31 outubro 2020

FUTEBOL | Os últimos dias de Messi no Barcelona

 



A era de Messi como jogador do Barcelona muito provavelmente está chegando ao fim. Seu contrato com o clube catalão termina em 30 de junho de 2021 e ele já expressou publicamente seu desejo de não continuar servindo a tradicional camiseta com listras azuis e vermelhas do time. Em agosto passado pediu para sair, numa equivocada interpretação particular de seu contrato. O jogador entendia que poderia procurar outro clube logo ao final da temporada, o que não se efetivou. O clube afirmou que tinha respaldo jurídico para negar o pedido. Uma rescisão do contrato valeria uma multa de 700 milhões de euros e em razão disso Messi voltou atrás, até pelo fato de que um processo jurídico poderia levar meses para acabar.

O fato é que o jogador, que chegou ao Barça com a idade de 12 anos, vindo do Newell's Old Boys, está descontente com o clube que o projetou internacionalmente. O clube não vai bem em termos de gestão e isso se expressa em termos de decisões, como o gasto de milhões de euros em contratações de jogadores que não surtiram o resultado esperado, sem falar na perda de titulares como Puyol, Xavi, Alves e Iniesta e mais recentemente Luis Suárez.

Em 2021 talvez venhamos a ter Lionel Messi no Manchester City, algo que ele considera como uma das alternativas.


Referência:

PUNTI, Jordi. Adeus à espreita. Piauí, Rio de Janeiro/São Paulo, out. 2020, p. 90.


29 outubro 2020

Jeferson Tenório, patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre 2020 (virtual). Pinceladas de uma entrevista.

 



Jeferson Tenório, nascido no Rio de Janeiro em 1977, mas radicado em Porto Alegre desde a adolescência, com sua mãe, foi graduado em Letras pela UFRGS, onde fez mestrado sobre literaturas luso-africanas e atualmente é doutorando em teoria literária na PUC-RS. Atua como professor de língua e literatura na rede privada de ensino e na qualidade de escritor já lançou três romances:  O Beijo na Parede (2013), sobre as carências material e afetiva das pessoas marginalizadas pela sociedade,  Estela sem Deus (2018), que aborda os estigmas sociais vividos por crianças e adolescentes negros que vivem nas periferias, e O Avesso da Pele (2020), sobre a relação entre pai e filho e sobre suas lutas particulares para enfrentar a questão do racismo.

Em entrevista recente ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele abordou assuntos referentes a sua escolha como patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre e a experiência que isso implica, bem como suas vivências como professor e escritor. Seguem algumas pinceladas sobre a matéria.

O patrono e a Feira

Tenório sente-se gratificado pela escolha sua como patrono da Feira do Livro, ainda mais pelo fato de ser o primeiro escritor negro a ocupar a função, neste momento em que o evento vive um novo momento de maior alinhamento com temas relacionados com a contemporaneidade, tal como o racismo. A Feira ocorre interruptamente desde 1955 na capital gaúcha, normalmente em sua Praça da Alfândega e arredores, neste ano ocorrerá de uma maneira virtual em função da pandemia, de 30/out. a 15/nov., com a presença de várias figuras ligadas à vida literária e cultural, dentre elas a escritora chilena Isabel Allende. As atividades online serão desenvolvidas diariamente e com lives às 18h e 19h30. 

Detalhes em https://feiradolivropoa.com.br/

De leitor a escritor

Começou a escrever antes de ser leitor, afirma ele na entrevista. Mantinha diários desde os 13 ou 14 anos. Com a idade de 18 anos, escreveu uma novela em folhas de ofício, com cerca de 200 páginas, calcada não em leituras, mas em telenovelas a que assistia. Mais tarde, já como estudante de Letras, torna-se um leitor voraz, passando a selecionar mais suas leituras. Vir a escrever e publicar romances foi o passo seguinte.

