06 março 2023

ESCRAVIDÃO moderna e jornalismo | Tubiacanga | Tradição antidemocrática | Etimologia de "feira"



Há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas.

Machado de Assis
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Porto Alegre, 06 de março de 2023


Escravidão moderna 
e jornalismo |

Sandra Bitencourt, jornalista e doutora em comunicação e informação pela UFRGS, em seu artigo Bento Gonçalves, jornalismo e a escravização moderna, publicado no saite A Terra é Redonda em 01/mar/23, chama a atenção para o fato de que a grande imprensa, diante do escândalo de trabalho escravo envolvendo três vinícolas de Bento Gonçalves, apenas contentou-se em lamentar o o, ouvir lideranças, produtores, autoridades e governo a respeito da questão e alertar para que não se incrimine uma região inteira em função do execrável episódio, promovendo-se boicote. Só. 

A jornalista elaborou 10 perguntas de interesse público e que foram deixadas de lado. Algumas delas: "Tem como uma comunidade desse porte, entrelaçada em relações diretas e largas, alegar que ninguém sabia da escravidão?". "Qual o juízo que a comunidade faz desse episódio?" "Há racismo? São xenófobos?" "Há quanto tempo isso ocorre e que com que extensão?" "Como são tratados os trabalhadores da própria região e outros também imigrantes?" Bem, quanto a mim penso que isso seria pedir demais de uma mídia atrelada aos interesses do grande capital, como o distinto leitor e a estimada leitora do Cem Ideias sabem muito bem...

 

Tubiacanga |

"Tubiacanga era uma pequena cidade de três ou quatro mil habitantes, muito pacífica, em cuja estação, de onde em onde, os expressos davam a honra de parar. Há cinco anos que não se registrava nela um furto ou roubo. As portas e janelas só eram usadas... porque o Rio as usava." Eis um extrato de um dos contos de Lima Barreto que estou lendo e que tem como título A Nova Califórnia. O notável escritor, cuja obra aos poucos vai sendo valorizada como devia, conta em seguida que o único crime devidamente anotado no "pobre cadastro" tinha a ver com o assassinato, por ocasião das eleições municipais, de alguém da oposição, o que "em nada alterou os hábitos da cidade", às voltas com suas exportações de café. Bem, apenas uma palhinha da história e seus inacreditáveis desdobramentos...

fonte Contos Completos de Lima Barreto. Organização e introdução de Lilia Moritz Schwarcz (Companhia das Letras).

Tradição antidemocrática |


O exército brasileiro tem uma tradição antidemocrática que vem desde 1889, quando derrubaram uma monarquia constitucional para instaurar uma ditadura e, subsequentemente, uma república oligárquica. Desde então, nunca saíram da vida política do país, ora participando das eleições, ora dando golpes. À exceção do único período de democracia de massas anterior à Constituição de 1988, a chamada República Populista (1945-64), tivemos mais golpes do que eleições neste país.

> Miguel Lago, em seu artigo Prendam os perfis!, publicado em Piauí de fev/23.



Etimológicas |

Feira = Em sentido religioso, feira veio do latim feria, que significava dia de festa, de repouso. Disso resultou em férias, feriados (feriatus em latim: o que está em festa, o que descansa. Os mercadores iam à praças públicas em dias festivos para vender suas mercadorias. Feria virou feira, no sentido comercial. No séc. 3, Constantino "santificou os dias da semana como o nome de feria, com o sentido de dia festivo, de comemoração religiosa". O dies solis (dia do Sol) virou prima feria, o dies lunae (dia da Lua), secunda feria, o dies Martis (Dia de Marte), tertia feria, etc, etc. No séc. 4, por influência da Santa Madre Igreja, prima feria deu lugar ao Dominicus dies (dia do Senhor) e septima feria virou sabbatu, dia em que os primeiros judeus cristãos se reuniam para expressar sua fé. Somente a língua de Camões manteve o uso de feira

fonte A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta (Campus, 2002)


Mais |




2 comentários:

  1. Maravilhoso Cem Ideias , cada tópico muito esclarecedor e relembra a nós momentos que tvz tenhamos guardados na memória.
    Tbm foi muito bom o olhar sobre que as pessoas não estão em sua totalidade se preocupando com o bem estar geral dos Brasileiros que o preconceito é gritante ainda no Brasil assim como a banalização de certos atos cruéis para com parte de nosso povo.
    São tbm os nordestinos a vender redes pelas praias de nosso litoral e que durante o verão dormem e são colocados sem nenhum cuidado em barracões se a mínima consciência de que é preciso de cuidados para com eles.
    Sempre fugimos do que nós faz mal , ainda engatinhando por melhorias em nossa situação de governabilidade.
    Precisamos mesmo de políticos que mantenham a nossa vida mais confortável para sermos felizes.

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  2. Pois é, há um longo trabalho pela frente...

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