28 abril 2022

MOSAICO | 1911: tragédia na Rua da Praia/ Exaustão no futebol/ Não é hora de largar as máscaras. E mais.

 





1911 | A tragédia da Rua da Praia

Lançado pela Libretos a versão em HQ, Tragédia da Rua da Praia, de autoria de Rafael Guimaraens e Edgar Vasques, baseado em uma obra sobre crime ocorrido de fato em 1911 na popularmente chamada Rua da Praia, a mais tradicional de Porto Alegre. 




No episódio, ocorrido em 5 de setembro de 1911, quatro estrangeiros assaltaram uma casa de câmbio na então Rua da Praia (hoje oficialmente chamada de Rua dos Andradas), à época a via comercial mais movimentada da cidade que então contava com 120 mil habitantes. Após ferirem a tiro o atendente, que acabou morrendo, os assaltantes fugiram pelas ruas do centro da cidade, a pé, valendo-se de carruagem, bonde e até mesmo uma carrocinha de leiteiro. Acabaram perdendo a vida num tiroteio com a polícia, na região onde se localiza atualmente a Arena do Grêmio, no Bairro Humaitá. Tratava-se de quatro imigrantes russos ligados ao movimento anarquista. A autoria do crime foi atribuída inicialmente a membros da comunidade judaica na cidade, sendo que alguns foram inclusive presos injustamente por determinado tempo.

Apenas dez dias depois do ocorrido, estreava no Theatro Coliseu o film A Tragédia da Rua da Praia. As filmagens foram feitas em tempo recorde, capitaneadas por um cinematografista italiano e nelas continham cenas reais ou não dos fatos. Algo engraçado ocorreu no bairro Passo d'Areia (onde moro): policiais foram mobilizados em função de um alerta segundo o qual uma ação estava sendo executada por parte de outro grupo de criminosos. Na verdade, tratava-se apenas de atores do filme fazendo seus papéis.

Fonte | Tragédia Revisitada, de Leandro Staudt, publicado em  Zero Hora de 16-17/abri/22

Livro: tragédia da Rua da Praia, de Rafael Grasel:




Deu no Twitter |



Se Bolsonaro tivesse agido tão rapidamente para enfrentar a pandemia, a inflação e o desemprego, como foi para salvar a pele de seu cúmplice condenado por atentar contra a democracia, o Brasil e o povo não estariam sofrendo a maior crise da história. @GleisiHoffmann


Cabeças Pensantes |


Exaustão no futebol | Só posso acreditar que os tempos sombrios que estamos atravessando sejam os estertores desta fase do capitalismo que perdeu o mínimo de sentido humano que pudesse ter. (...) Em todos os setores da vida, os reflexos do neoliberalismo se fazem notar. No esporte, um dos sintomas é a queixa da insanidade gerada pelos calendários apertadíssimos. Para comportar a sanha pelo dinheiro, os jogadores são submetidos a uma quantidade de jogos que os leva à exaustão.
Afonsinho, em Futebol da exaustão, publicado em CartaCapital 
de 27/abr/22


Máscaras | Se você está cansado de usar máscaras e já não sabe mais onde exatamente vale a pena usar, saiba que isso não pode ser determinado por decreto. É ciência. É vacinando e testando. Quando todos estivermos vacinados com três doses, poderemos dispensar a máscara na maioria dos ambientes. Líderes e governos realmente interessados em proteger pessoas estariam fazendo campanhas para isso, exigindo passaporte vacinal completo e distribuindo máscaras KN95 até atingir esse objetivo vacinal.
Cristina Bonorino, imunologista, pesquisadora 1B do CNPq e professora da UFSCPA, em Pingos nos Is, publicado em Zero Hora de 23-24/abr/22







Frases |

Maravilhas nunca faltaram ao mundo; o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las. Mário Quintana


A metade de meus homens de governo não é capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.
Getúlio Vargas


Temos religião bastante para nos odiarmos, mas não suficiente para nos amarmos.
Jonathan Swift

25 abril 2022

Mistério: o GPS natural dos animais

 




Billy, o gato fujão


Na edição de abril a revista Piauí, da qual não perco nenhuma edição, a reportagem que mais me chamou a atenção é de autoria da jornalista norte-americana Kathryn Shulz, da revista New Yorker:
Por que os animais não se perdem. O fato é que gatos, morcegos, elefantes-marinhos, gaviões-de-cauda-vermelha, pinguins-imperadores e outros tantos animais "sabem como se orientar e, em maior ou menor grau, os cientistas seguem perplexos quando tratam de explicar como fazem isso", afirma Shulz.

Ela inicia seu texto falando sobre a experiência que testemunhou relativa a um gato chamado Billy, que acabou conhecendo logo que mudou-se para uma casa de aluguel em Hudson Valley, no estado de Nova York. O bichano já era velho, um tanto feioso, com um humor que não era dos melhores e pertencia a Phil, o antigo inquilino. No dia em que se mudou, a muito custo conseguiu colocar Billy numa caixa de transporte e colocá-la no assento detrás do furgão que o conduziria ao seu novo lar. Depois de meia hora de viagem por uma autoestrada, em plena tempestade, o gato conseguiu escapar da caixa. Phil parou o carro no acostamento e teve que descer do carro para tentar colocar Billy de volta à caixa. No que abriu a porta apenas uns 5 cm, Billy conseguiu saltou para fora do veículo, atravessou as duas faixas com veículos em alta velocidade e sumiu quando atingiu o canteiro central, coberto de vegetação. Depois de uma hora tentando atravessar a rodovia sem sucesso, Phil desistiu da tentativa e seguiu viagem, desconsolado, devido ao grande afeto que sentia por seu gato. Semanas depois, a jornalista, já instalada em sua nova moradia, ouviu de manhã cedo batidas na porta da frente. Era Billy, todo sujo e bem mais magro. Estava aflito e miava. Ela trouxe-lhe duas tigelas, uma comida e outra com água e entrou para dentro de casa. Recomeçaram as batidas na porta, com o gato ignorando o conteúdo das tigelas. Shulz acabou tirando uma foto do gato e a enviou ao seu dono, perguntando se era Billy. Logo que Phil chegou, o gato jogou-se em seus braços, aninhando-se no peito de seu dono. Só depois tratou de alimentar-se faminto. Na reportagem, sabe-se também de uma gata de estimação, Holly, que se perdeu numa viagem com seus donos e reapareceu em casa dois meses depois, tendo percorrido 320 km de distância, outro caso sobre o qual os etologistas, que estudam o instinto dos animal, ainda não têm uma explicação definitiva e abrangente. Por enquanto, há apenas teorias e a mais convincente tem a ver com o campo magnético.

Viajando com um GPS natural...

Vejamos outros exemplos incríveis de locomoção à longa distância dos animais, sem que se percam: 

Os salmões, depois de anos no mar, conseguem retornar ao seu local de origem, como riachos. 

O quebra-nozes-de-clark, da família dos corvos, "recupera a comida que escondeu previamente num espaço de quase 260 km2 e em até 6 mil locais diferentes".

Em seu processo de migração, de águas geladas a águas mais quentes, as lagostas seguem um percurso de maneira retilínea, uma atrás da outra, apesar das fortes correntes no fundo do oceano.

A andorinha do Ártico põe seus ovos nesse polo, mas no inverno passam uma temporada na Antártica, depois de terem viajado por 80 mil km, sem mudarem de curso, apesar do enfrentamento de ventos alísios e tempestades terríveis. Fantástico!


> Próxima segunda-feira, 02/maio |
Continuação da série Séc. 19 e 20:
Relatos de viajantes e imigrantes alemães sobre Porto Alegre
 

22 abril 2022

CARROSSEL | Manchetes que abalaram o mundo/ O papa julgado depois de morto/ Posições sexuais condenáveis. E mais.

 




H   U   M   O   R



Manchetes que abalaram o mundo

DESFALCADA A SELEÇÃO DA GRÉCIA.
ACERTARAM O CALCANHAR DE AQUILES.

IMPERADOR INCENDEIA ROMA. BOMBEIROS CHEGARAM A TEMPO, MAS FALTOU ÁGUA.

ALPINISTA MALUCO, VESTIDO DE NAPOLEÃO, DISCURSA NO ALTO DE UMA PIRÂMIDE.

Max Nunes





Espirituosas

O psiquiatra é a primeira pessoa com quem você deve falar depois de começar a falar sozinho.
Fred Allen

Nunca faça hoje o que você pode adiar para amanhã. Punch

Se você se parece com a sua fotografia de passaporte, sem dúvida precisa viajar.
Sir Angus Wilson
 

Saber não ocupa lugar

No Polo Norte, às vezes a temperatura baixa tanto que chega ao Polo Sul.