Ser professor neste país

Em O avesso da Pele, seu livro mais recente, o protagonista é um professor. Para o autor, é uma espécie de homenagem dos professores que ficaram até o fim. O prof. Henrique é um desiludido com a educação, mas não desiste da profissão. O entrevistado expressa sua admiração pela classe, já que muitas vezes os professores tiram dinheiro do próprio bolso com vistas a um atendimento melhor de seus alunos. Em relação às aulas virtuais da realidade presente, considera-se um privilegiado por trabalhar numa escola particular. Consegue aprofundar certos assuntos que antes não era possível. É um contexto diferente do professor que está na linha de frente da guerrilha da escola pública, afirma.

A questão do racismo

Quando pessoas negras ocupam determinados espaços pela primeira vez, algumas pessoas dizem que isso não deve ser ressaltado, como se ressaltasse o racismo. E também há quem pense que, por uma pessoa negra ter chegado a esse espaço, o racismo terminou. Isso é muito perigoso. Podemos dar um passo atrás justamente por achar que o jogo já está ganho e não é mais necessário discutir o tema alerta Jeferson na entrevista.


Referências:

Jeferson Tenório. Literafro: o portal da literatura afro-brasileira. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/1239-jeferson-tenorio. Acesso: 29 out. 2020.

LUCCHESE, Alexandre. "As feiras literárias devem estar atentas ao que ocorrem no mundo". Zero Hora, Porto Alegre, 24-24 out. 2020. Doc, p. 2.

27 outubro 2020

Só há dois partidos: o da exclusão e o da inclusão

 


Acompanho com interesse as colunas do Prof. Francisco Marshall, historiador, arqueólogo e professor da UFRGS, no jornal de domingo. Na última, ele nos aponta para a existência de dois únicos partidos: do egoísmo e da empatia. Eu falaria também em termos de partido da exclusão e partido da inclusão. "Em última instância, que é também um fundamento, ergue-se a pergunta: a ação política visa ao interesse particular ou ao bem comum? Ganhos privados ou interesse público? Benefício de um grupo ou classe ou harmonia social? A sobrevivência e a qualidade de vida de poucos ou de todos?"

Não se trata, de qualquer forma, de idealizarmos agremiações políticas que de uma forma ou de outra têm um pauta voltada para o social. Também se perdem muitas vezes na ideia de poder acima de tudo, fazendo concessões aqui e ali, participando de uma forma ou de outra do mesmo jogo sujo de barganhas. Ainda estamos muito longe do amadurecimento consciencial.

25 outubro 2020

Anotações & pirações do blogueiro (1)

 


Religiões não apontam caminhos. Elas impõem.

Ismos e visão holística são como a água e o azeite.

Os primeiros cristãos repartinham o pouco que tinham entre eles. "Mas isso é comunismo!", exclamaria um fariseu indignado.

Alexandre, Felipe... Por que meninas não são batizadas com o nome de Cleópatra?

Ivo vê a uva. A vaca é do Olavo. Minha professora alfabetizadora era chegada em aliterações poéticas.

A liberdade do oprimido é aquela do cão acorrentado.

O bicho-papão foi a primeira fake-news.

Acreditar que tudo seja obra do acaso, numa mera interação de forças cegas no Universo, é uma ideia tão absurda quanto a crença num inferno eterno.

23 outubro 2020

O despertar da consciência espiritual

 

A Ufologia Espiritualista, também chamada de Esotérica, e o contato com seres de civilizações superiores via canalização vai despertando paulatinamente pessoas no mundo inteiro para as questões espirituais, sob abordagens inéditas e mais aprofundadas. Na Nova Terra que se avizinha, o intercâmbio cada vez mais direto com outras civilizações vai mudar radicalmente a percepção do Universo por parte dos terráqueos, integrados então em todos os sentidos com a comunidade interplanetária.

Enquanto isso...


