, comandado pelo "entrevistador", ex-global, envolvido num caso de racismo tempos atrás, diga-se de passagem. Nada de perguntas inteligentes sobre seu plano de governo. Interesses maiores comandam o espetáculo. *** A produção da novela Despedida de Casal (Globo, 1977), com Cláudio Marzo e Regina Duarte, foi suspensa após vinte capítulos gravados. Motivo? Falava sobre divórcio!... 😨 
 

Deu no Twitter 😀

Hoje é um dia histórico pois, diante de atitudes que levam à banalização do mal, é necessária a união política e programática daqueles que querem salvaguardar a democracia, melhorar a vida do nosso povo e proteger nossos bens materiais.
> Marina Silva. @MarinaSilva


ELEIÇÕES | Por que Lula incomoda? - Essa ideia monárquica e aristocrática que as elites alimentam sobre as instituições brasileiras parece ser o melhor caminho para explicar o seu ódio a Lula. O líder petista jamais incomodou as elites com suas políticas - muito pelo contrário, ele as beneficiou como poucos. O que gera pavor e horror é a própria presença e existência de Lula, o fato de que uma pessoa da classe trabalhadora ocupe um lugar que só poderia ser ocupado pela elite.

Fonte: Transgressões do populismo, de Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago, trecho de livro publicado em Piauí de out/22



CURIOSIDADES | Na Veneza do séc. 16, a moda era as mulheres se equilibrarem em sapatos com 65 cm de altura, o que era considerado um símbolo de riqueza. Inexplicavelmente o costume desapareceu. Uma pena, pois isso por certo as deixava mais elegantes ainda. *** Um médico chamado Condom, que virou a palavra condom em inglês, que significa camisinha, criou um preservativo para o rei Carlos 2º, que reinou na segunda metade do séc. 17. Era feito com tripas de animais.
Fonte: As Histórias Mais Bizarras da História, edição especial da revista Aventuras na História


HUMOR 😀 | Teste
seus conhecimentos - Por que a família real fugiu para o Brasil?

A) Para escapar do comunismo. B) Para escapar do gayzismo. C) Para escapar da vacina. D) Para escapar da PF. E) Para escapar do Xandão. F) Para escapar do Twitter da Anitta. G) Todas as anteriores.

Fonte: Cadernos Patrióticos MEC, de Olegário Ribamar, na revista Piauí de out.22

Dito - Quando for a um restaurante, escolha sua mesa com cuidado. Em certos casos, é bom ficar bem perto do banheiro. Em outros, o mais longe possível. (Groucho Marx) *** Nossas revoluções nunca passaram de um conto de fardas. (Max Nunes) *** A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda. (Mário Quintana) *** Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo... (Idem).


2ª-feira |
Revolução Farroupilha (1835-1845) -
História x Mitos


14 setembro 2022

Rio de Janeiro | O resgate histórico da PEQUENA ÁFRICA

 



No Rio de Janeiro, a região portuária passou por um processo de reurbanização com vistas à Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, e hoje a região, que passou a ser chamada de Porto Maravilha, constitui num complexo de atrações culturais e turísticas alavancadas pelo Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio (MAR) e o AquaRio, o aquário municipal. Em 2010, em meio às obras da construção do empreendimento, deparou-se com achados arqueológicos relacionados com o antigo Cais do Valongo, que juntamente com outros bairros da cidade, como Saúde e Gamboa, fazia parte da assim chamada Pequena África * espaço da cidade habitados por escravizados alforriados, entre 1850 e 1920.

