Na edição de janeiro da revista Piauí, um depoimento de duas páginas e meia do ator Marco Pigossi falando a respeito de ter assumido recentemente sua orientação sexual como gay. No último feriado de Ações de Graças nos EUA, 25 de novembro, seu namorado Marco Calvani, cineasta italiano, como já se sabe, publicou no Instagram uma foto com ele, de mãos dadas, que Pigossi resolveu reproduzir para seus seguidores, motivado por comentários positivos que leu a respeito dela. E ainda acrescentou a seguinte legenda: Feliz Dia de Ação de Graças. p.s. choca zero pessoas. Ex-ator global, tendo protagonizado oito novelas da Vênus Platinada, como é de praxe nessas circunstâncias, temia perder seu público e arruinar sua carreira se o fato de ser gay viesse a público.
O ator, que trocou a Globo pela Netflix em 2017 e que atualmente vive com seu namorado em Los Angeles, conta em seu testemunho que na adolescência, quando passou a ter consciência de sua homossexualidade, torcia para que isso fosse algo transitório, devido ao grande preconceito que ainda vigora neste país a respeito dessa orientação sexual. Relembra o fato de que nas novelas e programas de humor da TV, os gays eram retratados de forma caricata e pejorativa, o que só complicava as coisas. Além do mais, sabia que não poderia contar com o apoio de sua família. Mais tarde, tendo decidido ser ator, após papéis secundários em novelas da Globo, sua carreira deslanchou ao interpretar um gay afeminado na bem-sucedida novela Caras & Bocas (2009), de Walcyr Carrasco.
"À medida que eu subia degraus na profissão, atuando como protagonista de algumas novelas, mais medo eu sentia. A mera possibilidade de que soubessem da minha vida sexual me paralisava, pois eu tinha a percepção clara de que minha carreira seria destruída. E ser ator me cura, me preenche. Eu seria um vácuo, um vazio, se as portas se fechassem." - afirma o ator.
Quando estava atuando em Fina Estampa (2011), de Aguinaldo Silva, uma falsa notícia de que tinha um caso com um colega da mesma novela, Marco Pigossi entrou em parafuso. Passou a tomar antidepressivos e ansiolíticos, em meio a crises de pânico em função do ocorrido, chegando a ter pesadelos a respeito. Em 2017, depois de oito anos de análise, algo dito por seu analista o marcou profundamente: "Você vê a sua homossexualidade como uma maldição, um carma, que acarreta medo. Será que você, exatamente por ser homossexual, não foi obrigado a olhar para dentro de si mesmo e entender medos e vontades das pessoas? Será que isso não pode te fazer um ator melhor? Será que, diante de tudo isso, você não tem um panorama mais complexo de vida e histórias humanas, algo que pode ser uma boa matéria-prima na construção de personagens?"
Em 2018, quando Bolsonaro deu voz a racistas e homofóbicos, o ator passou a sentir a necessidade de participar da luta em defesa da comunidade LGBTQ+, posicionando-se claramente a respeito. Começou a questionar seus próprios vínculos de trabalho com a Globo. Não seriam eles que o aprisionavam num "grande armário social e artístico"? Já no final de 2017, tinha trocado a Globo pela Netflix. Então surgiu a ideia de morar no Exterior e assumir-se como gay futuramente, longe do moralismo tacanha que se observa no Brasil bolsonarista movido a ódio.
Em 2019, mudou-se para Los Angeles e participou das séries Tidelands (australiana), Alto Mar (espanhola) e Cidade Invisível (brasileira), da Netflix. Após isso, foi produtor executivo do documentário CorPolítica, sobre quatro candidatos à vereança em SP e RJ assumidamente LGBTQIAP+ e atualmente trabalha no projeto de um documentário sobre a história da Aids no Brasil.
A repercussão positiva do episódio da foto com o namorado serviu como um grande alento, diz ele, o que foi comemorado pelos dois e um grupo de amigos com um "porre" por parte dele. "E hoje me sinto invencível", diz o ator ao final da matéria da revista.
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Imagem | Repórter Brasil, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, através da wiki Wikimedia Commons
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