29 julho 2020

O olhar alterado do fotógrafo




Painel em homenagem ao poeta Cruz e Souza (1861-1898) 
visto de janela do Museu de História de Santa Catarina. Foto de César Dorneles, fotógrafo amador... (2020)

Na velocidade da urbe, ficamos praticamente cegos. Estamos sempre no ímpeto de ir e vir, e a passagem entre um ponto e outro se apaga. Fotógrafo é aquele que refaz esse caminho olhando minúcias. É um olhar alterado, que atenta para outras dimensões existentes em um mesmo tempo-espaço.


> Eder Chiodetto, curador de arte

O humor fulminante do Barão de Itararé...



Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly, nascido em Rio Grande (1895) e falecido no Rio (1971), tendo como pseudônimo o falso título de Barão de Itararé, além de suas atividades jornalísticas, foi um dos pioneiros do humor político brasileiro. "Quanto mais conheço os homens, mas admiro as mulheres" e "Quem não chora... não mama" são duas frases de sua autoria imortalizadas pelo uso popular. Mais algumas:


A televisão é a maior maravilha da técnica a serviço da imbecilidade humana.

De onde menos se espera, daí mesmo 
é que não nada.

O voto é rigorosamente secreto. Só assim o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

Este mundo é redondo, 
mas está ficando muito chato.

A França teve um Mirabeau, mas é no Brasil que se passam as coisas mais mirabolantes.

Neurastenia é doença de gente rica.
Pobre neurastênico é malcriado.

O homem que se vende sempre recebe 
mais do que vale.

Mais vale um galo no terreiro
do que um na testa.


As mais incríveis frases de jogadores e de... Vicente Matheus!




A bola ia indo, indo, indo... e iu!
- Nunes, jogador do Flamengo dos anos 80

Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.
- Claudiomiro, meia do Internacional ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Payssandu pelo Brasileirão de 1972

Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola.
- Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo.

No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente 
de 15 em 15 dias.
- Ferreira, ex-ponta-esquerda do Santos

Quando o jogo está a mil, a minha naftalina sobe.
- Jardel, ex-atacante do Vasco, Grêmio e Seleção

O meu clube estava à beira do precipício,
mas tomou a decisão correta,
deu um passo à frente.
- João Pinto, ex-jogador do Benfica, de Portugal 

Na Bahia todo mundo é simpático.
Todo mundo é hospitalar.
- Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade 
do povo baiano.

Jogador tem que ser completo como o pato,
que é um bicho aquático e gramático.
- Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians

O difícil, como vocês sabem, não é fácil.
- Vicente Matheus

Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.
- Vicente Matheus

O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável.
- Vicente Matheus





28 julho 2020

1920: o Brasil x Argentina que não aparece nas estatísticas

Quem contou essa foi o jornalista Paulo Vinícius Coelho, tempos atrás no ESPN Brasil: em 1920, a Seleção Brasileira chegou a Buenos Aires, vinda de um torneio no Chile, para jogar um amistoso contra os argentinos. Ocorre que saiu uma provocação nos jornais locais, referindo-se aos jogadores brasileiros como "macaquitos", costumeira provocação argentina. O grupo de jogadores brasileiros se indignou e em consequência disso apenas sete jogadores estavam dispostos a participar da partida. Uma ideia inicial foi a de completar o time com jogadores argentinos, que acabaram protestando. Resultado: o jogo foi disputado com sete jogadores de cada lado, com vitória dos "hermanos" por 3x1. O jogo não é mencionado nas estatísticas.

1914: gol da Argentina contra o Brasil é anulado pelo "fair-play"




1914. Final da Copa Roca entre Brasil e Argentina. Leonardi faz um gol com a mão, validado pelo árbitro. Laus, capitão da Argentina, viu o toque do companheiro e o obriga a se desculpar com o goleiro brasileiro. Depois convence o árbitro a anular o gol. Outros tempos, de mais fair-play. O Brasil acaba vencendo por 1x0 e conquista seu primeiro título internacional.

27 julho 2020

Cada um...

Cada um
terá a vista
da montanha
que subir.