As escavações depararam-se com pedras do cais, considerado como o maior ponto de desembarque, no continente americano, de pessoas escravizadas oriundas da África. Foi construído na segunda metade do séc. 18 longe das vistas dos estrangeiros que desembarcavam no Rio, num local mais afastado e de menor circulação de pessoas. Em 1843 foi aterrado com vistas à construção de um ponto de desembarque da princesa Tereza Cristina, vinda de Nápoles, e prometida em casamento com Dom Pedro 2º. Passou a chamar-se Cais da Imperatriz. Aterramentos subsequentes ocorreram e a memória do Cais do Valongo acabou sendo apagada em nome da política de branqueamento da raça, segundo a historiadora Mônica Lima e Souza, professor de história da África (UFRJ). Hoje constitui-se no principal ponto de referência histórica da Pequena África.

Em 1996, próximo ao Cais do Valongo, foi descoberto ao acaso um cemitério de escravizados que haviam morrido por ocasião de sua chegada ao Rio de Janeiro. Chamava-se Cemitério dos Pretos Novos, que existiu até 1830.

"De acordo com relatos da época, os negros eram enterrados em covas coletivas, improvisadas, e muitas vezes partes dos corpos extravasavam da terra, apodrecendo ao ar livre. Não havia qualquer deferência aos mortos no sepultamento, nem mesmo uma simples placa funerária",

escreve Emily Almeida em matéria na revista Piauí a respeito do assunto (vide fonte). O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, localizado na casa onde foram encontradas as ossadas, foi criado por sua moradora, após a confirmação por parte de um vizinho historiador a respeito do que se tratava. O instituto não recebe nenhum apoio por parte da prefeitura. A Rua do Valongo, dentro de uma política de apagamento da história, atualmente se chama Rua Camerino. Nela localizavam-se os pontos de venda dos escravizados. Um anúncio da Gazeta do Rio de Janeiro, em 1812, entre outros, registra o fato:

"No Armazém do Valongo nº 23, do lado esquerdo, se faz leilão de quarenta e oito escravos, dezoito cadeiras, uma cama, uma cômoda, duas mesas e várias miudezas dos bens apreendidos de José Ferreira dos Santos, no dia 15 do corrente às nove horas da manhã."

* Atribui-se ao compositor e pintor Heitor dos Prazeres (1898-1966) a criação da designação. Segundo o historiador Luiz Antônio Simas, a expressão exata dada por Heitor dos Prazeres era "África em miniatura". A partir da década de 1980, o termo "Pequena África" se difundiu e foi adotado. 


Fonte | Os que ficaram, reportagem de Emily Almeida publicada na revista Piauí de out/22.

Wikipédia - Pequena África  https://pt.wikipedia.org/wiki/Pequena_%C3%81frica

IMAGEM | Jean-Baptiste Debret, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons. Reprodução de quadro de Jean Baptiste Debret, com grupo de "baianas" vendendo seus produtos no Rio de Janeiro.



Mais | Pequena África: Sobrevivência, 
Resistência e Identidade



12 setembro 2022

SEMIÁRIDO: voto por comida | Política sem submissão à economia | "O mal não está nos torturadores"

 




ELEIÇÕES | Voto por 
comida - A cada eleição, repete-se a prática clientelista da troca de voto por um benefício  qualquer prometido por políticos da região, principalmente no Semiárido brasileiro, vasta região que equivale a 12% da superfície total do país e que engloba os nove estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais, incluindo ainda o Vale do Jequitinhonha. A época das eleições coincide com o período das secas, o que favorece o costume. Chega o político num pequeno lugarejo e monta um esquema de carros-pipa para a distribuição de água, ainda mais agora em que o programa de instalação de cisternas promovido pelos governos do PT foi interrompido por Bolsonaro. O rol de favores prometidos pelos candidatos ainda inclui coisas diversas, como um novo reboco na casa, um banheiro, uma consulta ou exame médico, um saco de cimento ou alimentos, estes principalmente em tempos de estiagem. 

