30 março 2023

A SECA em escala mundial | Idiotização como estratégia de dominação (2) | Projeto humano. E mais.

 



A imprensa é muito séria, 
se você pagar eles até publicam a verdade.

Juca Chaves (1938-2023)
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A idiotização
como estratégia de dominação (2) | 

"Em última análise, o que está envolvido no entretenimento vazio é convencer-nos de que nada pode ser feito e que o capitalismo e o poder opressivo do Estado são tão naturais e necessários como a força da própria gravidade. Por isso, é comum ouvir: 'É algo muito, é verdade, mas sempre houve oprimidos pobres e ricos opressores e sempre haverá. Não há nada que possa ser feito.'". A televisão, vale lembrar, já de há muito tempo serve para os propósitos de propagação dos valores favoráveis ao Sistemão, nenhuma novidade para o distinto leitor e a estimada leitora do Cem Ideias.

fonte A idiotização da sociedade como estratégia de dominação, por Fernando Navarro, publicado na Revista Prosa Verso e Arte, em 19/jun/20.

A seca em escala mundial | 

O risco de escassez d'água no mundo aumenta cada vez mais. "Se não resolvermos, definitivamente haverá uma crise em escala mundial", alerta Richard Connor, coordenador de um levantamento recente da ONU sobre a questão. "A escassez está se tornando endêmica", diz o documento, "juntamente com a aceleração e disseminação da poluição". A quarta parte da população mundial não conta com acesso a serviços de água potável. 3,6% não têm acesso a saneamento básico. Segundo especialistas, onde há abundância de recursos hídricos, como a América do Sul, África Central e Ásia Oriental sofrerão problemas.

fonte CartaCapital de 29/mar/23


Minhas fotos |


Roma, 2015 - Uma mulher dá água ao seu cão usando suas mãos em concha.


Cabeças Pensantes | 

Seria necessário constatar, de um lado, se o projeto humano realizado durante esses seis milênios de anos pelo Homo historicus é o único projeto humano possível e, de outro, observar se hoje não seria necessário fazer alguma outra coisa. 
(Raimundo Panikkar)

Se o domínio das ideias encontra-se revolucionado, a realidade não pode permanecer como ela é.
(G. W. F. Hegel)

Existe uma maneira de contribuir para a mudança. Não se resignar. (Ernesto Sábato)



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27 março 2023

MUSEU NACIONAL: destruição e reconstrução | Estratégias de dominação | Água potável pra lavar carro??? | O "al" de algodão...

 



Palácio de São Cristóvão/ Museu Nacional, Rio de Janeiro


A competição é a lei da selva, 
mas a cooperação é a lei da civilização.

Peter Kropotkin
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Museu Nacional:
destruição e reconstrução

No festival de tragédias que assolou o país nos últimos quatro anos, sobrou até para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, atingido por um  incêndio em 2 de setembro de 2018, que destruiu parte do prédio central, o Palácio de São Cristóvão, sendo que 85% de seu acervo foi perdido. Começado a ser construído em 1808, situa-se na Quinta da Boa Vista e no passado serviu como residência oficial tanto da Família Real Portuguesa bem como da Família Imperial Brasileira. Coube a Pedro 2º diversas reformas, incluindo embelezamentos do jardim. Durante décadas, foi mantido pela UFRJ em péssimas condições, o que foi alvo de denúncias na imprensa. Deu no que deu.

"Já pegou fogo. Quer que eu faça o quê?". Assim reagiu o Inominável, então candidato à Presidência, indagado sobre o incêndio. Em seu desgoverno, sua relação com o  IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não foi das melhoras. Acabou demitindo diretores do órgão, que determinaram a interrupção da construção de uma filial da Havan em função de descoberta arqueológica. O empresário Antonio Shrader, ligado ao movimento monarquista, acabou assumindo tempos depois a superintendência do órgão no estado fluminense e seria responsável pela restauração do museu. Sua ideia era a de transformá-lo num centro turístico dedicado à família imperial... A ideia não foi adiante. Paralelamente a isso, rolou na internet uma fake news segundo a qual a UFRJ tinha planos de transformar o Palácio de São Cristóvão num shopping em homenagem a Marielle Franco.

O tempo passou, o Brasil voltou, e o sociólogo e gestor cultural Leandro Grass (PV) assumiu a presidência do IPHAN. Além da criação de um comitê de apoio à reconstrução, conta com a captação de recursos pela Lei Rouanet e espera o apoio de empresas. A reabertura do Museu está prevista para 2027.

fonte Escombros e promessas, reportagem de Bernardo Esteves publicada em Piauí de mar/23 ||| https://pt.wikipedia.org/wiki/
Paço de São Cristóvão

Imagem Museu Nacional | Estela Neto, CC BY-SA 4.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>, através da wiki Wikimedia Commons



A idiotização 
como estratégia de dominação (1) |

Na Revista Prosa, Verso e Arte (digital), a reprodução de interessante artigo de Fernando Navarro sobre os mecanismos de idiotização da sociedade como estratégia de dominação das massas. "As pessoas estão tão comprometidas com o sistema estabelecido, que são incapazes de pensarem em alternativas contrárias aos critérios impostos pelo poder", diz o articulista logo de início. Para isso ele usa o entretenimento vazio como arma a fim de que as pessoas se acostumem com a vulgaridade e estupidez (tipo BBB...) como algo normal, comprometendo assim uma "consciência crítica da realidade". "No entretenimento vazio tudo é projetado para que o indivíduo suporte estoicamente o sistema estabelecido sem questionar". Assim, livros de autoajuda, que o autor classifica como "autêntica porcaria psicológica" e obras do tipo "como se tornar milionário sem esforço" também servem para criar ilusões. Continua



Secos & Molhados |

Água potável para lavar carro. Algo está errado. *** Perguntar não ofende: pode-se enfrentar a crise climática, com seriedade, mantendo uma economia baseada no consumismo desenfreado? Ora, bolas! Não me venham com essas cúpulas do clima pra inglês ver!

Etimológicas |

Aluno - Do latim alumnus, que por sua vez teve origem no verbo alere = criar, alimentar. as crianças necessitam ser nutridas e cuidadas, não só do ponto de vista físico, mas no sentido de alimento do espírito. Aliás, deve-se ter muito cuidado com pretensas "etimologias" que existem por aí: "aluno" etimologicamente falando não tem nada a ver com "ausência de luz". 

Açúcar, arroz, algodão... - Na língua de Camões, temos muitas palavras que vieram do árabe: alfândega, almôndega, arroz, azeite, aldeia, alface, algema e por aí vai. Nossos antepassados lusos não perceberam que esse "a" inicial tinha a ver com o artigo definido "al" do árabe. Compare açúcar, arroz e algodão com o francês o inglês respectivamente: sucre, rice e cotton/ sugar, rice e cotton.

fonte O prazer das palavras, de Cláudio Moreno (L&PM)


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20 março 2023

O ESCRAVIZADO que fugiu e virou escritor | GLÓRIA MARIA fez história | O SABONETE da purificação | MULHER com calças de homem!

 



A França teve um Mirabeau, mas é o no Brasil que se passam as coisas mais mirabolantes.

Barão de Itararé
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Mahommah G. Baquaqua,
o escravizado que fugiu e virou escritor |

Em 1845, quando a prática já havia sido criminalizada, Mahommah Gardo Baquaqua, nascido em uma região que hoje faz parte do Benin, foi levado à força para o Brasil, onde penou na condição de pessoa escravizada por dois anos. De família muçulmana, falava duas línguas, entre elas o árabe. Vendido inicialmente para um padeiro de Pernambuco, foi obrigado a construir um prédio de pedra. Devido à crueldade de seu dono, além de tentativas de fuga, chegou até mesmo a pensar em suicídio ou matar seu "dono". Acabou sendo vendido para um capitão de barco no Rio de Janeiro, igualmente maldoso para com ele. 

Sua sorte mudou por ocasião de uma viagem a Nova York, na qual acompanhou o capitão, que transportava um carregamento de café. Sua tentativa de fuga foi bem sucedida e assim alcançou a tão sonhada liberdade. Tempos depois, foi para o Haiti, onde aprendeu francês e o criolo haitiano. Esteve no Canadá e entre 1850 e 1853 estudou na Faculdade Central de Nova York, já de volta aos EUA. Em 1854, Baquaqua escreveu uma autobiografia em que narra seus infortúnios como uma pessoa submetida à escravidão. Em 2008 sua vida foi tema de enredo de carnaval através do G.R.E.S.V Recanto do Beija-Flor, em Serra/ES.

fonte https://observatorio3setor.org.br/noticias/bilingue-ele-foi-escravizado-no-brasil-conseguiu-fugir-e-virou-escritor/



Imagem | Mahommah G. Baquaqua: Bruno Veras, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons



Secos & Molhados |

Todo adolescente brasileiro tem direito a um Ensino Médio com história, filosofia e sociologia. Não ter é sabotagem. *** E chegou o outono. Ora se faz de verão, ora de inverno. Não sabe muito bem o que quer da vida. De qualquer forma, é minha estação preferida. *** Por apenas 110 reais você distinto leitor e estimada leitora pode adquirir o sabonete da purificação espiritual! Achou meio carinho? Que nada! Isso é pouco quando se abre os caminhos do Nirvana tomando-se um belo de um banho! *** Estou inclinado a participar em setembro da 46ª Feira Internacional do Livro de Montevidéu 2023. Livros, conferências, cursos, oficinas, mesas redondas, seção de autógrafos, música, poesia, teatro e leituras, sem falar em Montevidéu em si, que há um bom tempo não visito. *** Segundo pesquisa recente do Ipec, 31% dos brasileiros acham totalmente possível de o Brasil tornar-se um país comunista. 13% desconfiam que sim. E o pior é que nem sabem direito o que seja o tal de comunismo, transformado numa espécie de Bicho Papão para adultos.


Glória Maria fez história |

No fim das contas, você [Glória Maria] fez história. Tornou-se a primeira - e, por muito tempo, a única - repórter negra da televisão brasileira. Também foi a primeira negra a apresentar o Fantástico. Você entrevistou celebridades como Michael Jackson, Freddie Mercury e Madona, além de chefes de Estado. Peitou o presidente João Baptista Figueiredo com perguntas incômodas em plena ditadura militar. "Não deixem aquela neguinha da Globo chegar perto de mim", ordenava o general sempre que te avistava entre jornalistas.

> Hélio de la Peña, em Gente, é muita emoção!
matéria publicada em Piauí de mar/23.



Do fazer literário |

O professor conserva os olhos desviado de Chinita. À porta, estende uma mão frouxa para a despedida.
- Até outra vez! E me desculpe, sim, professor?
- "Desculpe-me" - corrige Clarimundo. - O imperativo exigem pronome enclítico. Desculpe-me. Dê-me. Faça-me. Diz isso sem olhar para a interlocutora. Uma mulher com calças de homem! Caminhando pela alameda de palmeiras que conduz ao portão, Clarimundo vai verberando mentalmente os costumes do mundo moderno.

> Fragmento de Caminhos Cruzados, de Erico Verissimo (1935)


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IMPRESSÕES digitais: por que são únicas? | O TEMOR da Rússia | Remake de RENASCER | "SE BORRAR de medo"...

 



Floralis Genérica, que os brasileiros chamam 
de Flor Metálica (Buenos Aires)

Atreva-se a pensar.
Immanuel Kant
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Porto Alegre, 20 de março de 2023


Impressões digitais:
por que são únicas?

"Um equipe de cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, descobriu como as impressões digitais são formadas e como elas conseguem adquirir padrões únicos. Segundo os pesquisadores, esses padrões não se repetem na natureza, graças à combinação de uma sinalização molecular e a anatomia dos dedos em desenvolvimento". Os dermatóglifos, que também atendem pelo nome de impressões digitais, são finas cristas paralelas que cobrem a pele das palmas das mãos e plantas dos pés. "Permitem uma melhor pegada e ajudam seus portadores a entender as estruturas do que se toca." O estudo, no qual participaram biólogos, matemáticos e engenheiros, que a variabilidade no processo de formação dos dedos é a responsável pelos padrões únicos encontrados em cada indivíduo.

fonte Cientistas descobrem porque não há impressões digitais iguais, matéria publicada em www.history.uol.com.br em 26/fev/23, sem indicação do autor


O temor da Rússia |

Leonardo Boff: "O temor da Rússia com a entrada da Ucrânia na OTAN é ter mísseis a três minutos de Moscou, o que coloca a questão da segurança nacional. Que tal a Rússia colocar mísseis em Cuba (dois minutos dos USA) ou na Venezuela (cinco minutos)? Os USA tolerariam? Não é a mesma lógica como na Ucrânia?" Claro, não espere encontrar na grande mídia ocidental tal posicionamento, porta-voz que é dos interesses do Império. De qualquer forma, sou de opinião de que não há mocinhos por um lado e bandidos por outro, naquela tradicional visão estereotipada, ora 100% a favor de um, ora 100% a favor de outro.



Do dicionário de porto-alegrês |

-Ear = Sufixo que origina verbos derivados de substantivos e adjetivos: festear, churrasquear, matear, se fresquear, 
Piazada = Coletivo para crianças de qualquer sexo
Se borrar = Acovadar-se. "Se borrar de medo."
Tunda = Surra, sumanta (de laço)

fonte Dicionário de Porto-Alegrês, de Luís Augusto Fischer 
(L&PM, 2022)




Renascer vai ganhar remake |

Depois do sucesso do remake de Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, a Globo aposta em Bruno Luperi igualmente para a nova versão de Renascer, uns dos grandes sucessos de audiência da Vênus Platinada, levada ao ar em 1993 e também escrita pelo autor de Pantanal. O último capítulo da novela chegou a atingir uma audiência de 90 pontos de ibope em seu último capítulo, algo ainda possível na época. A trama desenvolvia-se em torno do patriarca de uma família, José Inocêncio, interpretado por Antônio Fagundes, tendo como cenário a região de produção de cacau na Bahia. O folhetim global contou ainda com a participação de Marcos Palmeira, Leonardo Vieira, Osmar Prado, Jackson Nunes, Adriana Esteves, Patrícia França e Maria Luísa Mendonça, entre outros. Renascer está prevista para entrar na grade de programação 
em 2024.

fonte https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/de-trama-bombastica-audiencia-por-que-renascer-volta-em-remake-apos-30-anos-96358


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16 março 2023

O OCIDENTE precisa ser mais solidário | João Benévolo explica o Brasil | Origem da expressão gre-nal | Uma mão cheia de dinheiro

 



Triste não é mudar de ideia. 
É não ter ideia para mudar.

Francis bacon
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Porto Alegre, 16 de março de 2023




O Ocidente precisa ser 
mais solidário |

"O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, S. Jaishankar, afirmou recentemente numa entrevista que a Europa tem de deixar de pensar que os problemas da Europa são os problemas do mundo e começar a pensar que os problemas do mundo não são os problemas da Europa", conta-nos Boaventura de Souza Santos em artigo publicado no saite Sul21 em 6/mar/23. Segundo ele, "o mundo do sul global enfrenta uma série de desafios a que o Ocidente não tem dado qualquer prioridade para além da exuberância retórica, sejam eles as consequências da pandemia, os juros da dívida externa, os impactos da crise climática, a pobreza, a escassez de alimentos, a seca e os altos preços 
da energia." 

No caso da pandemia, por exemplo, as grandes empresas de produção de vacinas do hemisfério norte  não abriram mão dos direitos de patente a fim de que facilitassem com isso o acesso à vacina das populações dos países do sul global. "Não admira que os embaixadores da Europa e dos EUA não tenham qualquer credibilidade ou autoridade para exigir a estes países que apliquem sanções à Rússia." Aliás, lembra o diretor emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, por outro lado o auxílio veio sobretudo da Rússia e da China...

Texto completo do artigo



Um sentimento de admiração e inveja |

Erico Verissimo em Caminhos Cruzados: João Benévolo mira o carro com olho triste. O que sente não é raiva. O Sebastião, que também está desempregado, tenta impingir-lhe ideias comunistas. Diz que o dinheiro está mal distribuído no mundo, uns têm demais, outros têm de menos; uns tomam banho em champanha, outros morrem de fome. Mas o sentimento que os ricos despertam em João Benévolo é de admiração e inveja. João Benévolo explica o Brasil.



Secos & Molhados | Não me considero uma pessoa bairrista. Só não me falem mal do meu bairro! *** E a Rússia continua com sua "operação militar especial". Imagine se fosse guerra. *** Acabei de ler um livro de ficção em que dois capítulos constituem em apenas uma frasezinha bem curta! Há autores meio preguiçosos. 😀 *** A classe política gaúcha evoluiu bastante. Sinto orgulho dela. Até cem anos atrás os perrengues entra partidos eram resolvidos no campo de batalha, com direito a degolas por ambas as partes. *** Pelo visto o Inter desaprendeu a vencer o gre-nal. Aliás poucos sabem, mas a expressão foi criada em 1926 pelo jornalista Ivo dos Santos Martins, um sujeito de muitas qualidades, mas gremista, "cansado de escrever por extenso os nomes dos clubes", conta a Wikipédia. *** Abaixo essa reforma cretina do Ensino Médio levada a cabo pelo desgoverno Bolsonaro, o pior da história do Brasil! 😱

O que eles disseram |

Existe um assunto sério por trás de toda comédia. (Jack Nicholson) *** A falta de uma resposta também é uma resposta. (Ditado alemão) *** Nada é bastante para quem considera pouco o suficiente. (Confúcio) *** O melhor molho é o apetite. (Ditado francês) *** Uma mão cheia de dinheiro tem mais força do que duas mãos cheias de verdade. (Provérbio dinamarquês) *** Em ano eleitoral o ar está cheio de discursos - e vice-versa. (Joseph Nolau)


11 março 2023

09 março 2023

BISNETOS deslumbrados | RACISMO à brasileira | "ACTA DIURNA", o jornal da Roma Antiga | E mais.

 


Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende.

Guimarães Rosa
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Porto Alegre, 9 de março de 2023


Bisnetos deslumbrados | A soberba de superioridade ética e moral deslumbra os bisnetos [de imigrantes italianos]. O que não falta é gringo* enaltecendo-se pela narrativa da superação dos bisavós. Poucos destes cidadãos de bem se interessam em pesquisar que o bisnonno teve que detonar os pulmões trabalhando em mina de carvão por uns trocados que permitissem iniciar uma lavoura na colônia teve que ser agregado pela terça** na colônia alemã para pagar as contas, que o outro nonno implorou para poder ajudar na estação da ferrovia em troca de uns pilinhas* que dessem um pouco de segurança além do cotidiano escambo. 

(...) Caso a Serra Gaúcha não compreender o próprio passado de dificuldade e reverter isso numa cultura de respeito para com o outro, caso não refletir sobre a imagem que está consolidando perante o Brasil, o dano vem. E vai faltar vinho para afogar as mágoas.

> Eliseu Demari, jornalista, em texto divulgado no Facebook (fragmento)

* No RS, gringo é usualmente usado para referir-se a descendentes de italianos. ** Forma de parceria agrícola em que uma das partes em que uma das partes recebe um terço da colheita. *** Trocados (dinheiro miúdo).




Racismo à brasileira | Esse mito (da democracia racial) já faz parte da educação do brasileiro. E esse mito, apesar de desmistificado pela ciência, a inércia ainda é forte e qualquer brasileiro se vê atrás desse mito. Se você pegar um brasileiro até em flagrante em um comportamento racista e preconceituoso, ele nega. É capaz de ele dizer que o problema está na cabeça da vítima que é complexada, e ele não é racista. Isso tem a ver com as características históricas que no nosso racismo assumiu, um racismo que se constrói pela negação do próprio racismo. 

> Kabengele Munanga, antropólogo congolês


Acta Diurna, o jornal da Roma Antiga | Sim, os romanos também tiveram seu jornal, que por sinal durou muito mais do que os nossos: uns cinco séculos. Era a Acta Diurna (registro diário). No governo de Júlio César, era uma grande placa. Com o tempo, passou a ser gravado em placas de pedra, expostas no Fórum. Alguns escravos escribas faziam cópias para seus donos. Podia-se também adquirir cópias em papiro. A Acta tinha seus "repórteres", que faziam a cobertura jornalística nos tribunais, templos e Senado. 

Além de éditos dos magistrados, decretos senatoriais, negócios, também tratava de outros assuntos diversos como festas, resultado de corridas de biga, nascimentos, aniversários, divórcios, mortes. A parte reservada à astrologia, escândalos e notícias bizarras fazia muito sucesso. Um triângulo amoroso envolvendo uma mulher da alta sociedade, seu maridinho senador e um gladiador? Uma galinha nasceu com três cabeças? Notícia na certa!

fonte Meu Chefe é um Senhor de Escravos, de Vicki León (Globo)



O que eles disseram |
A História do Brasil não é a mesma no Paraguai.
(Millôr Fernandes) >>> Nunca usei bombacha, não gosto de chimarrão nem de me lembrar da última vez que subi num cavalo. Aliás, o cavalo também não gosta. (Luis Fernando Verissimo) >>> Papai e mamãe eram muito crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezesseis e eu três. (Atribuído a Billie Holiday)



06 março 2023

ESCRAVIDÃO moderna e jornalismo | Tubiacanga | Tradição antidemocrática | Etimologia de "feira"



Há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas.

Machado de Assis
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Porto Alegre, 06 de março de 2023


Escravidão moderna 
e jornalismo |

Sandra Bitencourt, jornalista e doutora em comunicação e informação pela UFRGS, em seu artigo Bento Gonçalves, jornalismo e a escravização moderna, publicado no saite A Terra é Redonda em 01/mar/23, chama a atenção para o fato de que a grande imprensa, diante do escândalo de trabalho escravo envolvendo três vinícolas de Bento Gonçalves, apenas contentou-se em lamentar o o, ouvir lideranças, produtores, autoridades e governo a respeito da questão e alertar para que não se incrimine uma região inteira em função do execrável episódio, promovendo-se boicote. Só. 

A jornalista elaborou 10 perguntas de interesse público e que foram deixadas de lado. Algumas delas: "Tem como uma comunidade desse porte, entrelaçada em relações diretas e largas, alegar que ninguém sabia da escravidão?". "Qual o juízo que a comunidade faz desse episódio?" "Há racismo? São xenófobos?" "Há quanto tempo isso ocorre e que com que extensão?" "Como são tratados os trabalhadores da própria região e outros também imigrantes?" Bem, quanto a mim penso que isso seria pedir demais de uma mídia atrelada aos interesses do grande capital, como o distinto leitor e a estimada leitora do Cem Ideias sabem muito bem...

 

Tubiacanga |

"Tubiacanga era uma pequena cidade de três ou quatro mil habitantes, muito pacífica, em cuja estação, de onde em onde, os expressos davam a honra de parar. Há cinco anos que não se registrava nela um furto ou roubo. As portas e janelas só eram usadas... porque o Rio as usava." Eis um extrato de um dos contos de Lima Barreto que estou lendo e que tem como título A Nova Califórnia. O notável escritor, cuja obra aos poucos vai sendo valorizada como devia, conta em seguida que o único crime devidamente anotado no "pobre cadastro" tinha a ver com o assassinato, por ocasião das eleições municipais, de alguém da oposição, o que "em nada alterou os hábitos da cidade", às voltas com suas exportações de café. Bem, apenas uma palhinha da história e seus inacreditáveis desdobramentos...

fonte Contos Completos de Lima Barreto. Organização e introdução de Lilia Moritz Schwarcz (Companhia das Letras).

Tradição antidemocrática |


O exército brasileiro tem uma tradição antidemocrática que vem desde 1889, quando derrubaram uma monarquia constitucional para instaurar uma ditadura e, subsequentemente, uma república oligárquica. Desde então, nunca saíram da vida política do país, ora participando das eleições, ora dando golpes. À exceção do único período de democracia de massas anterior à Constituição de 1988, a chamada República Populista (1945-64), tivemos mais golpes do que eleições neste país.

> Miguel Lago, em seu artigo Prendam os perfis!, publicado em Piauí de fev/23.



Etimológicas |

Feira = Em sentido religioso, feira veio do latim feria, que significava dia de festa, de repouso. Disso resultou em férias, feriados (feriatus em latim: o que está em festa, o que descansa. Os mercadores iam à praças públicas em dias festivos para vender suas mercadorias. Feria virou feira, no sentido comercial. No séc. 3, Constantino "santificou os dias da semana como o nome de feria, com o sentido de dia festivo, de comemoração religiosa". O dies solis (dia do Sol) virou prima feria, o dies lunae (dia da Lua), secunda feria, o dies Martis (Dia de Marte), tertia feria, etc, etc. No séc. 4, por influência da Santa Madre Igreja, prima feria deu lugar ao Dominicus dies (dia do Senhor) e septima feria virou sabbatu, dia em que os primeiros judeus cristãos se reuniam para expressar sua fé. Somente a língua de Camões manteve o uso de feira

fonte A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta (Campus, 2002)


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