A jugular é a única veia que acredita em vampiros.

Fraga




A D I V I N H A S
Já com respostas, para facilitar a vida do leitor

Que nome se dá a uma ferramenta perdida? 
Foice

O que acontecerá se Papai Noel morrer? 
Ele não estará mais em trenós.

Qual é a panela que está sempre triste?
A panela de pressão.


V O C Ê   S A B I A ?



Continuemos com nosso curso hiperior
de História Universal.

Em 897 d.C. o papa Estêvão 6º mandou exumar seu antecessor, Formoso, para que fosse submetido a julgamento. Condenado, seu papado foi anulado retroativamente.

Em 491 d.C, Zeno, imperador bizantino, bebeu tanta caipirinha, mas tanta caipirinha, que foi considerado morto. Ficou gritando em seu sarcófago por 3 dias e por ordens expressas de sua amável esposa, ninguém o socorreu.

Em 1260, o bispo alemão Alberto Magno elabora uma lista das posições sexuais da mais natural, tipo papai e mamãe, às mais condenáveis segundo ele, na seguinte ordem: lado a lado, sentando, em pé e por trás.
Fonte | Revista Mundo Estranho, de out/2017


Xoco-látl

A bem da verdade, é preciso ter-se muito cuidado com o que se fala em termos de origem etimológica das palavras. Mas enfim, sobre chocolate, uma das versões é a seguinte: conta-se que quando o invasor espanhol Hernán Cortez chegou ao México, o imperador asteca serviu-lhe uma certa bebida e o advertiu mais de uma vez que estava muito quente: Xoco-látl!, algo do tipo Cuidado, está quente! Daí...


D E U  N O  J O R N A L



20 abril 2022

MOSAICO | Torto Arado/ "Descobrimento"?/ Estatísticas fajutas/ Uma sociedade adoentada. E mais.

 





Torto Arado |

Em minhas andanças literárias, encontro-me no sertão da Chapada Diamantina, Bahia, em meio às páginas de Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, vencedor de três importantes prêmios literários: Oceanos, Jabuti e Leya. "Um romance que retrata - com extrema habilidade narrativa - um Brasil dolorosamente encalhado no próprio passado escravista. Um texto épico e lírico, realista e mágico." - diz a capa do livro. A história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, em meio à luta pelo direito à terra e a emancipação dos trabalhadores rurais. Aliás dias atrás, assisti à uma entrevista do autor ao Roda Viva, em que ele fala sobre seu romance de estreia além de outros assuntos. Quando indagado ao longo do programa sobre o conceito de literatura regional, um termo tolo para diferenciar a literatura do eixo Rio-São Paulo do resto, foi claro: escritor escreve sobre seu centro, ou seja, tal termo não tem sentido algum. Daria eu como exemplos: Machado de Assis escreveu sobre seu centro. Erico Verissimo igualmente. Aliás, diga-se de passagem, no mesmo programa um entrevistador comentou algo genial: "No Brasil, o passado não passa".



Minhas ideias regadas a café |



22 de abril | Nesse dia, comemora-se o descobrimento do Brasil. OK. Só vale lembrar que a rigor, historicamente falando, a data leva em conta apenas uma visão meramente eurocêntrica da realidade. Como se há mais de 12 mil anos toda a América, incluindo o Brasil, não fosse habitada por povos provenientes da Ásia, pelo norte e até mesmo pelo sul, como sugerem alguns.

Varrido | Chamam-no de louco varrido. Por quê? Ainda não foi varrido.


Anotei |


Ordem |
Não tenho os créditos da pergunta, mas ei-la: Ordem mundial ou ordem imperialista mundial?

Fascistas | Li por aí que no tempo da URSS, as crianças quando brigavam, se xingavam de fascistas...