ASA - Associação do Semiárido lançou recentemente mais uma edição de sua campanha Não Troque Seu Voto, no sentido de orientar as pessoas sobre a importância do voto. Muitos advogam a necessidade de que os movimentos sociais e sindicais façam um trabalho permanente de conscientização das pessoas para que não vendam seu voto. "Se não trabalhar nas escolas com as crianças, que serão adultos no futuro, a gente vai continuar transferindo o problema de pai para filho e nunca vai acabar essa alienação das pessoas que vendem o voto", opina Urbano Carvalho, coordenador da Fundação de Apoio aos Agricultores Familiares do Semiárido. Para Conceição Borges, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Feira de Santana, o trabalho de conscientização da pessoas deve ser feito "no dia a dia, na igreja, na escola, no sindicato".

Fonte: Cabresto maquiado, reportagem de Fabíola Mendonça publicada em CartaCapital de 07/set/22.


Cabeças Pensantes | A política não deve se submeter à economia, e esta não deve se submeter aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Ao pensar no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloque devidamente a serviço da vida, especialmente da vida humana. (Papa Francisco, em sua encíclica Laudato Si (2015) *** O mal não está nos torturadores e sim nos homens de mãos limpas que gera um sistema que permite que homens banais façam coisas como a tortura. (Hannaj Arendt) *** Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo. (Eduardo Galeano)


Mafalda



- Pelo visto, a lata de lixo da História 
vai feder mais ainda...

09 setembro 2022

EVANGÉLICOS progressistas | Patriarcado em crise - culto ao falo | Votos p/ Lula no 2º turno. E mais.



ELEIÇÕES | Votos para Lula
no segundo turno - Segundo pesquisa da Genial/Quaest, a maior parte dos eleitores de Ciro Gomes e de Simone Tebet, em uma disputa com Bolsonaro, votariam em Lula num segundo turno. Em relação ao demais candidatos, a tendência seria votar também no petista. Fonte: https://www.cartacapital.com.br/




ELEIÇÕES | Evangélicos
progressistas - Nestas eleições, evangélicos progressistas lutam para provar que nem todos os fiéis são reacionários e bolsonaristas em muitos casos. Na maior parte das vezes, vivem nas periferias das cidades e são ligados a movimentos sociais de base. Muitos são filiados a partidos de esquerda, como PT, PSOL, PCdoB e PSB. Muitos se engajam na luta para pelo voto em favor de Lula. Ailce Moreira, candidata a deputada estadual em Pernambuco pelo PSOL, entrevistada para uma matéria a respeito na CartaCapital desta semana, afirmou o seguinte:
"Existe uma expressiva parcela evangélica que entende o contexto social, que luta por justiça social, contra a desigualdade e contra a fome. Jesus pregou o amor, a justiça, a dignidade humana. Quando vemos os vendilhões do templo falando tanto em dinheiro, em violência, em posse de armas, isso contradiz os ensinamentos bíblicos."

De acordo com a pesquisadora Christina Vital, também entrevistada para a matéria, 

"Destas candidaturas progressistas, muitos estão ligados aos movimentos sociais, como a Bancada Evangélica Popular, ou os Cristãos Contra o Fascismo, e são, em sua maioria, pessoas mais jovens, de periferias, negros e negras."

A esquerda precisa despertar para a necessidade de criar mecanismos de diálogo com os evangélicos em geral, não só visando a presente eleição. Aliás, está mais do que na hora de o PT buscar uma reaproximação com suas bases, deixadas de lado nos últimos tempos.

FONTE: Não somos iguais, reportagem de Mariana Serafina, publicada em CartaCapital de 07/set/22


DIÁLOGOS | Loucos & ladrões - De Ademar de Barros, num comício de campanha para eleger-se presidente:
- Infelizmente não foi possível internar-se todos os loucos. Um escapou e fará comício amanhã.
Jânio Quadros, no dia seguinte, devolveu a indireta:

- Não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez comício aqui ontem.



Olha só

Mesmo que o distinto leitor ou a estimada leitora não seja adepto(a) da astrologia, vale a pena assistir ao vídeo de Carlos Harmitt, professor de Biologia 
e astrólogo, e usufruir de seus conhecimentos 
de história, mitologia e psicologia:


Fascismo e culto fálico - Priapus na Astrologia


07 setembro 2022

DOM PEDRO 1º, o homem por detrás do imperador/ A minissérie "Independências"

 




HISTÓRIA | Dom Pedro 1º: o homem
por detrás do imperador Matéria de Giuliana Miranda publicada na Folha de S. Paulo domingo dia 4 revela dados curiosos sobre Dom Pedro 1º: chegou ao Brasil aos 9 anos de idade e tinha uma vida bastante livre, com direito a caminhadas, escaladas e banhos de mar nas praias de Botafogo e Flamengo e com um detalhe: totalmente nu, de acordo com o historiador Paulo Rezzutti, autor do livro D. Pedro: a história não contada. As inúmeras cartas endereçadas à sua mais famosa amante, Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, eram assinadas assinadas às vezes sob a alcunha de Demonão ou Fogo Foguinho

De acordo com a historiadora Isabel Lustosa, sendo uma figura bastante popular, conversava livremente nas ruas com pessoas do povo e chocava os diplomatas estrangeiros com seu jeito classificado como vulgar. Exímio instrumentista, tocava vários instrumentos diferentes. Composições musicais de sua autoria farão parte de um novo álbum a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Era um pai bastante amoroso e zeloso para com seus filhos, até mesmo para com os bastardos. Rezzutti chama a atenção para o fato de ele ser criticado por ter deixado os filhos no Brasil por ocasião de sua volta a Portugal. Para o escritor, sendo Dom Pedro 1º um chefe de dinastia do séc. 19, os filhos pertenciam ao Estado brasileiro. 

Era de conhecimento até mesmo de outras cortes seu temperamento grosseiro para com sua primeira esposa, dona Leopoldina, pertencente a uma das mais ilustres famílias da nobreza europeia. Posteriormente como viúvo não foi fácil arranjar-se uma segunda esposa para ele digna de esposá-lo. Morreu aos 35 anos de tuberculose, após um curto reinado em Portugal como Dom Pedro 4º.

 



TELEVISÃO | "Independências" Estreia hoje, quarta-feira, às 22h, na TV Cultura, a minissérie "Independências", dirigida por Luís Fernando Carvalho e com roteiro de Luís Alberto de Abreu. Resistência, romance e tramas políticas farão parte de seus 16 capítulos semanais tendo como tema central o processo de independência do Brasil. No elenco, Antônio Fagundes, Daniel de Oliveira, Walderez de Barros entre outros. A atriz Walderez de Barros, que faz o papel de dona Maria, a Rainha Louca, em entrevista para o saite da emissora, falou o seguinte: 

"Acho que ele [Luiz Fernando Carvalho] propõe com essa séria uma ruptura não só na forma como ele está contando essa história, mas a ruptura que ele faz do conteúdo. Não é à toa que a série se chama Independências no plural, acho que é uma revisitação naquilo que aprendemos desde pequeno na escola."

 

05 setembro 2022

A CRISE do Absolutismo e a Independência do Brasil (Parte final)

 



1ª bandeira do Brasil:
O verde significava a Casa de Bragança e o amarelo, a Casa de Habsburgo, dinastia à qual pertencia a Imperatriz Dona Leopoldina. Num escudo verde, ao centro, o símbolo da Ordem de Cristo, em vermelho. Sobre o escudo, a coroa imperial. 19 estrelas sobre um aro azul simbolizava as províncias brasileiras. À direita, um ramo de tabaco e à esquerda, um ramo de café - as duas riquezas agrícolas nacionais à época. 


Na segunda metade do séc. 18, crise econômica e social não era nenhum privilégio do Império Português. Outras monarquias europeias sofriam dos mesmos males, tendo como causa maior o aumentos de gastos militares. Entre 1710 e 1780, a Inglaterra, por exemplo, dobrou seus gastos militares, o que levou a Espanha e a França, suas inimigas históricas, a aumentar de igual forma seus gastos nessa área, o que resultou em aumento de impostos, calotes e inflação. A constituição de parlamentos, aumentando a esfera de poder, apenas amenizou em parte o problema do ponto de vista político. 

