30 novembro 2020

Carrefour: do lado de cá e do lado de lá das grades

 


Do artigo O lado do preconceito, de Julia Dantas, publicado em Zero Hora de 28-29 nov. 2020:

"Cada vez mais aceita-se a tese de que policiais têm o direito de matar se estiverem agindo sob forte emoção. Mas não se aceita que um manifestante jogue uma pedra numa janela agindo sob forte emoção."

"Nós somos as pessoas que estão do lado de cá das grades, inclusive os policiais que agem sob as ordens de chefes que não estão ali - que estão do lado de lá da grade, junto ao poder econômico que não se constrange em quebrar corpos para defender vidraças."

"Quando os militares vão parar de treinar policiais propensos a comportamentos explosivos? Passou da hora de mexer nas estruturas."

Referência:

DANTAS, Julia. O lado do preconceito. Zero Hora. Porto Alegre, 28-29 nov. 2020. Doc, pg. 5.  

Trago sua foto nua em três dias

 



A tecnologia é uma faca de dois gumes, como se diz por aí. A inteligência artificial pode ser usada de uma maneira positiva: os filmes da Pixar, o uso de deep fakes para a realização de diagnósticos, sem falar nos jogos eletrônicos, os bacaninhas, diga-se de passagem. Fabro Steibel em sua coluna recente de jornal (vide referência abaixo), nos chama a atenção para um uso negativo da mesma: já existe um aplicativo chamado DeepNude, que originalmente surgiu na Índia. Pelo Telegram, desenvolveu-se um negócio informal altamente lucrativo. Em contato com um chatterbot,"programa de computador que tenta simular um ser humano  na conversação com as pessoas", explica a Vikipédia, envia-se para ele uma foto de mulher com roupa e a devolve inteiramente nua, algo que nas mãos de chantagistas pode causar um sério problema. Calcula-se que mais de 100 mil mulheres já foram despidas dessa forma, sendo que a Rússia é o principal mercado. Investigações foram abertas nos EUA e em outros países. Apple e Telegram tentam banir o uso da tecnologia. A propósito: não há tecnologia em termos de algoritmo para desnudar homens adultos.


Referências:

CHATTERBOT. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Chatterbot. Acesso em: 30 nov. 2020.

STEIBEL, Fabro. Trago sua foto nua em três dias. Zero Hora, Porto Alegre, 28-29 nov. 2020. Doc, p. 5.

Treinamento de camuflagem...

 



- Sr. Pedro, hoje não o vi durante o treinamento de camuflagem...
- Obrigado, senhor sargento!

Surgirá uma nova classe, além dos explorados: a dos excluídos

"Com o avanço da inteligência artificial, Yuval Noah Harari, autor de Sapiens, prevê que muitos profissionais não ficarão apenas desempregados, como também não serão mais empregáveis", diz o lide de matéria reproduzida na revista digital Época Negócios originalmente publicada como artigo do escritor em The Guardian tendo como título O significado a vida em um mundo sem trabalho. 

Para Harari, o sistema deverá se valer de um sistema de renda básica universal com a finalidade de alimentar essas pessoas e manter os indivíduos entretidos com algum jogos de realidade virtual em 3D. Ficção pura? Há 50 anos atrás, a internet poderia ser considerada como tal. Para o autor, trata-se de "uma realidade muito antiga". Dá como exemplo o papel desempenhado ao longo dos tempos pelas religiões e pelo consumismo, que sob a ótica dele funcionam como jogos: “Se você reza todo dia, ganha pontos. Se você se esquece de rezar, perde pontos. Se no fim da vida você ganhou pontos o suficiente, depois que morrer irá ao próximo nível do jogo (também conhecido como céu)”. Você também ganha pontos com suas compras disso e daquilo e ganha o jogo se fizer mais pontos do que as outras pessoas.


Referência:

"Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis." Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2018/01/uma-nova-classe-de-pessoas-deve-surgir-ate-2050-dos-inuteis.html?fbclid=IwAR0GdchItKKDZN5aFxIL4UR0DUwuuaTrq05Veg-s_tOvfdeIlGED8owgnlQ. Acesso em: 30 nov. 2020


26 novembro 2020

O objetivo da arte segundo Victor Chklóvski

 

Nestes tempos pandêmicos, estou relendo alguns livros meus, ao mesmo tempo em que vou avançando na leitura de Mundo sem Fim, de Ken Follet. Como releitura, a obra da vez é a A Arte da Ficção, de David Lodge, pela coleção L&PM Pocket, vol. 879, em que o autor desenvolve 50 tópicos sobre a arte de contar uma boa história. No de nº 11, sobre estranhamento, termo cunhado pelos formalistas russos, ele cita Victor Chklóvski (1893-1984), crítico literário, escritor e cenógrafo que atuou antes e depois da Revolução Russa: "A Arte existe para que possamos recuperar a sensação de estarmos vivos; existe para fazer-nos sentir coisas, para tornar a pedra "dura". O objetivo da arte é nos proporcionar a experiência das coisas tal como as percebemos, não como as conhecemos." 


Referências:

LODGE, David. A arte da ficção. Porto Alegre: LP&M, 2017.

VIKTOR CHKLOVSKY. In: Vikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Viktor_Chklovsky. Acesso em: 27 nov. 2020. 


25 novembro 2020

AMAZÔNIA | Frei Gaspar de Carvajal (séc. 16) teve seguidores: tomada e exploração

 



Gaspar de Carvajal (1504-1584), padre dominicano espanhol, encontrava-se em 1541 na primeira travessia pelo rio Amazonas feita por europeus, comandada por Francisco de Orellana, 57 soldados e ele, da nascente peruana até o Atlântico. Em seus relatos de viagem, Carvajal fala dos perigos e agruras que viveram durante os oito meses da viagem, como a fome e os ataques de índios. Muitas vezes enganaram o estômago comendo "couros, cintas e solas de sapato cozidos com algumas ervas, de maneira que era tal a nossa fraqueza que não podíamos ter em pé." Tudo isso em meio a uma variedade bastante grande de peixes, invisíveis à vista destreinada...

Deve-se ao frei o batismo do grande rio como Amazonas, para o qual inspirou-se no mito de mulheres guerreiras da mitologia grega. Ocorre que num dado momento da viagem, os europeus foram atacados por índios liderados por supostas mulheres de extrema valentia e coragem. "São muito membrudas e andavam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com seus arcos e flechas nas mãos", narra Carvajal em seu diário. A ideia de índias guerreiras já era conhecida do espanhóis. Eram de fato índias ou a imaginação as criou, em meio àquele mundo tão diferente da realidade europeia?

Registra Carvajal, para finalizar-se: "É terra temperada, onde se colherá muito trigo e se darão todas as árvores frutíferas. Além disso, está aparelhada para criar todo o gado, porque há nelas muitas árvores como em nossa Espanha, tais como o orégão e cardos pintados e rajados, e outras muitas ervas."

Registrava-se assim uma ideia dos brancos, para o futuro, sobre a exploração da floresta com fins econômicos...


Referências: 

GASPAR DE CARVALHAL. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gaspar_de_Carvajal. Acesso em: 25 nov. 2020.

SALLES, João Moreira Salles. Arrabalde: parte I - A floresta difícil. Piauí, Rio de Janeiro/São Paulo, nov. 2020, p. 44.


Imagem:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Acervo_Museu_do_Senado_(20349015646).jpg Acesso em: 25 nov 2020

21 novembro 2020

Valía la vida

 


"Lo escogí a usted porque me di cuenta de que valía na pena, valia los riesgos, valía la vida..."
- Pablo Neruda

19 novembro 2020

Biblioteca do Vaticano: ameaça de hackers ao seu acervo digitalizado

Considerada uma das instituições de pesquisa mais importantes do mundo, com um vasto acervo de manuscritos (incluindo até mesmos aqueles de origem inca), livros, imagens, moedas, medalhas e obras de arte, a Biblioteca Apostólica Vaticana foi fundada pelo papa Nicolau 5º e é a mais antiga da Europa.

