14 setembro 2022

Rio de Janeiro | O resgate histórico da PEQUENA ÁFRICA

 



No Rio de Janeiro, a região portuária passou por um processo de reurbanização com vistas à Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, e hoje a região, que passou a ser chamada de Porto Maravilha, constitui num complexo de atrações culturais e turísticas alavancadas pelo Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio (MAR) e o AquaRio, o aquário municipal. Em 2010, em meio às obras da construção do empreendimento, deparou-se com achados arqueológicos relacionados com o antigo Cais do Valongo, que juntamente com outros bairros da cidade, como Saúde e Gamboa, fazia parte da assim chamada Pequena África * espaço da cidade habitados por escravizados alforriados, entre 1850 e 1920.

As escavações depararam-se com pedras do cais, considerado como o maior ponto de desembarque, no continente americano, de pessoas escravizadas oriundas da África. Foi construído na segunda metade do séc. 18 longe das vistas dos estrangeiros que desembarcavam no Rio, num local mais afastado e de menor circulação de pessoas. Em 1843 foi aterrado com vistas à construção de um ponto de desembarque da princesa Tereza Cristina, vinda de Nápoles, e prometida em casamento com Dom Pedro 2º. Passou a chamar-se Cais da Imperatriz. Aterramentos subsequentes ocorreram e a memória do Cais do Valongo acabou sendo apagada em nome da política de branqueamento da raça, segundo a historiadora Mônica Lima e Souza, professor de história da África (UFRJ). Hoje constitui-se no principal ponto de referência histórica da Pequena África.

Em 1996, próximo ao Cais do Valongo, foi descoberto ao acaso um cemitério de escravizados que haviam morrido por ocasião de sua chegada ao Rio de Janeiro. Chamava-se Cemitério dos Pretos Novos, que existiu até 1830.

"De acordo com relatos da época, os negros eram enterrados em covas coletivas, improvisadas, e muitas vezes partes dos corpos extravasavam da terra, apodrecendo ao ar livre. Não havia qualquer deferência aos mortos no sepultamento, nem mesmo uma simples placa funerária",

escreve Emily Almeida em matéria na revista Piauí a respeito do assunto (vide fonte). O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, localizado na casa onde foram encontradas as ossadas, foi criado por sua moradora, após a confirmação por parte de um vizinho historiador a respeito do que se tratava. O instituto não recebe nenhum apoio por parte da prefeitura. A Rua do Valongo, dentro de uma política de apagamento da história, atualmente se chama Rua Camerino. Nela localizavam-se os pontos de venda dos escravizados. Um anúncio da Gazeta do Rio de Janeiro, em 1812, entre outros, registra o fato:

"No Armazém do Valongo nº 23, do lado esquerdo, se faz leilão de quarenta e oito escravos, dezoito cadeiras, uma cama, uma cômoda, duas mesas e várias miudezas dos bens apreendidos de José Ferreira dos Santos, no dia 15 do corrente às nove horas da manhã."

* Atribui-se ao compositor e pintor Heitor dos Prazeres (1898-1966) a criação da designação. Segundo o historiador Luiz Antônio Simas, a expressão exata dada por Heitor dos Prazeres era "África em miniatura". A partir da década de 1980, o termo "Pequena África" se difundiu e foi adotado. 


Fonte | Os que ficaram, reportagem de Emily Almeida publicada na revista Piauí de out/22.

Wikipédia - Pequena África  https://pt.wikipedia.org/wiki/Pequena_%C3%81frica

IMAGEM | Jean-Baptiste Debret, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons. Reprodução de quadro de Jean Baptiste Debret, com grupo de "baianas" vendendo seus produtos no Rio de Janeiro.



Mais | Pequena África: Sobrevivência, 
Resistência e Identidade



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