MOBRAL: o dia em que um aluno meu leu sua primeira palavra



Trabalhei por três anos no antigo Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização, de 1980 a 1982. Em 1983 o Estado me chamou como concursado e abandonei a função de alfabetizador. Em que pese as críticas ao sistema de alfabetização de jovens e adultos sob a chancela do Regime Militar, pode-se dizer que pelo menos em Porto Alegre, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal da Educação e Cultura, o trabalho era desenvolvido com melhor qualidade. Atuei inicialmente no Salão Paroquial da Igreja São José, num bairro da zona norte da cidade, próximo ao meu. No último ano, num clube de mães num dos pavilhões onde anteriormente havia funcionado uma pequena escola anexa ao Instituto de Educação Dom Diogo de Souza, em que vim a trabalhar mais tarde, como professor de português, por mais de vinte anos, até minha aposentadoria. 

No Mobral, trabalhava em conjunto com um colega meu e nos dávamos muito bem. O salão era suficientemente grande para conter duas turmas de alunos, cada uma com um quadro-negro à disposição dos professores. Os alunos variavam de idade, desde adolescentes até pessoas idosas, como uma senhora de mais de 80 anos, que sonhava em se alfabetizar para poder ler a Bíblia. Vinha acompanhada pela filha, também aluna. Infelizmente as duas tinham grandes dificuldades de aprendizagem, principalmente a primeira, em função da idade avançada.

Mas enfim, além das aulas, procurávamos manter um clima de descontração, promovíamos festinhas de aniversários e certa vez montamos uma pequena dramatização de menos de meia-hora baseada no episódio bíblico de Salomão e as duas mães. Escolhi este tema pois sabia que seria de agrado dos alunos, alguns deles ligados às Testemunhas de Jeová. A própria encenação foi reapresentada posteriormente numa reunião de alfabetizadores da SMEC. 

Muitas emoções vivi naquele meu primeiro trabalho como professor. Uma delas me marcou de maneira especial. O dia em que um aluno meu, na faixa dos 35 anos de idade, conseguiu ler sua primeira palavra escrita no quadro: Jesus. Ele ficou tão emocionado e quase não acreditou naquilo que representava para ele uma grande façanha, uma grande conquista pessoal. 

25 julho 2020

Frases de para-choques de caminhões - origem e exemplos


As populares frases em para-choques de caminhões que trafegam pelas rodovias de todo o País tiveram seu maior momento nos anos 80 e sua origem é argentina: de nossos hermanos, a ideia original de ornamentar carroças (séc. 19) e posteriormente caminhões e ônibus com desenhos estilizados acompanhados de frases com um sentido jocoso, humorístico. 

Vejamos algumas bem brasileiras, normalmente sem desenhos, com minhas desculpas antecipadas pelo tom levemente machista de algumas:

Alegria de poste é estar num mato sem cachorro.

Nunca dormi na direção... mas já me acordei dirigindo.

Se você não gosta da maneira como dirijo, longe da calçada!

Tô mais perdido que cueca durante a lua-de-mel.

Tem duas palavras que abrem todas as portas: puxe e empurre.

A diferença entre a prisão e o casamento é que a gente pode jogar futebol no fim de semana.

Quem gosta de mulher feia é cabeleireiro.

Deus fez o homem primeiro para que a mulher não desse palpite.

Não é pressa, é saudade.

Num caminhão que carrega porcos: não sou... (nome de torcedor de algum clube de futebol), mas carrego a torcida.

Você crê em amor à primeira vista ou você quer que eu passe novamente?

21 julho 2020

Quem é melhor? Messi ou Maradona? Tostão responde



Em entrevista ao jornal Zero Hora em sua edição de fim de semana, o ex-jogador Tostão ao ser indagado sobre quem seria melhor, se Messi ou Maradona, respondeu que depende de como se analisa a questão. Para Tostão, Maradona fazia coisas espetaculares, um verdadeiro artista em campo, mais do que Messi. Mas acabou dizendo que optaria por Messi, pela sua regularidade em termos de qualidade genial. Há mais de ele vem jogando em altíssimo nível, fazendo gols e dando passes, argumentou.


Uma imagem




Manchetes do Sensacionalista...


Pois não é que o Facebook ameaça punir o Sensacionalista por conteúdo falso, o que é sim uma verdadeira piada digna do próprio Sensacionalista? Parece que o tio Zucker não domina muito bem a diferença entre humor e notícia falsa, no caso um humor em cima da desgraça brasileira, fonte inesgotável nestes tempos picudos, diga-se de passagem... Bem, vejamos algumas manchetes sensacionalistas:

- Novo ministro da Educação quer criar o Exame Nacional do Ensino Medieval

- Black Friday: Brasil faz queima total de reservas indígenas

- Coronavírus finalmente assume o governo

- Mulher que atacou fiscal no RJ é convidada para ser Ministra da Saúde

- Bares do Leblon registram pico da curva da estupidez

- Volta do futebol pode fazer coronavírus ter prorrogação

E mais, na própria página do Sensacionalista...:
https://www.facebook.com/sensacionalista

Sonhos pandêmicos...