Enquanto isso, o Brasil é o campeão mundial de homicídios, campeão mundial de acidentes de trânsito, campeão mundial de assassinatos de defensores do meio-ambiente, campeão mundial de assassinatos de gays e uma dos países mais corruptos do Mundo! Enquanto isso reina o famoso jeitinho, o levar vantagem, o passar a perna nos outros. Sem falar na atual situação política, em que o país virou simplesmente a chacota do Mundo, que se escandaliza com tudo isso que está aí!

22 outubro 2020

Panlatino | A língua planejada criada por um diplomata goiano

 



William Agel de Mello, 83 anos, é um ex-diplomata goiano que chegou a trabalhar junto a Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. Seu gosto pelo estudo das línguas resultou na criação do Dicionário Geral das Línguas Românicas e o Dicionário Geral das Línguas Românicas na Península Ibérica. Devido ao fato de que alguns léxicos de determinados idiomas ainda não existiam, chegou a visitar certos lugares onde eram falados, como a Sardenha, para estudar o sardo e compor seus dicionários sardo-português e português-sardo. A língua românica que mais lhe deu trabalho foi o romeno, em função da grande influência das línguas eslavas sobre seu léxico.

Como poliglota, acabou concretizando uma ideia desde sua adolescência de criar uma língua planejada, que a chamou de Panlatino, baseado nas línguas e dialetos neolatinos, com o objetivo de desbabelizar o mundo, segundo suas próprias palavras. Segundo ele, o Panlatino foi criado matematicamente, por computador, não seguindo o exemplo do esperanto, que para ele é uma língua artificial formada a bel-prazer, sem um critério, o que convenhamos mostra a falta de um conhecimento maior sobre a criação de Zamenhof. Disso resulta que a título de exemplo Recordo hata hoi. Va tenir l'inspiración en una note d'insomnia quer dizer Lembro até hoje. Tive a inspiração numa noite de insônia, na língua de Camões. 

O Panlatino mereceu alguma atenção por parte do mundo acadêmico. Além de dedicar-se a ele, seu autor ainda escreveu livros de ficção e trabalhou com traduções.

Referência: 
SAGGESE, Ana. Recordo hata oi. Piauí, Rio de Janeiro, out. 2020, p. 12.

21 outubro 2020

Mistério | O dia em que Roberto Carlos desapareceu

 

Nos anos 60, Notícias Populares era um jornal paulistano famoso por suas manchetes sensacionalistas, bem ao gosto da chamada imprensa marrom. Uma delas, que ficou famosa na época, relacionava-se com o popularíssimo cantor e compositor Roberto Carlos, que encontrava-se em viagem de férias em Nova York. Seu empresário, num belo dia, não conseguia encontrá-lo de jeito nenhum. O jornal, no dia seguinte, tacou-lhe a seguinte manchete de capa: Desapareceu Roberto Carlos.

L.F. Verissimo: ficção de integração no racismo à brasileira

 


Lá [nos EUA], o racismo é uma questão nacional. Aqui, um a ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece. (Luis Fernando Verissimo)


Referência:

VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

20 outubro 2020

Fernanda Montenegro fez 91 anos. Um pouco sobre sua grande carreira.

 



Nas livrarias, já algum tempo, Fernanda Montenegro: prólogo, ato, epílogo: memórias, um belo livro de memórias sobre a vida de Fernanda Montenegro, uma das grandes estrelas brasileiras do teatro, TV e cinema, que acaba de completar91 anos de existência. Seguem abaixo apontamentos e curiosidades que extraí dessa obra digna de ser lida principalmente pelos seus admiradores, como eu:

Arlette Pinheiro da Silva Torres, nome de casada, nasceu em 1929 no Rio de Janeiro. Seu pai era marceneiro, de uma família emigrada dos Açores e sua mãe era de origem italiana da Sardenha.