Deu no Twitter |


Como combater a desigualdade na era digital. No Brasil, o intermediário esmaga renda do produtor e eleva preço ao consumidor. Na China, a difusão pública da internet eliminou o intermediário, elevou a renda do produtor em até 3 vezes, com queda no preço final ao consumidor.
@MarcioPochmann



Cabeças Pensantes |

Chile | Somos um país, com renda de 20 mil dólares per capita, só é questão de fazer uma reforma tributária [para uma educação gratuita no país], porque essa média de 20 mil dólares só é alcançada por menos de 20% da população do Chile. E mais: Só 1% da população chilena acumula 30% da renda nacional. Então, claro, quando falam em média escondem essa desigualdade e dizem que no Chile estamos superbem, mas o que ninguém diz é que 50% dos chilenos ganham menos de 500 dólares por mês.
Giorgio Jackson, responsável pela Secretaria Geral da Presidência (Casa Civil no Brasil), do novo presidente do Chile Gabriel Boric, citado na matéria De volta para o futuro, de Fernando de Barros e Silva, publicada na revista Piauí de abr/22.


Losers | Nas Olimpíadas de Tóquio, após uma bela performance artística, a ginasta brasileira Rebeca Andrade foi interrogada sobre "o que faltou para alcançar o ouro". Com altivez e orgulho, respondeu: "Nada saiu errado. Estou contente com o meu desempenho." A menina afrodescendente, que ostentava para o país a inédita medalha de prata na categoria, desautorizou de pronto a visão reducionista que dividia a competição (e o mundo)  entre winners e losers.
Luiz Marques, professor de Ciência Política da UFRGS, em seu artigo O Fracasso da Meritocracia, em Zero Hora de 16-17/abr/22


Sociedade adoentada | Ao defender um torturador no Congresso Nacional, o então deputado Jair Bolsonaro deveria ter sido cassado. Seria o mínimo em um país que respeita a sua história e a dignidade humana. Mas não: foi eleito presidente dois anos depois. De degrau em degrau vamos chegando ao fundo do abismo ético e revelando uma sociedade profundamente adoentada.
Guilherme Boulos, em seu artigo Tortura: o limiar do humano, em CartaCapital de 20/abr/22.



Frases |

A amizade é uma das belas-artes.
Manuel Bandeira

Acordem e progresso.
Carlito Maia

O Brasil é sério, mas é surrealista.
Jorge Amado

18 abril 2022

(3) Séc. 19 | Relatos de viajantes alemães sobre Porto Alegre

 


Memorial do Rio Grande do Sul, antiga agência central dos Correios e Telégrafos.
Arquitetura de inspiração alemã


Franz Epp

Johannes Mathäus Franz Epp (1812-1867) foi um médico alemão que incursionou sobre algumas regiões do mundo, dentre elas o Brasil. Depois de ter permanecido três semanas em Rio Grande, em 1863, chegou a Porto Alegre vindo por meio de um navio de guerra. Registros pessoais sobre sua estadia na cidade foram publicados em sua obra Rio Grande do Sul oder Neudeutschland (Rio Grande do Sul ou Nova Alemanha).

Fragmento sobre suas observações logo que chegava à cidade, numa viagem pela Lagoa dos Patos que levou 36 horas:

"Mais perto da cidade, as montanhas se tornam mais escalvadas e suas encostas são usadas somente como pasto para o gado; em compensação as fazendas e casarões são mais numerosos e bonitos."

Em relação a prédios, destaca a Cadeia, o Theatro São Pedro, a Catedral (na verdade, a Igreja Matriz) e o Hospital de Caridade (Santa Casa de Misericórdia). Refere-se à região do atual Parque Farroupilha como um planície, onde há jardins e chácaras. Chama sua atenção para as ruas da cidade, algumas já com calçamentos e calçadas, "muito defeituosos" em sua opinião. Faz alusão às "casas que se espalham por toda a cidade" e prevê um futuro promissor para ela, ainda mais agora que estão por destruir ao mercado e construir um novo, "um  pouco mais perto do cais do porto". * Lamenta a inexistência de um museu de história natural "que familiarizasse o estrangeiro com os produtos principais do país" ou "uma coleção de mapas" que serviria para os imigrantes ter uma visão mais clara do mesmo. Considera que seria bastante agradável se existisse um balneário público e uma canalização da água, substituindo os esgotos a céu aberto.


Karl Andrée


Karl Theodor Andrée (1808-1875), jornalista, geógrafo e etnógrafo alemão, documentou alguma coisa sobre Porto Alegre num artigo, atribuído a ele, publicado em 1867 na revista Globus, dirigida a assuntos de geografia e etnografia, em que era o diretor. Propagador do germanismo, vê na imigração alemã a possibilidade de uma  "influência animadora e enobrecedora" sobre os nativos da terra brasileira. Para ele, a influência alemã na economia da Província do Rio Grande traz novos horizontes no tocante ao desenvolvimento da agricultura, para ele mais importante do que a atividade pastoril, pois traria um maior desenvolvimento cultural, "cuja base é sempre a lavoura, mas cuja a coroa é a sólida florescência  da indústria, do comércio, das ciências e das artes". 

Dessa forma, atribui ao desenvolvimento "rápido" da cidade às colônias alemãs vizinhas. Vale-se de dados extraídos do jornal Deutsche Zeitung, voltado para os interesses da comunidade alemã local, vários dados que evidenciariam o desenvolvimento da cidade. Alguns deles:

79 açougues, 22 oficinas de alfaiates, 19 bodegas, 17 lojas de tecidos, 2 bancos, 10 cafés, 6 farmácias, 8 escritórios de escrivães e tabeliães, 1 loja de móveis, 3 cocheiras para cavalos de aluguel, 1 confeitaria, 7 barbeiros, 5 marceneiros, 2 dentistas, 2 drogarias, 12 escritórios de advocacia, 10 fábricas de chapéus, 8 fábricas de charutos, 1 fábrica de tapetes, 15 ferrarias, 10 hospedarias, 15 lojas de ferragens, 1 livraria, 2 lojas de brinquedos, 9 ferrarias de prata, 2 perfumarias, 3 lojas de roupas masculinas, 33 carpintarias, 24 padarias, 4 estúdios fotográficos, 2 engenhos de açúcar, 33 sapatarias, 171 ponto de venda de alimentos, 6 fábricas de tamancos, 2 fabricantes de carruagens, 3 tipografias, etc..., etc... Como podem ver, distintos leitores, ninguém mais segurava Porto Alegre! :-) Andrée ainda cita o fato de que, segundo o jornal, havia na cidade 200 estabelecimentos comerciais alemães, 300 brasileiros e 150 portugueses.


* Referência ao atual Mercado Público Municipal (1869), construído entre duas docas, cujo aterro de ambas proporcionou a construção do prédio da Prefeitura e da antiga Praça Parobé.

Imagem 2 |  Dilermando Dias, CC BY-SA 2.5 BR <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/br/deed.en>, através da wiki Wikimedia Commons



Fonte |

Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890, de Valter Antônio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco (2004).


Mais |

(2) Séc. 19 e 20 | Relatos de viajantes e imigrantes alemães sobre Porto Alegre

https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/04/2-sec-19-e-20-relatos-de-viajantes-e.html


Vídeo sobre o Morro Santana, o mais alto da cidade (311m), uma das montanhas assim designadas por Franz Epp:  https://www.youtube.com/watch?v=f34gFRzMPUI

14 abril 2022

Titus Brandsma: o primeiro santo esperantista da Igreja Católica



No próximo dia 15 de maio, em cerimônia especial na Praça de São Pedro, em Roma, o Papa Francisco estará canonizando mais dez pessoas entre eles o carmelita holandês Titus Brandsma, nascido em Bolsward em 1881 e morto no campo de concentração da Dachau, Alemanha, em 1942. Já tinha sido declarado beato por João Paulo 2º em 1985. O milagre atribuído a ele foi a cura de um sacerdote carmelita em 2004, nos EUA, que sofria de um melanoma metastático.


Padre, professor e jornalista, além de ter sido considerado um mártir do nazismo, foi igualmente um ativo esperantista. Em seu trabalho como jornalista, foi defensor da liberdade de consciência e combatente de destaque da ideologia perversa de Hitler, o que acabou fazendo dele uma das vítimas do Nazismo. Há muitas informações sobre sua vida no cativeiro graças a um diário escreveu enquanto preso, bem como cartas que endereçou, como carmelita, a seus superiores, bem como a parentes e amigos. Apesar da vida dura e sofrida que passou a viver, não manifestava em seus escritos tristezas ou reclamações. "Embora impossibilitado de receber a comunhão, ele dizia sentir-se em casa na prisão, porque Deus estava ao seu lado."* "Rezarei por você", disse Brandsma à enfermeira encarregada de aplicar-lhe uma injeção letal, sob ordens superiores dos dirigentes do campo de concentração.


Como esperantista atuante no movimento de divulgação do idioma, exerceu atividades junto à IKUE - Internacia Katolika Unio de Esperantistoj (União Católica Internacional de Esperantistas), tendo sido um de seus organizadores do Congresso do Católico Holandês (1934) e do Congresso da IKUE (1937).