Nas redes sociais e nos relatos de pacientes, aumenta o número de pessoas que falam de seus sonhos, muitas vezes verdadeiros pesadelos, que têm relação com a pandemia por ora vivida no mundo inteiro. Desde sonhos com pessoas sem máscaras rindo de você, portando uma, gritando o vírus é falso! até mesmo aqueles que se referem figuras monstruosas, acidentes trágicos ou algo relacionado à morte: no sonho alguém chama um Uber e veio um carro funerário. Uma pesquisa na Universidade de Harvard já conta com um acervo de mais de oito mil relatos, onde não faltam vermes rastejantes, bruxas e gafanhotos com garras em manifestações oníricas do sono. No Brasil, o maior grupo de estudiosos em torno do assunto reúne especialistas da UFRGS, USP e UFMG.

Referência:
VARGAS, Bruna. Sonhos contaminados. Zero Hora, Porto Alegre, 18-19 jun. 2020. Vida, p. 4.

Ultracorreção: "tu fostes", "tu falastes", "tu dissestes"...


Ultracorreção, explica o Dicionário Aurélio, é uma "preocupação de falar bem que redunda em erro". O pior que tais erros de ortografia aparecem até mesmo em legendas de filmes e séries estrangeiras. Assim é um tal de tu fostes, tu falastes, tu dissestes que não para nunca! (Oh, que saudades que eu tenho da aurora de minha vida e do acento em para!). O problema ocorre, explicou o Prof. Cláudio Moreno em sua tradicional coluna O prazer das Palavras, no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, por analogia com os esses que aparecem em outros tempos verbais conjugados na segunda pessoa do singular com tu: falas, falarás, falarias, falasses, falavas, com exceção do pretérito perfeito: falastE. O falastesS é usado quando combinado com vós - segunda do plural usada nos antigamentes. Aliás, por falar nisso, fico perguntando quando será que os livros didáticos de português irão atualizar o paradigma real do português brasileiro em relação aos pronomes pessoais realmente usados: eu, você (tu), ele/ela, nós, vocês, eles?

20 julho 2020

De minhas aventuras como professor...



Certa vez, nos anos 80, quando trabalhava numa escola fundamental na zona norte de Porto Alegre, estava dando aula para uma turma de 5a série (sim, há muitas formas de resgate cármico), e uma criança pediu para ir ao banheiro. A porta da sala trancou e não abriu de jeito nenhum, nem com a ajuda externa que se seguiu. As crianças, buliçosas por natureza, aumentaram sua agitação ao quadrado. E eu em meio àquela zoeira total, tentando em vão acalmá-las um pouco.


Chamaram os bombeiros, que subiram por escada ao segundo piso, onde nos encontrávamos e entraram na sala pela janela. Acabaram dando um jeito de liberar a porta, para alívio de todos nós... Cuidado com portas!

18 julho 2020

Opinião: A volta precipitada do futebol



Marcada para quarta-feira 22 a volta do futebol com direito a um gre-nal em Caxias do Sul, na retomada do Campeonato Gaúcho em seus momentos derradeiros. A partida em Porto Alegre. de portões fechados, foi liberada pelo governador e vetada pelo prefeito da capital. O fato é que vivemos um momento de grande pressão para a volta do futebol, inclusive com a participação de público, ainda que de forma restrita e com cuidados especiais nestes tempos em que se ensaia um novo normal. Considero tudo muito prematuro. Em relação ao gre-nal, por exemplo, assim como outros jogos a serem programados, o fato é que mesmo sendo jogos de portão fechado, o fato é que estimularão acúmulo de pessoas em bares e até mesmo em residências particulares. Afinal, quem é que não gosta de reunir familiares e amigos para assistir a um jogo, ainda mais um clássico. Algo não aconselhável neste momento em que sequer se atingiu o pico da pandemia no país. E quando voltarem os jogos com presença de torcedores nos estádios? Todos de máscaras e observando um distanciamento de um, dois metros, um do outro? Pago pra ver? As pessoas vão resistir a um abraço no amigo ao seu lado na hora de um gol de seu time? Vão gritar xingando o árbitro mantendo a máscara, apenas para dar dois exemplos. Pois sim!