Em 2012 teve início a digitalização de seu material de imenso valor histórico, em termos de 41 milhões de páginas, e em função dos ataques cibernéticos cada vez mais frequentes promovidos por hackers, o Vaticano contratou os serviços de uma empresa de segurança cibernética para a defesa de seu trabalho de digitalização. 

"Temos de proteger nossa coleção online para que os leitores possam confiar que os registros são uma história precisa e inalterada", afirmou Malio Miceli, diretor de informação da biblioteca.


Referências:

BIBLIOTECA APOSTÓLICA VATICANA. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_Apost%C3%B3lica_Vaticana. Acesso em: 19 nov. 2020.

SHERWOOD, Harriet. Anjos robôs. CartaCapital, São Paulo, 18 nov. 2020. QI p. 49.


Imagem:

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codice_Palatino_927_-_part.jpg. Em 19 nov. 2020.

18 novembro 2020

Humor

 




Treinadores estrangeiros não se acertam com a mentalidade dos clubes brasileiros

Recentemente dois treinadores estrangeiros, Eduardo Coudet (Internacional) e Domènec Torrent (Flamengo) desligaram-se de seus respectivos clubes mesmo fazendo ótimas campanhas na Série A do Campeonato Brasileiro. O fato é, como bem salientou o cronista esportivo Leonardo Oliveira, em jornal local: "Não adianta importarmos ideias estrangeiras se pensarmos o futebol com cabeça nacional."


Treinadores estrangeiros trazem na bagagem suas convicções sobre como treinar um time e dificilmente abrirão delas para se sujeitarem aos interesses imediatistas dos dirigentes de clubes, no bagunçado contexto do futebol profissional jogado no Brasil. Não aceitam a postura dos treinadores nacionais, que muitas vezes têm que renunciar às suas convicções de como treinar um time e prepará-lo para as competições, fazendo concessões para manter-se no cargo. A falta de autonomia é tão grande que treinadores da série A mantém-se em média seis meses no cargo, lembra o cronista, em meio ao contexto de um calendário irracional e o imediatismo que norteia a política dos clubes.

17 novembro 2020

"O latim era uma língua muito fácil"

 

Certa vez, quando dava aula como professor de Português para alunas do Curso Normal, 1º ano, o assunto era origens da língua portuguesa. Não me lembro de como apresentei o assunto, a não ser o fato de ter dado alguns exemplos no quadro de algumas palavrinhas em latim bem fáceis de serem identificadas em português. O tempo passou e em prova, na qual tal conteúdo também seria cobrado com alguma pergunta, uma aluna em sua resposta à questão escreveu num dado momento algo assim: O latim era uma língua muito fácil.

Fernando Aramburu, autor de "Pátria", romance que virou série da HBO

 



Nascido em San Sebátian, no País Basco, em 1959, no mesmo ano em que o grupo terrorista ETA começou suas ações, o escritor e ensaísta espanhol Fernando Aramburu, viu seu romance Pátria, grande sucesso literário que vendeu mais de um milhão de cópias em espanhol, tendo atingido mais de 30 países, transformar-se em série homônima da HBO.

Em entrevista recente de jornal (vide referência abaixo), o autor, que reside desde os anos 80 na Alemanha, com a família que construiu, recorda de sua vida em sua cidade natal, o regime franquista e as ações terroristas do ETA que presenciou quando jovem, bem como sua experiência como escritor. Seu romance Pátria, assim como outros trabalhos seus, aborda os comportamentos humanos em meio à violência provocada pelos sérios conflitos de caráter político que chegou a vivenciar. "Trato no livro de temas universais: a família, a dor, o medo, a violência, o perdão e a reconciliação" - afirma ele na entrevista. 

Quanto à adaptação do romance para a TV, diz que não procurou intervir no processo, porque pouco entende de cinema e não quis "incomodar". Emocionou-se bastante de ver seus personagens na tela. "Agora sou incapaz de pensar neles sem colocar as caras dos atores", afirmou.


