"Mais perto da cidade, as montanhas se tornam mais escalvadas e suas encostas são usadas somente como pasto para o gado; em compensação as fazendas e casarões são mais numerosos e bonitos."
Em relação a prédios, destaca a Cadeia, o Theatro São Pedro, a Catedral (na verdade, a Igreja Matriz) e o Hospital de Caridade (Santa Casa de Misericórdia). Refere-se à região do atual Parque Farroupilha como um planície, onde há jardins e chácaras. Chama sua atenção para as ruas da cidade, algumas já com calçamentos e calçadas, "muito defeituosos" em sua opinião. Faz alusão às "casas que se espalham por toda a cidade" e prevê um futuro promissor para ela, ainda mais agora que estão por destruir ao mercado e construir um novo, "um pouco mais perto do cais do porto". * Lamenta a inexistência de um museu de história natural "que familiarizasse o estrangeiro com os produtos principais do país" ou "uma coleção de mapas" que serviria para os imigrantes ter uma visão mais clara do mesmo. Considera que seria bastante agradável se existisse um balneário público e uma canalização da água, substituindo os esgotos a céu aberto.
Karl Andrée
Karl Theodor Andrée (1808-1875), jornalista, geógrafo e etnógrafo alemão, documentou alguma coisa sobre Porto Alegre num artigo, atribuído a ele, publicado em 1867 na revista Globus, dirigida a assuntos de geografia e etnografia, em que era o diretor. Propagador do germanismo, vê na imigração alemã a possibilidade de uma "influência animadora e enobrecedora" sobre os nativos da terra brasileira. Para ele, a influência alemã na economia da Província do Rio Grande traz novos horizontes no tocante ao desenvolvimento da agricultura, para ele mais importante do que a atividade pastoril, pois traria um maior desenvolvimento cultural, "cuja base é sempre a lavoura, mas cuja a coroa é a sólida florescência da indústria, do comércio, das ciências e das artes".
Dessa forma, atribui ao desenvolvimento "rápido" da cidade às colônias alemãs vizinhas. Vale-se de dados extraídos do jornal Deutsche Zeitung, voltado para os interesses da comunidade alemã local, vários dados que evidenciariam o desenvolvimento da cidade. Alguns deles:
79 açougues, 22 oficinas de alfaiates, 19 bodegas, 17 lojas de tecidos, 2 bancos, 10 cafés, 6 farmácias, 8 escritórios de escrivães e tabeliães, 1 loja de móveis, 3 cocheiras para cavalos de aluguel, 1 confeitaria, 7 barbeiros, 5 marceneiros, 2 dentistas, 2 drogarias, 12 escritórios de advocacia, 10 fábricas de chapéus, 8 fábricas de charutos, 1 fábrica de tapetes, 15 ferrarias, 10 hospedarias, 15 lojas de ferragens, 1 livraria, 2 lojas de brinquedos, 9 ferrarias de prata, 2 perfumarias, 3 lojas de roupas masculinas, 33 carpintarias, 24 padarias, 4 estúdios fotográficos, 2 engenhos de açúcar, 33 sapatarias, 171 ponto de venda de alimentos, 6 fábricas de tamancos, 2 fabricantes de carruagens, 3 tipografias, etc..., etc... Como podem ver, distintos leitores, ninguém mais segurava Porto Alegre! :-) Andrée ainda cita o fato de que, segundo o jornal, havia na cidade 200 estabelecimentos comerciais alemães, 300 brasileiros e 150 portugueses.
* Referência ao atual Mercado Público Municipal (1869), construído entre duas docas, cujo aterro de ambas proporcionou a construção do prédio da Prefeitura e da antiga Praça Parobé.
Imagem 2 | Dilermando Dias, CC BY-SA 2.5 BR <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/br/deed.en>, através da wiki Wikimedia Commons
Fonte |
Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890, de Valter Antônio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco (2004).
https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/04/2-sec-19-e-20-relatos-de-viajantes-e.html
Vídeo sobre o Morro Santana, o mais alto da cidade (311m), uma das montanhas assim designadas por Franz Epp: https://www.youtube.com/watch?v=f34gFRzMPUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário