Como vimos na postagem anterior, ao final do séc.17, o extremo sul do Brasil passou a conectar-se economicamente com a Região Sudeste, graças ao advento da mineração em Minas Gerais como a nova grande fonte econômica para a colônia portuguesa. "Para o Rio Grande começaram a descer paulistas e lagunistas, objetivando prear esse gado xucro para levar até a zona mineradora. Em especial, Laguna, fundada em 1676 pelo paulista Domingos de Brito Peixoto, tornou-se o foco de irradiação da descida para o sul, num movimento espontâneo que, contudo, teve o incentivo da coroa portuguesa" (Sandra Pesavento). Quatro anos depois os portugueses fundaram Colônia do Sacramento, de olho no Prata e na riqueza que advinha da mineração em Potosí*, exportada para a Espanha através do porto de Buenos Aires**. O Rio Grande do Sul servia como ponto de apoio para as pretensões portuguesas de vir a dominar a região do Rio da Prata.
Em 1725 lagunistas comandados por João Magalhães desceram mais ao sul, em viagem oficial a pedido da Coroa Portuguesa. Desde o início do século a região já era conhecida de tropeiros e contrabandistas de gado em favor do abastecimento das Gerais, além da captura de mulas em território argentino, inicialmente redirecionadas para as minas de Potosi, que vivia agora um período de decadência. O tropeiro era uma espécie de chefe de um bando armado, que muitas vezes tinha que enfrentar os castelhanos. Graças a eles foram abertas duas importantes vias de contato entre o extremo sul e o resto do Brasil: uma estrada na serra (1703) e outra no litoral (1727).
O gado preado era conduzido pelos tropeiros até Sorocaba***, em São Paulo, e em sua feira era vendido a outros grupos de tropeiros que o levavam para as minas gerais. Com o tempo, tiveram a ideia de investirem na criação a fim de aumentarem suas margens de lucros, o que foi do interesse da Coroa Portuguesa em ocupar a região entre Laguna e o Rio da Prata, dadas as dificuldades para manter Colônia de Sacramento (1680) sob seu domínio.
* Cidade na Bolívia fundada em 1546. Tornou-se a maior produtora de prata do mundo por um tempo.
** Fundada em 1536 por Pedro de Mendonça, que a chamou de Nuestra Señora Santa Maria del Buen Aire. Em função dos ataques indígenas, o assentamento foi abandonado. Em 1580 é refundada por Juan de Garay, explorador e conquistador espanhol.
*** Vale lembrar que Ana Terra, uma das personagens protagonistas do 1º volume de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, pertencia a uma família proveniente de Sorocaba e que migrou para o Continente, designação dada ao Rio Grande do Sul na época. Não é por acaso que o 1º volume tem o título de O Continente.
Fontes |
História do Rio Grande do Sul, de Sandra Jatahy Pesavento (Ed. Mercado Aberto)
Mais |
O RS colonial (5) | A vida nas missões jesuíticas/ Expulsão dos jesuítas/ A descoberta do ouro nas "Gerais"
https://cesardorneles4.blogspot.com/2021/11/o-rs-colonial-vida-nas-missoes.html
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