Referências:

FERNANDO ARAMBURU. In: Wikipedia, la enciclopedia libre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1tria_(s%C3%A9rie_de_televis%C3%A3o). Acesso em: 17 nov. 2020.

VIECELI, Leobnardo. "Fora da democracia, está o inferno". Zero Hora, Porto Alegre, 14-15 nov. 2020. Doc, p. 12-13.


Imagem:

By Aramburu - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=79261387

15 novembro 2020

Marketing eleitoral na Antiga Roma

 


Foto de César Dorneles | Ostia Antica, Roma (muro)

"É preciso que sua campanha eleitoral tenha ares de um grande desfile, magnífico, esplêndido, que apele para o gosto popular e apresente um espetáculo digno e singular. Se possível, é interessante que haja algum tipo de escândalo contra seus oponentes, algo que envolva comportamento criminoso, ou sexo, ou chantagem, o que mais for apropriado ao caráter deles." Atribuído a Quinto Cícero, dando conselhos a seu irmão, candidato ao Consulado.

Referência:
MACKEOWN, J.C.. O livro das curiosidades romanas: histórias inusitadas e fatos surpreendentes do maior império do mundo. Belo Horizonte: Gutenberg, 2011.

13 novembro 2020

Por que Gilberto Gil tornou-se gremista...

 


Estou assistindo pela HBO à série O Negro no Futebol Brasileiro, que também pode ser vista por inteiro no YouTube. A série, como não poderia deixar de ser, destaca o racismo e o preconceito sofridos ao longo das décadas por jogadores negros e pardos, a ponto de terem motivado a profissionalização do futebol no Brasil ter sido motivada, além de outras razões, para evitar-se o constrangimento de se ter negros no quadro social dos clubes, já que nos primórdios do amadorismo, os jogadores eram igualmente sócios dos clubes que eram fundados. Como atleta profissional, ganhando seu salário, passaram a serem apenas empregados das instituições... No episódio 2, além de jogadores veteranos e pesquisadores continuarem a falar sobre o assunto, Gilberto Gil também dá seu depoimento. Como nota engraçada, em meio à questão racial, o grande cantor e compositor da MPB conta que certa vez, encontrando-se em Porto Alegre, teve a oportunidade de assistir a um gre-nal, no qual o Grêmio ganhou por 1x0, gol marcado por num baianoUm jornalista aproveitou a oportunidade para entrevistá-lo depois do jogo, ainda no estádio, e uma das perguntas foi sobre o motivo de Gil declarar-se gremista. Diga-se de passagem, o Grêmio, fundado por pessoas de origem alemã (1903), tem um expressivo passado de não admissão de jogadores de cor negra. Gil respondeu, após dar uma olhada para o céu bem azul ainda visível: Sou gremista porque o céu é azul, a lua é branco e eu sou preto... Uma referência bem-humorada às cores do Grêmio. 

Trump

 

Talvez o Trump aceite o título de Presidente Emérito. Sei lá, não custa tentar! Vou ligar
pro Biden.

Torcedores de futebol já não são tão fiéis como antes...

 


Se dependesse de meu pai, eu seria gremista até hoje e meu irmão, colorado... Mas quando atingi a adolescência, eu mesmo, como bom leonino, escolhi meu clube para torcer, o Sport Club Internacional. Atualmente, porém, minhas preferências clubísticas recaem igualmente sobre o Liverpool Football Club e na Itália, alimento simpatias pelo Nápoles, ou seja, a Società Sportiva Calcio Napoli. Acompanho mais de perto as partidas do clube da cidade do Beatles principalmente pelo fato de que sou um admirador do futebol inglês e seu campeonato nacional que é considerado o melhor do mundo.

Surpreendente? Nem tanto. Sigo a tendência moderna em que a fidelidade a um único clube está virando coisa do passado, segundo artigo de tempos a atrás do excelente jornalista Nirlando Beirão, que infelizmente veio a falecer tempos depois. Sua matéria Réquiem para o torcedor fiel foi publicada em CartaCapital em sua edição de 16/jan/2019.

