29 outubro 2020

Jeferson Tenório, patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre 2020 (virtual). Pinceladas de uma entrevista.

 



Jeferson Tenório, nascido no Rio de Janeiro em 1977, mas radicado em Porto Alegre desde a adolescência, com sua mãe, foi graduado em Letras pela UFRGS, onde fez mestrado sobre literaturas luso-africanas e atualmente é doutorando em teoria literária na PUC-RS. Atua como professor de língua e literatura na rede privada de ensino e na qualidade de escritor já lançou três romances:  O Beijo na Parede (2013), sobre as carências material e afetiva das pessoas marginalizadas pela sociedade,  Estela sem Deus (2018), que aborda os estigmas sociais vividos por crianças e adolescentes negros que vivem nas periferias, e O Avesso da Pele (2020), sobre a relação entre pai e filho e sobre suas lutas particulares para enfrentar a questão do racismo.

Em entrevista recente ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele abordou assuntos referentes a sua escolha como patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre e a experiência que isso implica, bem como suas vivências como professor e escritor. Seguem algumas pinceladas sobre a matéria.

O patrono e a Feira

Tenório sente-se gratificado pela escolha sua como patrono da Feira do Livro, ainda mais pelo fato de ser o primeiro escritor negro a ocupar a função, neste momento em que o evento vive um novo momento de maior alinhamento com temas relacionados com a contemporaneidade, tal como o racismo. A Feira ocorre interruptamente desde 1955 na capital gaúcha, normalmente em sua Praça da Alfândega e arredores, neste ano ocorrerá de uma maneira virtual em função da pandemia, de 30/out. a 15/nov., com a presença de várias figuras ligadas à vida literária e cultural, dentre elas a escritora chilena Isabel Allende. As atividades online serão desenvolvidas diariamente e com lives às 18h e 19h30. 

Detalhes em https://feiradolivropoa.com.br/

De leitor a escritor

Começou a escrever antes de ser leitor, afirma ele na entrevista. Mantinha diários desde os 13 ou 14 anos. Com a idade de 18 anos, escreveu uma novela em folhas de ofício, com cerca de 200 páginas, calcada não em leituras, mas em telenovelas a que assistia. Mais tarde, já como estudante de Letras, torna-se um leitor voraz, passando a selecionar mais suas leituras. Vir a escrever e publicar romances foi o passo seguinte.

Ser professor neste país

Em O avesso da Pele, seu livro mais recente, o protagonista é um professor. Para o autor, é uma espécie de homenagem dos professores que ficaram até o fim. O prof. Henrique é um desiludido com a educação, mas não desiste da profissão. O entrevistado expressa sua admiração pela classe, já que muitas vezes os professores tiram dinheiro do próprio bolso com vistas a um atendimento melhor de seus alunos. Em relação às aulas virtuais da realidade presente, considera-se um privilegiado por trabalhar numa escola particular. Consegue aprofundar certos assuntos que antes não era possível. É um contexto diferente do professor que está na linha de frente da guerrilha da escola pública, afirma.

A questão do racismo

Quando pessoas negras ocupam determinados espaços pela primeira vez, algumas pessoas dizem que isso não deve ser ressaltado, como se ressaltasse o racismo. E também há quem pense que, por uma pessoa negra ter chegado a esse espaço, o racismo terminou. Isso é muito perigoso. Podemos dar um passo atrás justamente por achar que o jogo já está ganho e não é mais necessário discutir o tema alerta Jeferson na entrevista.


Referências:

Jeferson Tenório. Literafro: o portal da literatura afro-brasileira. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/1239-jeferson-tenorio. Acesso: 29 out. 2020.

LUCCHESE, Alexandre. "As feiras literárias devem estar atentas ao que ocorrem no mundo". Zero Hora, Porto Alegre, 24-24 out. 2020. Doc, p. 2.

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