* https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-03/papa-francisco-consistorio-beatos-brandsma-rivier-maria-jesus.html

Fonte |

Em 15 de maio, o Papa canonizará Titus Brandsma, 
morto pelo nazismo

Titus Brandsma

Imagem | Agaath, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, através da wiki Wikimedia Commons


12 abril 2022

MOSAICO | Microplásticos nos pulmões de pacientes/ Aconteceu em Kiev/ Humor: o padre e os argentinos/ E mais.

 




Cabeças pensantes |

Leitura | Antes do interesse pela escrita, há um outro: o interesse pela leitura. E mal vão as coisas quando só se pensa no primeiro, se antes não se consolidou o gosto pelo segundo. Sem ler ninguém escreve. José Saramago, escritor


Maiorais | Para mim, este século que termina se define na literatura em três nomes: Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges e Franz Kafka.
José Saramago


Deu no Twitter |



Dez dólares o litro da gasolina na Califórnia. Em 2018 era um dólar. O americano vai enlouquecer. Nunca soube o que é inflação. @FernandoHortaof


Chocante. Microplásticos encontrados nos fundos dos pulmões de pessoas vivas pela primeira vez. Éo que se sabe da descoberta de partículas no tecido de pacientes submetidos à cirurgia, sendo polipropileno e PET mais comuns.
@MarcioPochmann


Aconteceu em Kiev |



Em Futebol ao sol e à sombra *, de Eduardo Galeano, em que o escritor reuniu uma série de histórias as mais diversas sobre fatos que ocorreram ao longo da história do futebol, ele conta que em 1942 os jogadores do Dínamo de Kiev, então ocupada pelos nazistas, tiveram de jogar um partida com jogadores alemães de um time montado sob as ordens de Hitler, na qual os ucranianos tinham a obrigação de perder o jogo. "Entraram resignados a perder," - conta Galeano - "tremendo de medo e de fome, mas não puderam aguentar a vontade de ser dignos. Os onze foram fuzilados vestidos com as camisas, no alto de um barranco, quando terminou a partida."
* A edição que tenho é da Coleção L&PM Pocket, 2019


Humor |

Esta, vou contar à minha maneira. Pois bem na fronteira do Brasil com a Argentina chegou o novo padre de uma cidadezinha tão pequena que não chegava nem a dois mil habitantes. Domingo de manhã, primeira missa do padre. Brasileiros e argentinos se confraternizam à espera da celebração. No início da missa, o padre começa assim: 
- Irmãos, estamos aqui reunidos para falar dos fariseus, esses argentinos aqui presentes.
Consternação geral! Comentários pipoqueiam num assombro geral. Os argentinos se levantam e vão embora, sentindo-se naturalmente que muito ofendidos. O prefeito se levanta, procura acalmar os ânimos e se dirige o padre rogando a ele que nunca mais se dirigisse, daquela maneira, aos hermanos, responsáveis por boa parte da fonte de sustento do comércio local. O padre acata a solicitação do prefeito, promete que no domingo seguinte vai maneirar em suas palavras.

No domingo seguinte, em seu sermão, o novo padre diz que gostaria de falar sobre Maria Madalena, "aquela prostituta  da Bíblia", como as argentinas que se encontravam presentes. Pânico geral. Argentinos tentam agredir o padre. A turma do deixa-disso entre em ação. "Calma, pessoal, calma!" - grita alguém. As mães argentinas vão embora, mal contendo o choro, levando suas crianças. O prefeito ao falar novamente com o padre, assume um tom enérgico. A cidade não pode se dar ao luxo não de contar com os argentinos para a economia local. Ameaça a enviar uma carta para o bispo pedindo sua transferência. O padre mais uma vez promete colaborar.

No terceiro domingo, por solicitação do prefeito, tem até um batalhão da polícia militar na frente da igreja. Pura precaução. O padre inicia sua preleção dizendo que iria falar sobre um dos momentos mais belos da vida de Jesus: a Santa Ceia. O prefeito respira aliviado. Então o padre lembra a frase de Jesus diante dos apóstolos afirmando que naquela mesma noite alguém iria traí-lo. Pedro pergunta se seria ele, o que Jesus nega. Outros fazem a mesma pergunta, sobre a qual Jesus os tranquiliza dizendo que não. E o padre continua: "Então, Judas pergunta: Mestre, soy yo?"