Aos 15 anos de idade, quando estudava fazia um curso ténico de secretariado, ela foi bem sucedida num curso juvenil de locutores para a Rádio MEC, que acabou sendo seu primeiro emprego. O primeiro programa de que participou foi um melodrama sobre a Revolução Farroupilha. Fazia o papel de Manuela, uma namorada de Garibaldi. Para sua família, isso foi motivo de um certo orgulho pelo fato de Arlete ter feito tal papel: Garibaldi foi um grande herói no processo de unificação da Itália.

Na rádio, tinha lições de português, declamação, logopedia, sendo que a emissora contava com uma ótima biblioteca e discoteca, às quais ela tinha acesso. Acabou trabalhando durante dez anos na rádio e quando começou a escrever para programas, adotou o pseudônimo que a fez famosa: Fernanda Montenegro.

Em 1950 estreiou no teatro na peça Alegres canções na montanha. O elenco contava ainda com Nicette Bruno, Beatriz Segall e Fernando Torres (1927-2008), com quem Fernanda casou dois anos depois e teve dois filhos: Cláudio Torres, diretor de cinema, e Fernanda Torres, artista e escritora. Seguiram-se  ao longo da vida outros inúmeros trabalhos teatrais que a tornaram reconhecida com grande atriz. Nos anos 50 e 60, participou de centenas de teleteatros primeiramente na TV Tupi e depois nas TVs Rio e Globo. Posteriormente atuou em muitas telenovelas. No livro, ela afirma que a mais memorável cena de novela de que participou foi aquela com a qual contracenou com Paulo Autran em Guerra dos Sexos (Globo, 1983). Uma cena com muita comicidade entre os dois personagens Charlô e Otávio, sem ensaio prévio por falta de tempo... Inesquecível igualmente por muitos telespectadores.

Atuou também no cinema em várias produções, dentre elas nos filmes Tudo Bem (1978), Eles não usam Black-tie (1981), Olga (2004), O Tempo e o Vento (2013), sem falar em Central do Brasil (1998), de Walter Salles, através do qual ela fez jus a um reconhecimento internacional ao ser uma das finalistas do Oscar na categoria de Melhor Atriz, graças ao seu papel como Dora, uma ex-professora que ganha a vida por meio de pequenos trambiques. Em 2003 o Emmy Internacional a premiou como Melhor Atriz por sua participação no filme Doce de Mãe.


Referência:

MONTENEGRO, Fernanda. Prólogo, ato, epílogo: memórias / Fernanda Montenegro com a colaboração de Marta Góes. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

19 outubro 2020

Meus tempos de colégio agrícola

 



Depois de concluir a segunda série do antigo Ginásio, por decisão de meu pai, tive que mudar de escola, com vistas a posteriormente fazer um curso profissionalizante, no caso, o curso de formação em técnico rural, designação na época, hoje chamado de agrotécnico. Assim saí de uma boa escola próxima a minha casa para estudar em Cachoerinha, município que faz divisa com Porto Alegre, num período de minha vida de estudante entre 1968 e 1973, no caso como aluno do Colégio Agrícola Estadual Daniel de Oliveira Paiva, na designação de hoje, com o acréscimo de "estadual". 

Foi uma mudança e tanto. Seguiram-se dois anos para a conclusão do Ginásio e depois mais quatro  em função do curso profissionalizante de nível médio. Na verdade, não tinha nenhuma vocação para a área. Mas enfim, naquela época, não tinha não querer. Fui... Quando comecei a cursar o curso técnico, aos poucos fui me acostumando com a rotina num regime de semi-internato, no meu caso: meu horário de estudos compreendia manhã e tarde, com a necessidade de almoçar na escola. Tinha colegas não só da região de Porto Alegre, como eu, mas também de outras cidades do interior do Estados, estes em regime de internato.