Em 1820, a cidade do Porto, ao norte de Portugal, rebelou-se contra os abusos do governo de João 6º, fato que foi seguido por Lisboa e até mesmo no Brasil, com sublevações militares apoiadas pela população principalmente no Pará, na Bahia e no de Janeiro. Exigiam-se constituição e limites aos poderes do rei. Sem essa de poder absoluto!... Um ano depois, em Lisboa, instalaram-se as Cortes Constitucionais tendo como objetivo maior a criação de uma monarquia representativa. Uma das mudanças foi a abolição da censura prévia prévia, até mesmo no Brasil, então governado pelo príncipe regente dom Pedro. Do Contrato Social, de Rousseau, foi liberado pela censura e passou a ser vendido numa livraria do Rio de Janeiro. Termos como liberdade, igualdade, razão, Luzes, tirania e despotismo invadiram os jornais da época e folhetos em jornais cariocas. Na verdade, desde o final do séc. 18 as ideias críticas ao absolutismo já circulavam em terras tupiniquins. A Conjuração Mineira foi um produto disso. 

A abertura dos portos em 1808 "às nações amigas", por parte de dom João 6º, contribuiu ainda para a circulação de ideias políticas iluministas. A Revolução Pernambucana de 1817, impulsionada por uma elite regional mais ilustrada, com apreço pela filosofia francesa do séc. 18, teve como motivação maior um surto inflacionável alarmante, provocado em última análise pelas políticas da Corte, e que afetou o preço dos produtos de primeira necessidade por parte do povo, que acabou tomando parte ativa na insurreição. Em fevereiro de 1821, dom João 6º volta a Portugal, por exigência das cortes constituintes, alarmadas pelos gastos sem freio do soberano no Brasil. 

Em Lisboa, o deputado português Manuel Borges Carneiro, contumaz críticos dos gastos exorbitantes por parte do governo, chegou a defender o sequestro de bens dos membros da burocracia que
"foram ao Rio de Janeiro pobres, e sem terem tido gênero nenhum de comércio entraram em administrações públicas, e se acham com milhões de seu, comprando casas e fazendas, vivendo em palácios, nadando em luxo, gastando cada ano 30 mil cruzados."

Além do mais, as Cortes Constituintes não estavam nada satisfeitas com o fato de que com a abertura dos portos do Brasil, Lisboa e o Porto perderam sua função "como etapas obrigatórias da maior parte das cargas destinadas aos portos brasileiros, ou vindas de lá". Isso significava a perda de consideráveis tributos recolhidos em suas alfândegas, o que significaria por outro lado "um duro golpe às aspirações de autonomia provincial de baianos e pernambucanos", sem falar no porto do Rio de Janeiro.

No Brasil, elites regionais começaram a formar juntas de governos locais, cortando relações com a Corte fluminense, num "crescente afastamento político das províncias da América portuguesa em relação a Lisboa", com direito a deixar de enviar para o Rio impostos recolhidos em suas alfândegas, grande fonte de receitas. Por outro lado, os revolucionários de Lisboa viam em dom Pedro uma ameaça de cunho absolutista. Ao mesmo tempo, as Cortes não reconheciam a legitimidade ou poder por parte de dom Pedro, regente no Brasil.

E aí, às margens de um riacho chamado Ipiranga...