Influência árabe no Espanhol e no Português (com legendas)

Internet: uma volta de carro pelo mundo ouvindo rádios locais


Dê umas voltas de carro pelo mundo E mais, ouça as rádios locais. Tá, essas voltas não são literais, mas no site Drive and Listen você consegue simular um passeio por cidades como Amsterdã, Berlim, Budapeste, Seul, São Petersburgo e Tóquio. A lista inclui mais de 50 metrópoles e há a possibilidade de dobrar a velocidade do carro e de baixar o vidro para ouvir o som das ruas. (Gama)

https://driveandlisten.herokuapp.com/

17 julho 2020

A arte é a alma de um país


"A arte é o espelho da pátria.
O país que não preserva os seus valores culturais jamais verá a imagem de sua própria alma."

Disso tudo sairá uma sociedade melhor?



É preciso criar uma nova cultura: quero acreditar que o coronavírus, com seu rastro de destruição, nos obrigará a repensarmos o modelo de sociedade em que estamos vivendo, do “capitalismo de desastre”. Já está em curso uma disputa de rumos para as sociedades. Das urnas da Polônia e da França chegam notícias moderadamente boas. Trump não terá vida fácil até novembro… As ruas até então interditadas começam a ser ocupadas, com as cautelas necessárias, pelas colunas de jovens antirracistas e antifascistas.

Artigo de Chico Alencar completo em

16 julho 2020

Nomes de animais em português oriundos do proto-hindo-europeu




O proto-indo-europeu, explica o Dicionário Aurélio, em sua edição de 1999, "é uma língua que se supõe ter sido falada por uma população nômade de 3000 a.C. e que teria dado origem à família indo-europeia". Vejamos alguns exemplos de nomes de animais nesse idioma que chegaram ao português:

ékwa = égua

ghansor = ganso

kapra = cabra

katta = gato

kikonja = cegonha

korwos = corvo

kwon = cão

porkos =  porco

sérpenos = serpente

tauros = touro

wakka = vaca

welewa = leão

Obs.: por motivos de ordem técnica, não se registrou os nomes com todos os sinais diacríticos costumeiramente utilizados.

Referência: 
https://www.youtube.com/watch?v=7epZo_BQFqA&list=FLevUCjeTqVYXy7_UIn8F4Eg&index=3&t=0s

14 julho 2020

Júlia Dantas: Batidas em bailes funk, mas não em boates caras



As mulheres tiveram seu status na sociedade definido em oposição ao homem. Se o homem era considerado racional, objetivo e equilibrado, as mulheres eram emocionais, selvagens e instáveis. As mulheres serviam de Outro para a delimitação de quem era o centro. O mesmo ocorre entre brancos e não brancos. As normas sociais, a cultura e as leis são criadas a partir de um centro branco. É por isso que há batidas policiais para procurar drogas em bailes funk, mas não em boates caras: já temos preestabelecidos quais são os espaços de crime.

Texto completo em https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/julia-dantas/noticia/2020/07/os-patriotas-raivosos-e-a-politica-do-nos-e-os-outros-ckcf509zn000j013gdorctgvz.html

13 julho 2020

Depressão entre jovens cresce nos EUA. Diminuição do contato interpessoal é um dos motivos.



"Nos Estados Unidos, a cada cinco anos se medem os níveis de saúde mental, que costumam variar 1% para cima ou para baixo. No último período, os resultados foram muito diferentes: entre adolescentes, os níveis de depressão cresceram até 30%. Um dos motivos é que estão diminuindo as interações cara a cara, substituídas pelo smartphone. As relações pessoais são um antídoto contra a depressão."

>  Tal Ben-Shahar, psicólogo israelense, em entrevista ao El País/Brasil: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/estilo/1570124407_210391.html?%3Fssm=FB_BR_CM&fbclid=IwAR28dUVGoB20TmZ3VdUpFnTI5_aZgHEg-jnbDEyOnnhFhSj5EqiCikesBCc

12 julho 2020

Números de 1 a 10: Semelhanças entre o proto-indo-europeu, português e esperanto




O proto-indo-europeu, explica o Dicionário Aurélio, em sua edição de 1999, "é uma língua que se supõe ter sido falada por uma população nômade de 3000 a.C. e que teria dado origem à família indo-europeia". Vejamos a título de exemplo os nomes dos números de 1 a 10 nesse idioma, acompanhados de seus correspondentes em português e esperanto:

óynom = um/ unu
dwóh = dois/ du
tríms = três/ tri
kwetwós = quatro/ kvar
pénkwe = cinco/ kvin (compare com PT "penta-")
swéks = seis/ ses
septm = sete/ sep
hoktow = oito/ ok
knéwn = nove/ naŭ
dékm= dez/ dek

Obs.: por motivos de ordem técnica, não se registrou os nomes com todos os sinais diacríticos costumeiramente utilizados.