Estudava pela manhã matérias que incluíam aquelas específicas do curso, sendo que a parte da tarde era dedicada a aulas práticas: fazer canteiros, podar árvores frutíferas, aulas de direção de trator, o trato com galinhas e porcos etc. Durante dois anos seguidos, em março, meus colegas e eu passamos pela experiência de cortar arroz na Estação Experimental do Arroz - IRGA, vizinha à escola. 


Não posso dizer que minha vida de estudante secundarista não tenha sido boa, principalmente quando um grupo de que eu fazia parte venceu as eleições para o grêmio estudantil da escola, eu como secretário geral. Era um grêmio muito ativo: campeonatos anuais com várias modalidades esportivas (futebol de campo, futsal, basquete, vôlei, handebol) e xadrez, no qual sempre fui um dos representantes de minha turma, junto com outro colega, o que resultou em três medalhas de campeão na modalidade. Eu jogava xadrez desde criança. Além disso, havia a promoção de bailes e "reuniões dançantes", por exemplo, sem falar que o grêmio era responsável pelo bar do colégio.

Acabei fazendo vestibular em Letras na UFRGS, fui bem sucedido e dessa forma mais uma etapa veio a iniciar-se em minha como estudante, num outro ambiente completamente diferente. Lembro-me de   que nos primeiros tempos tinha muita saudade de minha escola, principalmente do muito que ela representou em termos de vida social...


Coleção lançada pelo MEC: contos de fadas tradicionais alterados em nome da moral...

 


Leio na coluna de Cláudia Tajes em Zero Hora de sábado-domingo, que o MEC acabou de lançar uma coletânea de 40 livros chamada Conta pra Mim, em que a clássicos da literatura infantil foram simplesmente foram adulterados em seus enredos em nome de uma moral conservadora e antiquada. Assim, cita a cronista, em João e Maria, a mãe das crianças era muito boazinha e os irmãos foram largados na floresta apenas para darem um passeio, nada de beijo de Branca de Neve em seu príncipe, no final da história e um final provavelmente feliz também para o Lobo Mau.

Suplente de senador, uma excrescência da política brasileira

 


Pode haver algo de mais esdrúxulo na política brasileira do que a figura do suplente de senador? Em casos previstos pela lei, como morte, renúncia ou impeachment do titular, o sujeito assume o cargo, sem ter sido conduzido pelo voto, mas simplesmente por ter sido indicado para a função e que muitas vezes é uma pessoa totalmente desqualificada para a vida parlamentar, como muitos eleitos, diga-se de passagem. Ora é um parente próximo, ora o próprio financiador da campanha. Arre!

16 outubro 2020

Perguntas que os profes já ouviram 1.000 vezes!...

 


- Professor(a), é pra copiar?

- É pra fazer agora?

- Vai cair na prova?

- Vale nota?

- O(a) senhor(a) considera meio-certo?

- O(a) senhor(a) trabalha ou só dá aula?

- O trabalho em dupla pode ser com três?

- Por que o(a) senhor(a) não faz um trabalhinho pra aumentar a nota?

- Profinho(a), tem como adiar a prova?

- A prova pode ser a lápis?

- A prova é com consulta?

- O(A) senhor(a) já corrigiu as provas?

- Por que o(a) senhor(a) veio hoje?

- Se faltar dois pontos, o(a) senhor(a) me dá?

14 outubro 2020

Machado de Assis gostava de jogar xadrez

 




A revista Ilustração Literária (Rio de Janeiro), em sua edição de junho de 1877, dá conta de que Machado de Assis não só jogava xadrez, mas era um estudioso a respeito do jogo. A publicação fala em determinado artigo sobre o crescimento do número de seus aficionados, que o praticam numa determinada associação, e cita Machado como um deles: O "match" que está sendo efetivado atualmente é o dos Srs. Machado de Assis e Arthur Nopoleão, dando este ao primeiro cavalo da rainha. Até esta data o Sr. A.N. tem ganho 4 partidas, e o Sr. M.A. 2. Além disso, sabe-se de sua participação em seções de xadrez de determinadas revistas. Meu bom xadrez, meu querido xadrez, tu que és o jogo dos silenciosos, manifestou-se certa vez sobre o jogo.