Segundo ele o fenômeno se deve à globalização do esporte graças a uma massiva exposição na TV de competições futebolísticas internacionais, principalmente as europeias, de qualidade visivelmente superior àquelas que ocorrem no Brasil. Nirlando menciona o pensamento de Alan Tapp, professor de marketing da British Business School: o amor ao time talvez não se modificou, mas a intensidade sim. Um exemplo para ilustrar o fato: a comunidade de torcedores brasileiros do Chelsea, clube londrino, no Facebook, seguida por quase 50 mil pessoas: https://www.facebook.com/ChelseaBrasil/

12 novembro 2020

Alopecia

 

Tenho um certo problema

de alopecia androgenética,
o que é muito mais chique de dizer do que "calvície".

10 novembro 2020

O espaço da poesia

 

O espaço da poesia, que estava morrendo no espaço convencional do livro, tem ocupado as redes sociais. Os jovens abriram um novo espaço. (Mia Couto)

09 novembro 2020

Estudo da diversidade genética do brasileiro poderá auxiliar na prevenção de doenças

 



Segundo a geneticista Lygia da Veiga Pereira, responsável maior pelo projeto DNA do Brasil, a diversidade genética do brasileiro poderá contribuir com avanços na prevenção da hipertensão, diabetes, câncer, sem falar na possibilidade de facilitar estudos de natureza histórica. "Com análise de DNA, será possível dizer quais regiões da África estão na ascendência de cada um dos brasileiros analisados. A gente vai recuperar a história dessas pessoas", afirmou a pesquisadora em entrevista. Gráficos do estudo indicam que "a maior parte da herança materna é de origem africana (36%) e indígena (34%)". Por outro lado, no que diz respeito à herança por parte de pai, 75% é de origem europeia; 14,5%, africana e 0,5%, indígena, o que se explica pela dominação histórica dos machos sobre as fêmeas, como observou a pesquisadora. É importante salientar que o estudo poderá ser aplicado na medicina na interpretação dos testes genéticos. As variações de ordem genéticas podem indicar uma predisposição genética para o câncer, p. ex., ou ser apenas normais, encontradas comumente na população.


Referência:

SILVA, Gabriela da. Lygia da Veiga Pereira: o brasileiro será uma fonte de descobertas para toda a humanidade. Zero Hora, Porto Alegre, 08-09 nov. 2020. Com a palavra, Doc, p. 2-3.

Imagem:

Por Courtesy: National Human Genome Research Institute - [1] (file), Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=212144

Saint-Exupéry ("O Pequeno Príncipe") tomou cafezinhos na Confeitaria Colombo em Porto Alegre

 



Antoine Jean-Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint-Exupéry (1900-1944), escritor, ilustrador e piloto, autor do consagrado O Pequeno Príncipe, começou sua carreira como piloto de linha em 1926, no serviço postal, fazendo voos entre Toulouse, Casablanca (Marrocos) e Dacar (Senegal). Por ocasião da Segunda Guerra, serviu como piloto para as Forças Francesas Livres e também lutou junto aos Aliados. Seu avião foi abatido pelas forças alemãs em voo na região de Marselha.

Como escritor e jornalista, além de ter escrito vários artigos para revistas e jornais, sobre assuntos como a Guerra Civil Espanhola e a ocupação do sul da França pelos alemães, foi autor de oito livros, dentre eles aquele que o notabilizou: Le Petit Prince/ O Pequeno Príncipe (1943), com direito a uma versão até mesmo em esperanto, inspirado num incidente vivido pelo autor no Saara.

