Jeferson Tenório, nascido no Rio de Janeiro em 1977, mas radicado em Porto Alegre desde a adolescência, com sua mãe, foi graduado em Letras pela UFRGS, onde fez mestrado sobre literaturas luso-africanas e atualmente é doutorando em teoria literária na PUC-RS. Atua como professor de língua e literatura na rede privada de ensino e na qualidade de escritor já lançou três romances: O Beijo na Parede (2013), sobre as carências material e afetiva das pessoas marginalizadas pela sociedade, Estela sem Deus (2018), que aborda os estigmas sociais vividos por crianças e adolescentes negros que vivem nas periferias, e O Avesso da Pele (2020), sobre a relação entre pai e filho e sobre suas lutas particulares para enfrentar a questão do racismo.
Em entrevista recente ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele abordou assuntos referentes a sua escolha como patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre e a experiência que isso implica, bem como suas vivências como professor e escritor. Seguem algumas pinceladas sobre a matéria.
O patrono e a Feira
Tenório sente-se gratificado pela escolha sua como patrono da Feira do Livro, ainda mais pelo fato de ser o primeiro escritor negro a ocupar a função, neste momento em que o evento vive um novo momento de maior alinhamento com temas relacionados com a contemporaneidade, tal como o racismo. A Feira ocorre interruptamente desde 1955 na capital gaúcha, normalmente em sua Praça da Alfândega e arredores, neste ano ocorrerá de uma maneira virtual em função da pandemia, de 30/out. a 15/nov., com a presença de várias figuras ligadas à vida literária e cultural, dentre elas a escritora chilena Isabel Allende. As atividades online serão desenvolvidas diariamente e com lives às 18h e 19h30.
Detalhes em https://feiradolivropoa.com.br/
De leitor a escritor
Começou a escrever antes de ser leitor, afirma ele na entrevista. Mantinha diários desde os 13 ou 14 anos. Com a idade de 18 anos, escreveu uma novela em folhas de ofício, com cerca de 200 páginas, calcada não em leituras, mas em telenovelas a que assistia. Mais tarde, já como estudante de Letras, torna-se um leitor voraz, passando a selecionar mais suas leituras. Vir a escrever e publicar romances foi o passo seguinte.
Ser professor neste país
Em O avesso da Pele, seu livro mais recente, o protagonista é um professor. Para o autor, é uma espécie de homenagem dos professores que ficaram até o fim. O prof. Henrique é um desiludido com a educação, mas não desiste da profissão. O entrevistado expressa sua admiração pela classe, já que muitas vezes os professores tiram dinheiro do próprio bolso com vistas a um atendimento melhor de seus alunos. Em relação às aulas virtuais da realidade presente, considera-se um privilegiado por trabalhar numa escola particular. Consegue aprofundar certos assuntos que antes não era possível. É um contexto diferente do professor que está na linha de frente da guerrilha da escola pública, afirma.
A questão do racismo
Quando pessoas negras ocupam determinados espaços pela primeira vez, algumas pessoas dizem que isso não deve ser ressaltado, como se ressaltasse o racismo. E também há quem pense que, por uma pessoa negra ter chegado a esse espaço, o racismo terminou. Isso é muito perigoso. Podemos dar um passo atrás justamente por achar que o jogo já está ganho e não é mais necessário discutir o tema - alerta Jeferson na entrevista.
Referências:
Jeferson Tenório. Literafro: o portal da literatura afro-brasileira. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/1239-jeferson-tenorio. Acesso: 29 out. 2020.
LUCCHESE, Alexandre. "As feiras literárias devem estar atentas ao que ocorrem no mundo". Zero Hora, Porto Alegre, 24-24 out. 2020. Doc, p. 2.
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