Referência:

LUCCHESI, Marco. 180 anos de Machado de Assis. Leituras da História. São Paulo, s/d, nº 135. História em Perspectiva.

13 outubro 2020

1896: o Cinema chega a Porto Alegre

 


Pelo menos por boa parte dos pesquisadores, a primeira sessão pública de cinema da História, através do cinematógrafo, foi realizada em Paris em 28 de dezembro de 1895. O aparelho foi inventado pelos irmãos Lumière (há controvérsias...) e acabou superando em qualidade seus concorrentes, em termos de nitidez, velocidade e outros quesitos. Além disso, era o único que possibilitava projeções públicas, que logo incluíram outras partes do mundo, através dos agentes oficiais dos irmãos Lumière. De qualquer forma, aquela que é considerada a primeira exibição de cinema no Brasil, no Rio de Janeiro, em julho de 1896, foi por meio do Omniographo, divulgado como um aparelho que realizava exibições de projeções a luz elétrica, de vistas animadas em tamanho natural, que têm provocado ultimamente em Paris e Europa uma assombrosa admiração. De qualquer forma um jornal carioca da época o anunciou como sendo igualmente chamado de cinematógrafo.

George Renouleau, um fotógrafo e empresário viajante, foi responsável pelas primeiras apresentações do cinematógrafo em São Paulo e posteriormente em Porto Alegre, a 8 de novembro de 1896, na rua dos Andradas, n° 230. Na verdade, os porto-alegrenses já haviam conhecidos outros aparelhos, como o Panorama e o Cosmorama, em locais que incluíam o Teatro São Pedro. O jornal Gazetinha anunciou a exibição do que seu redator chamou de Cymemotographo, cuja invenção atribuiu a Thomaz Edison. As photographias animadas reproduzem fielmente todos os movimentos naturaes, tudo quanto representam, assegurou. No programa das vistas animadas, termo usado na época, havia o seguinte: O carroçãoUma criança brincando com cachorrosExercícios de equitação por militares. Imperdível!

Não demorou muito para que as apresentações da grande novidade atingissem o interior do Rio Grande do Sul, em cidades como Rio Grande, Pelotas, Bagé e Santa Maria. Nos anos seguintes, várias companhias artísticas incluíam em seus programas, uma ou outra apresentação de cinema, que ainda não era uma arte autônoma. Fazia parte de apresentações de maior vulto, como teatro, circos, companhias de dança etc. Também havia apresentações ao ar livre, como na Praça da Alfândega e no antigo Campo da Redempção (Parque Farroupilha).

Por fim, em 1908 Porto Alegre ganhava sua primeira sala de cinema, chamada Recreio Ideal, com 135 lugares e que se localizava na rua dos Andradas nº 321, próxima à Praça da Alfândega, com sessões diárias e noturnas, entre 18 e 23 horas. As tais salas de cinema também promoviam outras modalidades artísticas e deram origem ao que posteriormente se chamou de cinemas.

Referências:

CINEMATÓGRAFO. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinemat%C3%B3grafo.> Acesso em: 31.08.2020.
STEYER, Fábio Augusto. Cinema, Imprensa e Sociedade em Porto Alegre (1896-1930). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

12 outubro 2020

Você usa palavras de origem árabe quando fala...

 




Em seu Dicionário de Arabismos na Língua Portuguesa, Adalberto Alves afirma que o número de palavras de origem árabe no português é muito maior do que se propaga: cerca de quase 20 mil termos na realidade. Tal influência deve-se aos quase quinhentos anos de dominação árabe em Portugal, além daquela vivida pelo resto da Península Ibérica. Vale observar que o espanhol e o catalão foram influenciados em menor escala, dada a proximidade cultural com a França. Vejamos alguns exemplos:

Palavras que começam com al-, que na verdade tem relação com o artigo definido al (o/a), em que muitas vezes o -l é assimilado:

alferes (o cavaleiro)

Almeida (a mesa)

azeite (escreve-se alzeite em árabe, só que o -l- não é pronunciado: azzeite. O mesmo ocorre com azulejo.