Nilo Ruschel (1911-1975), um dos radialistas pioneiros em Porto Alegre - dentre outras ocupações, também escritor, em seu livro Rua da Praia conta que Saint-Exupéry, nos anos 20, ao juntar-se ao serviço postal francês que deu origem mais tarde à Air France, acabou trabalhando numa linha que incluía Salvador, Rio, Florianópolis (onde os pilotos tinham uma casa), Porto Alegre, Pelotas, Montevidéu, Buenos Aires e Santiago do Chile. O aviões na época precisavam de de muitas escalas para se reabastecerem. Na época uma viagem aérea de Montevidéu a Pelotas durava 3h40min. Saint-Exupéry, quando encontrava-se em Porto Alegre, costumava  provar o churrasco gaúcho numa chácara situada na zona sul da cidade, banhar-se no Guaíba e saborear um cafezinho na famosa Confeitaria Colombo da época, situada na Rua da Praia, juntamente com seus intrépidos colegas aviadores, entre 1926 e 1927 (Ruschel) ou entre 1929 e 1931, segundo pesquisas mais recentes.


Referências:

ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Antoine_de_Saint-Exup%C3%A9ry. Acesso em: 09 nov. 2020.

A passagem de Saint-Exupéry pelo Rio Grande do Sul há mais de 80 anos. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2014/03/a-passagem-de-saint-exupery-pelo-rio-grande-do-sul-ha-mais-de-80-anos-4446415.html. Acesso em: 09 nov. 2020.

RUSCHEL, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura: Editora da Cidade, 2009.

05 novembro 2020

Vasco da Gama, o clube que se opôs ao racismo no futebol 100 anos atrás

 




Fundado em 1898, no Rio de Janeiro, por um grupo de imigrantes portugueses e seus descendentes, o Club de Regatas Vasco da Gama foi o primeiro grande clube brasileiro a admitir jogadores negros na modalidade futebol, numa época em que o esporte era visto como um jogo de elite e o racismo contra desportistas de cor negra era a tônica. Tanto é que Flamengo, Fluminense e Botafogo vetavam jogadores afrodescendentes em seus plantéis, ao contrário do Vasco, com jogadores pobres, operários sendo que boa parte deles eram negros ou mulatos. 

Em 1923, ano de sua estreia na 1ª divisão do campeonato carioca, sagrou-se campeão pela primeira vez. Para se verem livres do Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo, juntamente com outros clubes, criaram uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos, e impuseram ao Vasco da Gama a necessidade de se desfazer de 12 jogadores seus, considerados de "profissão duvidosa", todos negros, para que pudesse participar dela. Assim, em 1924 realizaram-se paralelamente dois campeonatos de futebol na cidade, sendo que os vascaínos sagraram-se bicampeão pela liga original - a Liga Metropolitana de Desportes Terrestres. Em 1925 o clube venceu resistências e pôde dessa foram integrar-se à associação fundada pelos seus principais rivais, sob a condição de jogar sempre num campo à parte...

A propósito: sobre o assunto, a série da HBO O negro no futebol brasileiro, episódio 1, trata da questão envolvendo o Vasco.

Referência:
CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMAIn: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Club_de_Regatas_Vasco_da_Gama. Acesso em: 05 out. 2020.

04 novembro 2020

"Ingerir cocô da mãe pode fazer bem ao bebê"

 


Deu na Superinteressante de outubro: de acordo estudo feito na Universidade de Helsinque, Finlândia, após ter analisado a microbiota, que nada mais é do que o conjunto de bactérias do intestino, de recém-nascidos via cesárea, indicou após experimento com 17 mães, "que misturar entre 3,5 e 7 miligramas de fezes a cada 5 gramas de leite materno fez com que a microbiota dos bebês se normalizasse em três semanas - processo que costuma levar até um ano". Isso devido ao fato de que bebês que nascem em parto normal são beneficiados pelo contato direto com determinadas bactérias da vagina da mãe, o que não ocorre com aqueles nascidos de cesárea. Estes podem em função disso não possuírem tais micro-organismos e terem problemas intestinais em seus primeiros tempos de vida, sem falar no fato de poderem ter problemas de asma e alergias, diz a matéria.


Referência:

CARBINATTO, Bruno. "Ingerir cocô da mãe pode fazer bem ao bebê". Superinteressante, São Paulo, out. 2020. Supernovas, p. 11.