Mais |

MOSAICO | Edgar Morin/ Ivo vê a uva/ Incitatus/ Bananinha/ Eduardo Leite/ Imagens inéditas da Lua

11 abril 2022

(2) Séc. 19 | Relatos de viajantes alemães sobre Porto Alegre

 




Robert Avé-Lallemant

Robert Christian Berthold Avé-Lallemant (1812-1884) nasceu em Lübeck, na Alemanha. Depois de formado como médico, em 1837, viveu vários anos no Rio de Janeiro e trabalhava como médico na Santa Casa de Misericórdia. Em 1855 voltou à Alemanha para dois anos depois regressar ao Rio, voltando a clinicar na então capital do Brasil. Graças ao favores do imperador, Dom Pedro 2º,  empreendeu duas viagens, uma para o Sul (1858) e outra para o Nordeste (1859). De Recife, acabou retornando à Alemanha em definitivo.

Sobre o Rio Grande do Sul, escreveu uma bela reportagem publicada em livro a respeito de Porto Alegre e outras localidades do Interior. Depois de uma detalhada descrição dos aspectos físicos da cidade, sua rua principal (Rua da Praia) e alguns de seus prédios de maior destaque, como "a igreja matriz, o palácio da presidência e um teatro recentemente construído", alusão ao Theatro São Pedro, refere-se à rara beleza do lugar visto "do alto da igreja e do teatro". Faz referência aos alemães que vêem transitando pelas ruas, falando dialetos do Holstein, o pomerânio e o bávaro renano. Calcula que na cidade deve haver uns 20 mil habitantes, sendo que 3 mil são provenientes da Alemanha. Hospedou-se num hotel cujo proprietário era alemão e veio a almoçar certo dia em outro, também de um conterrâneo seu, embora tivesse um nome em português: Hotel Comercial. Elogiou a carne e o peixe que comeu, "as batatas do tamanho de um punho" e a manteiga, que a considerou maravilhosa. Certo dia foi convidado para assistir a peça "Sonho de uma noite de verão", em sua língua no "Teatro Alemão", que o fez recordar do antigo teatro de sua cidade natal, Lübeck. Queixa-se da falta de igrejas protestantes na cidade. Faz menção ao Der deutsche Einwanderer, jornal em alemão editado na cidade, de "dolorosa recordação" para ele...

Friedrich Gerstäcker

Friedrich Wilhelm Christian Gerstäcker nasceu em Hamburgo (1816) e faleceu em Braunschweig (1872). Romancista, também escreveu obras sobre imigração e viagens que fez pelo mundo. Um deles foi "Dezoito meses na América do Sul e em suas colônias alemãs", em que relata suas experiências de viagens pelo Peru, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil, ao qual chegou através de Jaguarão, na fronteira com o Uruguai.

Em seu relato específico sobre Porto Alegre, começa classificando a cidade como "um lugar tão encantador e ensolarado como não se pode desejar outro no mundo". Em sua descrição da cidade, faz menção ao presídio, "o maior prédio da cidade". Achou o Theatro São Pedro muito bonito, mas com um palco proporcionalmente pequeno demais. Prevê para a cidade "um grande futuro". "A exportação já agora não é insignificante, porque quase todos os produtos do norte da província têm de passar por suas mãos, enquanto representa o ponto central para todas as mercadorias fornecidas às colônias". Opina que a colônia alemã na cidade carece de "um órgão próprio para seus interesses, independente, em língua alemã". Menciona o Einwanderer, citado acima, que já não existia mais, por não representar de fato os interesses dos colonos alemães, dada sua dependência aos interesses do governo.

Fonte |

Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890, de Valter Antônio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco.