Iniciadas por x- ou enx-: xadrez, xarope, xerife, enxaqueca, enxoval, enxofre.

Terminadas em -i: javali, sufi

Terminadas em -aque: almanaque

Palavras em que o -h- (árabe) transforma-se em -f-: alfazema (árabe alhuzaima), alface (alhassa).

Palavras que indicam cargos públicos: alcaide, almoxarife, alferes.

Palavras relacionadas com construção: alvenaria, azulejo.

Instituições administrativas: aldeia, arrabalde, alfândega.

Nomes próprios: Leonor, Abel, Fátima, Albuquerque, Almada, Vieira.

Outras tantas: arroz, alfazema, ameixa, alfaiate, enxada, adaga, arsenal, xarope, enxaqueca, alqueire, arroba, alfinete, almofada, alaúde, álcool, álgebra, algarismo, cifra.


Referência:

VXMAG. As influências do árabe na língua portuguesa e locais portugueses com nomes árabes. Disponível em: https://www.vortexmag.net/as-influencias-do-arabe-na-lingua-portuguesa-e-locais-portugueses-com-nomes-arabes/?fbclid=IwAR3BGuQHIVCY3PQuvzVd3Kkf0f9_J-69poTSLKJ1tB3wfcb3PQYcRsGXQEQ. Acesso em: 12 out. 2020.

Imagem: Foto de Juna fard (Pseudônimo de j b wanderley j) - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=43014231

11 outubro 2020

Etimologia: "outros quinhentos", "nhenhenhém", "xerox"

 


"Outros quinhentos" - Na Península Ibérica medieval, o fidalgo que se sentisse injuriado por alguém poderia ir à justiça pleitear uma compensação financeira de até 500 soldos, moeda da época, por parte de quem o caluniou. Se o fato viesse a se repetir no futuro, bem, aí seriam outros quinhentos... 

Nhenhenhém - Explica-nos o Dicionário Aurélio que o termo significa resmungo, rezinga, falatório interminável. Veio do tupi nheem, que quer dizer fala.

Xerox - Em 1948 foi anunciado o desenvolvimento da xerografia, criação do norte-americano Chester Carlson. Xerox vem do grego kserós e quer dizer seco. Diferente dos processos fotográficos convencionais, ela não usava líquidos nem compostos químicos.


Referências:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana. Rio de Janeiro: Campos, 2002.

08 outubro 2020

Esperanto nas obras de Isabel Allende

 


No momento em que estava lendo as primeiras páginas no novo romance de Isabel Allende lançado em português, Longa Pétala de Mar, de repente encontrei um parágrafo em que o esperanto é mencionado. É curioso que em sua carreira literária, isso não foi a primeira vez.

Veremos isso posteriormente. Primeiramente, algo sobre Isabel Allende, a mais consagrada escritora em língua espanhola do mundo. Nasceu em Lima, Peru, em 1942, mas ela é uma chilena de nascimento que com o tempo adquiriu também a nacionalidade norte-americana. Desde 1988 reside nos EUA. Em 1983 publicou seu primeiro romance: A Casa dos Espíritos, de grande repercussão internacional cuja história veio a ser adaptada para o cinema, com a participação dos atores norte-americanos Jeremy Irons e Wanona Ryder. Seguiram-se outros romances como Eva Luna, Filha da Fortuna e Retrato em Sépia, todos com grande aceitação por parte do público.