Referência: https://www.youtube.com/watch?v=3z3GWkM_efI&fbclid=IwAR1qEDGUQP9gB98gKqBKQLeH8PMCtv4vkzJFQdxrd-9xvCSisNnAOLBgu2Q

Firmina Maria dos Reis, a primeira romancista do Brasil




Maria Firmina dos Reis, proveniente de uma família pobre de cor negra, nasceu em 1822 em São Luiz do Maranhão, e morreu em 1917 pobre e cega. Mas entrou para a história da literatura brasileira como a primeira escritora negra do país e a primeira romancista.

Sem falar no fato, que ela escreveu o primeiro romance abolicionista: Úrsula (1859), que recentemente ganhou quatro novas edições e foi inclusive leitura obrigatória no vestibular da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Maria Firmina, ainda estudante, foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão para o cargo de professora em uma escola primária. Posteriormente ela chegou a escandalizar a sociedade em que vivia criando a primeira escola mista, para meninos e meninas. Infelizmente a inciativa durou apenas três anos.

Úrsula conta a história de um relacionamento amoroso impossível e ao mesmo tempo trágico entre dois jovens de cor branca, em que não falta uma forte crítica ao sistema escravocrata, sexismo, misoginia e racismo, como observa Jarid Arraes em resenha sobre a obra publicada na revista Quatro, Cinco, Um.

Para finalizar, registre-se que ela durante sua vida adotou onze crianças, entre filhos de pessoas escravizadas. Em sua carreira literária, escreveu ainda outros romances.

09 julho 2020

A Peste Negra (séc. 14) promoveu profundas modificações na sociedade da época




A peste bubônica, também conhecida como Peste Negra, que avassalou a Eurásia entre 1347 e 1351, provocou a morte de 30% a 60% dos europeus e quase metade da população chinesa, apenas como exemplo. De qualquer forma, é interessante observar que ela alavancou profundas modificações na sociedade da época.

A redução expressiva da população nos feudos determinou o fim do Feudalismo europeu e o trabalho braçal tornou-se uma atividade muito valorizada. Era preciso continuar a plantar, era preciso trazer gente de outros lugares: gente livre, sem amarras servis, como os que nasciam em cidades ou se mudavam de feudos abandonados, explica a matéria E se... a peste negra não tivesse acontecido?, de Fábio Marton, na revista Superinteressante de mai/2020, na qual me baseei em parte para escrever esta postagem.

Áreas de terra dedicadas à agricultura transformaram-se em pastos para o gado. Isso acabou barateando a carne como alimento humano, o que facilitou seu consumo para um maior contingente populacional. Em outras palavras: comer carne deixou de ser um privilégio dos ricos.

Com a diminuição do número de trabalhadores braçais, houve um estímulo em relação ao aperfeiçoamento das máquinas, no campo da mineração, metalurgia, tecelagem, serralheria e construção.

A mortandade causada pela pandemia acelerou o enfraquecimento do poder da Igreja, facilitando de alguma forma o surgimento da Reforma Protestante. Especula-se que a familiaridade resultante com a morte fez com que os pensadores pensassem mais nas suas vidas na Terra, em vez de na espiritualidade e na vida após a morte. (Vikipédia) Com isso, abriram-se caminhos para o surgimento do Renascimento e uma valorização do pensamento científico não mais preso a concepções de ordem religiosa.

Nestes tempos de uma nova pandemia, é de se pensar o que ela poderá influir em termos de mudanças significativas até mesmo de ordem positiva para a humanidade, apesar de tudo.