Mais |
(1) Séc. 19 e 20 | Relatos de viajantes 
e imigrantes alemães sobre Porto Alegre

07 abril 2022

KAPOJ PENSAS | Norman Mailer/ Dostojevskij/ Saramago/ Eco/ Schweitzr/ Eŭripido/ Machado de Assis/ Antônio Vieira



Kial
oni mortigas
la personojn kiuj mortigis iun?
Por diri al la aliuloj, 
ke mortigi estas malbona afero?
Norman Mailer


Oni povas juĝi 
la gradon de civilizo
de iu socio enirinte en ĝiajn prizonojn.
Fjodor Dostojevskij


Mi ne kredas je Dio
kaj mi neniam havis religian krizon.
Sed mi ne povas ignori, ke kvamkam 
mi ne estas kredulo,
mia pensmaniero estas kristana.
José Saramago


Nek ĉiuj ideoj 
estas por la oreloj.
Umberto Eco


La tragedio de la homo
estas tio kio mortis ene de li
dum li ankoraŭ vivas.
Albert Schweitzr


Al saĝa homo
sufiĉas la necesa afero.
Eŭripido


Estas aferoj 
kiuj oni plibone diras
silentiĝanta.
Machado de Assis


Por paroli al la vento, sufiĉas vortoj.
Por la paroli al la koroj, oni bezonas verkojn.
Pastro Antônio Vieira


06 abril 2022

MOSAICO | Edgar Morin/ Ivo vê a uva/ Incitatus/ Bananinha/ Eduardo Leite/ Imagens inéditas da Lua


A via


Em minha fase de reler livros, chegou a vez de A Via para o Futuro da Humanidade, de Edgar Morin, filósofo francês, que aponta para realização de uma verdadeira metamorfose a fim de que possamos salvar o planeta e a humanidade de um desastre final, diante da crise geral no que ele cita a globalização, a ocidentalização e o desenvolvimento como responsáveis maiores. Do livro, destaco aqui a seguinte reflexão:
Um mal-estar psíquico e moral instala-se no coração do bem-estar material. As intoxicações consumistas das classes médias se desenvolvem, enquanto a situação das classes desvalidas e degrada e as desigualdades se agravam. A crise da modernidade ocidental torna derrisórias as soluções modernizadoras para as crises.


                            Minhas ideias regadas a vinho        





Ivo vê a uva
, que minha primeira professora nos ensinou a ler na escola, foi minha introdução ao mundo da ficção.

OK. Admito que a Terra possa ser plana. Resta saber agora o que realmente está no centro do Universo? O Sol ou ela?

Que futuro se pode esperar de um povo em que seus professores são agredidos moral e até mesmo fisicamente, até mesmo quando vão às ruas para reivindicar seus direitos?

Inverno está chegando no Império.




Você sabia?



Incitatus, o cavalo que o imperador romano Calígula promoveu a senador, quase que virou cônsul. Infelizmente seu dono morreu antes de concretizar essa ideia renovadora 
da política de seu tempo.


Em 350 d.C o imperador chinês Fu Sheng proibiu o uso de palavras como sem ou faltando, pois temia que algum engraçadinho fizesse piada a seu respeito, já que era cego de um olho.

Fonte | Mundo Estranho (dez/2017)



Deu no Twitter


Não, Bananinha. Tortura não é piada. Ustra colocava ratos em vaginas e torturava mulheres na frente de seus filhos. Isso te faz rir? Você e sua família são psicopatas. @GulhermeBoulos


Cabeças Pensantes



Eduardo Leite | A renúncia é insólita, porque Leite não era proprietário do cargo [de governador do RS], só exercia um mandato que lhe deu o povo, o único que, nas democracias, tem poder soberano. Cada eleitor tinha um quinhão naquilo que, mesmo inadequadamente, chamamos de propriedade do cargo. (...) Assim, pergunto-me se a renúncia não soa como desprezo ao mandato conferido pelo povo. Flávio Tavares, jornalista


Brinquedos | Uma criança não precisa de brinquedos caros. Uma criança precisa brincar, e sua capacidade de improviso dispensa maiores investimentos. Ali ela se constitui e se forma, primeiro na companhia do adulto, depois sozinha na presença desse adulto (...) e finalmente sozinha, na presença de novos outros, seus futuros pares. Quem precisa de brinquedos caros e de consumo maior são a sociedade capitalista (de consumo) e os pais, esses seres inevitavelmente banhados pelo narcisismo na vivência parental. 
Celso Gutfreind, psicanalista e escritor



Humor


Não existem mulheres frígidas; apenas mal-aquecidas. Albertina Duarte Takiuti

O fracasso lhe subiu à cabeça.
Millôr Fernandes

Mulher grávida vive reclamando de barriga cheia.
Anônimo


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CABEÇAS PENSANTES | Ailton Krenak: vamos ficar no mesmo patamar/ Fernanda Montenegro na ABL/ O verde de Porto Alegre. E mais.