E o esperanto? Em A Casa dos Espíritos, a protagonista Clara costuma contatar os espíritos, que falam com ela somente em espanhol ou em esperanto. Ela inclusive vem a escrever a embaixadores e ministros de educação sugerindo a inclusão do esperanto nas escolas do mundo inteiro, mas sua ideia não tem o acolhimento devido.

No livro O caderno de Maya, a autora utiliza a palavra esperanto em sentido figurado. Sobre seu cão de estimação ela comenta: Não é carinhoso, entendemo-nos na linguagem da flora e da fauna: esperanto telepático.

Em Longa Pétala do Mar (2019), o enredo se desenvolve entre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e o exílio dos protagonistas no Chile, depois de um tempo tendo vividos na França. No final do conflito, o Generalíssimo Francisco Franco triunfalmente entre em Barcelona com seu exército. Numa determinada passagem, há uma menção ao idioma de Zamenhof:


Primeiro prendiam os combatentes, se os achassem, em qualquer condição que estivessem, e pessoas denunciadas por outros como colaboradoras ou suspeitas de alguma atividade considerada antiespanhola ou anticatólica; isso incluía membros de sindicatos, partidos de esquerda, praticantes de outras religiões, agnósticos, maçons, professores, maestros, cientistas, estudiosos de esperanto, estrangeiros, judeus, ciganos, e assim seguia a lista interminável.


;Referencoj:

ALLENDE, Isabel. Longa Pétala de Mar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019.

https://eo.wikipedia.org/wiki/Isabel_Allende

05 outubro 2020

"O Dilema das Redes": algo ingênuo nos depoimentos dos arrependidos

 


O Dilema das Redes, documentário norte-americano lançado pela Netflix em setembro analisa o papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade (Olhar Digital). Para isso conta com o depoimento de vários ex-funcionários de Google e Facebook, bem como a colaboração de acadêmicos. Em sua coluna no jornal Zero Hora, de 3-4/out, no caderno Doc, Julia Dantas, escritora, não descarta o valor do filme, mas acentua o posicionamento ingênuo de ex-profissionais ligados ao Google e Facebook. Embora façam ali seu mea-culpa, - diz ela - eles ainda parecem viver num mundo à parte. Cita o exemplo de um dos executivos arrependidos, que afirma, que apesar de tudo a tecnologia tem seu lado positivo, mágico, como a possibilidade que usar um aplicativo para valer-se de um carro poucos minutos depois, como é caso da existência do Uber e afins. Essa declaração talvez resuma a visão de mundo que o documentário adota: a ideia de quem aparece na nossa porta é "um carro", e não um trabalhador precarizado que, sem segurança trabalhista, transfere uma alta porcentagem dos seus ganhos para uma empresa de tecnologia, lembra colunista. Os novos mocinhos sugerem que tudo é uma simples questão de se desligar as notificações dos celulares, como se fossem inseparáveis das grandes corporações e o bombardeio midiático de que fazem uso para vender o seu peixe, sem falar no fato de que nada mencionam sobre a necessidade de começarmos a encarar com mais seriedade uma série de problemas de ordem social que nos afligem. Isso passa em branco.

Referência:
DANTAS, Julia. O dilema está fora das redes. Zero Hora, Porto Alegre, 03-04 out. 2020, Doc, p. 5.

THE SOCIAL DILLEMA. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Social_Dilemma. Acesso em: 05 out. 2020.

02 outubro 2020

Para o céu de anil



Eu canto esses heróis/ que governam o Brasil/ E mando todos eles/ Para o céu de anil. (Millôr Fernandes)

01 outubro 2020

"Combota"



Certa vez meus alunos de terceiro ano faziam redação em aula. Passava pelas classes para dar uma olhada e sugerir eventualmente alguma coisa qualquer. Foi quando me deparei com um aluno que tinha escrito "combota" no texto. "Cambota", corrigi, um termo popular para "cambalhota". Não, não era. Na verdade queria escrever "com bota(s)", como bem salientou.