Tela de Francisco Figueiredo, Museu Histórico Nacional
Em 11 de novembro de 1889, o Conde d'Eu, príncipe francês e membro da Casa de Orléans e marido da Princesa Isabel de Bragança, herdeira do trono imperial do Brasil, escreveu ao pai, Luís d'Orléans, Duque de Némours o seguinte:
Meus familiares finalmente desceram de Petrópolis no dia 5 deste mês e, após virem para passar a sexta-feira e o sábado aqui e, anteontem, na noite de domingo [9 de dezembro], para participar do baile gigantesco organizado pelo governo em uma ilha usada pela alfândega em homenagem à visita ao Rio de um navio de guerra chileno, retornaram a Petrópolis ontem às nove horas da manhã. Eles devem voltar no domingo [16 de novembro] como de costume.
A Ilha Fiscal, à esquerda.
O Conde d'Eu refere-se ao famoso Baile da Ilha Fiscal, também conhecido como O Último Baile do Império, que tinha como objetivos homenagear a oficialidade do navio Almirante Cochrane, que fazia parte de um grupo de embarcações ancoradas na Baía de Guanabara e oriundas do Chile e que foi realizado em 9 de novembro de 1889, bem como as bodas de prata da Princesa Isabel e o Conde d'Eu. Além do mais, a ideia tinha conotações de caráter político, pois em função da grandiosidade do evento, serviria como uma demonstração de força do Império já claudicante, ameaçado pelo movimento republicano, que contava cada vez mais com o apoio do Exército e da Marinha, através do Clube Militar.
Foi um evento e tanto, com a participação da nata da sociedade carioca, além de toda a família imperial, bem como a de representantes ilustres das forças políticas aliadas à monarquia.
Na ilha funcionava um posto da Guarda Fiscal, devidamente instalada num palacete (foto acima), que hoje abriga um museu histórico-cultural. Para a sua realização, o baile contou com uma verba de 250 mil contos de réis advindos o Ministério de Viação e Obras Públicas e que representava 10% do orçamento da Província do Rio de Janeiro para o ano seguinte. Nos jardins do palacete, foram montadas duas mesas à disposição de 250 convidados cada uma. Uma banda animou o evento, ao som de valsas e polcas até a madrugada. Para o cardápio do jantar, iguarias incomuns e bebidas importadas é que não faltaram:
- 800 kg de camarão
- 300 frangos
- 500 perus
- 64 faisões
- 1.200 latas de aspargos
- 20.000 sanduíches
- 14.000 sorvetes (oba!)
- 1.900 pratos de doce (será que tinha pudim de coco? Hummm...)
- 10.000 litros de cerveja
- 300 caixas de vinhos, champanhe e outras bebidas
Dom Pedro 2º chegou ao baile, acompanhado de sua família - filha, genro e netos - às 10 horas da noite e retirou-se à 1h da manhã, sem ter jantado. Conta-se que ao chegar ao salão do baile, desequilibrou-se e levou um tombo, vindo a ser socorrido por jornalistas. Teria dito: "O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu." Seis dias depois...
Fontes |
Baile da Ilha Fiscal
Imperador Cidadão, de Roderick J. Barman (Ed. UNESP)
Mais |
A Ilha Fiscal e o último baile do império
Pedro 2º, o governante brasileiro que amou as artes, a ciência e a cultura
IMAGENS |
Na sequência:
Por Aurélio de Figueiredo - Museu Histórico Nacional (http://www.museuhistoriconacional.com.br/), Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4161928
Francisco Joaquim Gomes Ribeiro, Public domain, via Wikimedia Commons
Brazilian National Archives, Public domain, via Wikimedia Commons
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