Referências:
MARTON, Fábio, E se... a Peste Negra não tivesse acontecido?. Superinteressante nº 415, p. 84-85, mai/2020.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_Negra

Porto Alegre (1863-64): "O maior crime da terra"

Depois de um tremor de terra em 1811, uma portentosa enchente que atingiu o centro da cidade em 1833, em 1864 porto-alegrenses foram abalados com a revelação de crimes que ocorreram entre 1863 e 1864 e que foram cometidos por José Ramos, açougueiro, tendo sua esposa Catarina como cúmplice: o assassinato de uma série de pessoas, que acabaram sendo esquartejadas e mais do que isso: os corpos das vítimas, pelo o que foi apurado, serviam para um crime hediondo: o preparo de linguiças.

Houve exaltação de ânimos, a população revoltada tentou linchar os criminosos que se diziam alemães ou descendentes deles, registrou o jornal O Mercantil na época, no que resultou numa reação ofensiva à população por parte do Consulado Alemão, que foi revidada pelos vereadores do município.

O açougue situava-se na esquina da Rua da Varzinha (hoje Demétrio Ribeiro), na região central da cidade. Catarina, húngara de origem, atraía as vítimas para sua casa, que acabavam sendo degoladas, esquartejadas e descarnadas. Depois os restos mortais eram transformados em linguiça e vendidos no açougue de Carlos Claussner, imigrante alemão.

> Referências:

MACEDO, Francisco Riopardense. História de Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crimes_da_Rua_do_Arvoredo



07 julho 2020

Não existe ainda uma educação realmente válida


A educação passará por uma verdadeira revolução em tempos não tão distantes de nós. O velho modelo criado na Prússia do séc. 19 está falido há muito tempo. Essa educação que privilegia o cognitivo em detrimento do desenvolvimento da sensibilidade, que uniformiza os saberes como se toda criança e adolescente tivessem as mesmas aptidões e interesses constituem num verdadeiro atraso se levarmos em conta as necessidades individuais e coletivas. Sem falar, é claro, em seus aspectos ideológicos ligados a uma prática que em última análise está a serviço do "status quo" - conservador, elitista e excludente.

Por que não temos mulheres e heróis negros?

Falamos de "descobrimento". Uma narrativa histórica marcada por uma só experiência. Por que todos os nossos heróis são homens e brancos? Quase não temos mulheres, nem heróis negros. (...) Esses monumentos reforçam uma imaginação somente ocidental.

> Ana Lúcia Araújo, professora da Howard University (Washington) e membro do comitê científico do projeto A Rota do Escravo, da Unesco, em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre.


São poucas as obras públicas que demarcam a presença africana e indígena em nossas cidades, dando protagonismo a personagens de resistência à escravidão. Persistem o patético culto ao bandeirismo em São Paulo e aos Farroupilhas, no Rio Grande do Sul. 

> Éder Silveira, pós-doutor em História pela USP e professor da UFCSPA, de Porto Alegre, em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre)

Machado em inglês: desafios de uma tradutora


Na revista Piauí de junho, um artigo de Flora Thompson-Deveaux conta de suas peripécias, digamos assim, para verter Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para o inglês, que virou um livro lançado pela Penguin em junho. Já houve outras traduções do referido romance para a língua de Shakespeare, sendo que a primeira foi feita pelo norte-americano William Grossman em 1952.

Flora conta que levou quase cinco anos na tarefa de pesquisar sobre o livro, traduzi-lo e trabalhar na revisão de seu trabalho. Traduzir é um processo ao menos curioso e pode ser interessante saber o que se passou ao longo de alguns anos na cabeça de uma tradutora do Bruxo do Cosme Velho, afirma ela na introdução de seu texto.

Quando fez uma releitura mais atenta do texto de Machado, começou a perceber o que ela chamou de elegância ardilosa do autor, que começou a intimidá-la, o que fez com que ela começasse a questionar seu trabalho de tradução. Deixou de lado de cotejá-la com outras já existentes. Isso poderia aumentar suas dúvidas. Recorreu a dicionários bilíngues inclusive do século 19. A título de exemplo da dificuldades que encontrou, deparou-se com o uso do advérbio nimiamente, empregado por Machado, que ela desconhecia o sentido. Se fosse termo usual no século 19, bastaria usar um termo equivalente em inglês usado na época. Até aí tudo bem. Mas e se fosse raro, como acabou descobrindo que sim? Teria que buscar um equivalente igualmente raro no inglês  de então... Assim sendo, acabou escolhendo a expressão tediously lengthy depois de consultas feitas.

04 julho 2020

Quintana: "O amor é quando a gente mora um no outro"

Amar:

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram
lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora 
um no outro.

> Mário Quintana (1906-1994)