Fonte: A Crise Inaugural, matéria de Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira publicada em Piauí de out/21

Imagem | Almanaque Lusofonista based in [1] and [2], CC0, através da wiki Wikimedia Commons


Mais |

Parte 1 do texto:

https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/09/1822-crise-inaugural-do-brasil-1a-parte.html


03 setembro 2022

A CRISE do Absolutismo e a Independência do Brasil (Parte 1)

 




"O Brasil nasceu de uma crise fiscal." Assim Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira iniciaram sua matéria* tendo como título "A crise inaugural", publicada na revista Piauí de out/2021, da qual extraí algumas informações a serem desenvolvidas nesta postagem. No início do séc. 19, 
"as insatisfações e os conflitos provocados pelo descalabro financeiro da Corte joanina trariam como resultado a ruína do absolutismo e a instalação de uma monarquia constitucional na América do Sul."

Na verdade, uma crise não só de cunho fiscal, bem como acompanhada de inflação e insatisfação generalizada, tanto na então colônia portuguesa na América quanto em Portugal. A discussão que tomou vulto à época tinha a ver com a seguinte questão: quem deveria tomar decisões sobre orçamento: apenas o rei ou os representantes dos cidadãos e contribuintes? Além disso, novas ideias em voga passaram a opor-se ao absolutismo como sistema político dos países europeus desde o séc. 16, através do qual reis e imperadores assumiam poderes políticos ilimitados.

O início do séc.19 foi marcado pelas Guerras Napoleônicas (1803-15), o que obrigou a Portugal a fazer gastos de defesa muito superiores ao que suas receitas suportavam. Mais de 50% delas eram direcionadas para a defesa, fato que não impediu a invasão do país por tropas francesas em novembro de 1807. Como aprende-se na escola, tanto a Corte portuguesa bem como a família real transferiram-se às pressas para o Brasil, o que não deixou de ser uma sacada genial, diga-se de passagem. 

De qualquer forma, os gastos palacianos continuaram a mil, inclusive em função da manutenção de centenas de funcionários e desembolsos com cortesãos no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, em Portugal os representantes do rei continuavam com a incumbência de manter um exército, liderado pela Inglaterra. Em 1815 finda o conflito no continente europeu. Alívio para as finanças? Que nada! João 6º abre uma nova frente de batalha: invadir e conquistar a região Cisplatina (Uruguai). Disso resultou na elevação dos impostos e criação de outros - uma solução apenas parcial que provocou uma insatisfação generalizada principalmente no que hoje conhecemos como o Nordeste brasileiro, em função de uma pesada tributação ligada à produção de tabaco, açúcar e algodão. 

Em 1808 é criado o Banco do Brasil. A emissão descontrolada de papel-moeda para cobrir receitas e despesas resultou em inflação. Itens essenciais na alimentação da população, como a farinha de mandioca e o charque sofreram fortes aumentos entre 1815 e 1820, significando um aumento nos custos dos grandes proprietários às voltas com a alimentação de seus escravizados. Além disso havia os gastos consideráveis com soldados e milícias espalhados pela colônia para a manutenção da ordem.

Em 1819, por

"conta da carestia, da inflação sobre os preços dos mantimentos, a população da cidade do Rio de Janeiro viu-se em meio à maior crise de abastecimento de que se podia ter memória e, irada, instou providências rápidas junto ao rei"

(Jurandir Malerba, historiador)

Em Salvador, pessoas empregadas nas escolas de primeiras letras enviaram uma petição ao monarca solicitando um aumento salarial por causa da "carestia de víveres", "em uma grandeza de preço inconjecturável". Afinal, outros funcionários públicos já haviam ganho reajustes salariais pelo mesmo motivo. Como podem ver, não é de hoje. Uma onda crescente de insatisfações eclodiu tanto no Brasil quanto em Portugal. A coisa toda iria fed..., ferver.


* O texto dos autores foi um excerto, com ligeiras modificações, do primeiro capítulo do livro "Adeus, Senhor Portugal: Crise do Absolutismo e a Independência do Brasil", escrito por eles e recentemente lançado pela Companhia das Letras. 

Imagem: Pedro Américo, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons


Parte final em

https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/09/a-crise-do-absolutismo-e-independencia_5.html