03 novembro 2020

Escrever é podar

 


Escrever é podar. É o que faço com minhas postagens tanto em português quanto em esperanto. Às vezes isso ocorre até mesmo depois de postadas nos blogues e compartilhadas no Face, como ocorreu com a última (ontem), sobre a Gripe Espanhola em Porto Alegre, que por sinal vai bem em termos de repercussão: 90 visualizações até hoje de manhã cedo. Pra mim, tá bom. De tempos em tempos, eventualmente ao pôr os olhos em escritos mais antigos, deparo-me com a necessidade de certas modificações ainda que pequenas, principalmente no tocante a tornar o texto mais claro, comunicativo, sem construções inúteis, isso sem falar, é claro, em erros ortográficos na hora da digitação, por exemplo.

02 novembro 2020

A Gripe Espanhola em Porto Alegre | Lições esquecidas.

 



Nas boas casas do ramo ou à venda pela internet, o livro A Bailarina da Morte no Brasil, escrito pelas historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling (Companhia das Letras), trata da Gripe Espanhola no Brasil, sem deixar de lado comparações com a pandemia atual. Delas pode-se concluir que lições não foram aprendidas com a pandemia de 1918, na qual morreram 50 milhões de pessoas no mundo inteiro, algo discutível: pesquisas chegam a duplicar tal número. No Brasil, calculam-se entre 35 a 300 mil mortos. As reações à chamada Gripe Espanhola (que na verdade surgiu nos EUA)* são bem familiares a nós: negacionismo, aproveitamento político e comercial, teorias conspiracionistas, cerceamento do trabalho da imprensa.

Em Porto Alegre, na época com 192 mil habitantes, estimativas oficiais falam em 1.316 mortos. A gripe chegou com o vapor Mercedes, vindo de Rio Grande. Trazia consigo 7 tripulantes infectados, segundo o historiador Moacyr Flores. Aliás, sua difusão no Brasil teve a seguinte trajetória: Recife> Salvador> Rio de Janeiro> Santos> São Paulo. A partir de Recife, alcança ainda Belém e Manaus. Entra no Rio Grande do Sul pelo porto de Rio Grande e daí se espalha, segundo a obra citada acima. 

Vivia-se uma época de eleições e em razão disso o governo estadual de Borges de Medeiros, de caráter positivista e ditatorial, determinou uma censura severa à imprensa. O sal de quinino foi recomendado oficialmente pelas autoridades como uma solução milagrosa para a cura, embora pesquisas médicas concluíssem que causava taquicardia, além de outros males colaterais. 

Na região amazônica, a medicina popular baseada em ervas e frutos foi empregada até mesmo por autoridades sanitárias, em função do conhecimento dos sintomas (mas não das causas...) embora não se negasse a contribuição da ciência médica. Em Porto Alegre, proibiu-se o chimarrão, diga-se en passant... 

É interessante frisar que o negacionismo oficial por parte de setores da classe política da época teve que ceder às orientações de ordem científica quando a seriedade da crise não pôde ser mais ocultada. Segundo Heloísa Sarling, em entrevista de jornal (vide referências abaixo), a sociedade se organizou de forma a criar laços de solidariedade. Não houve tanta indiferença, na comparação com 2020.

* Conhecida igualmente na época como francesa (Espanha), bolchevique (Polônia), inglesa (Pér-sia), peste de Flandres (Alemanha).


Referências:

FEIX, Daniel. Lições (não aprendidas) da Espanhola. Zero Hora, Porto Alegre, 31 out.-1º nov. 2020. Doc, p. 12-14.

TATSCH, Juliano. A Gripe Espanhola no RS e Porto Alegre. Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/geral/2020/06/743161-a-gripe-espanhola-no-rs-e-em-porto-alegre.html#:~:text=Foram%201.316%20%C3%B3bitos%20atribu%C3%ADdos%20%C3%A0,v%C3%ADtimas%20fatais%20em%20Porto%20Alegre. Acesso: 02 nov. 2020

Foto: Museu da Brigada Militar


01 novembro 2020

O ódio à verdade

 



Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam.

>  George Orwell