26 novembro 2021

LÍNGUAS | À procura de um gênero neutro

 




Em 2014 o pronome neutro hen passou a fazer parte do Glossário da Academia Sueca, juntando-se os já existentes hon (ele) e han (ela), lembra o prof. Francisco Marshall (UFRGS) em sua coluna recente de jornal, no qual tratou do movimento social pela neutralidade de gênero nas línguas que não o possui. "Não se negam gêneros masculino e feminino, mas expande-se o campo da linguagem com uma ou mais opções, com maior liberdade e respeito", esclareceu ele. Para o articulista, "é arrogância apedeuta* usar a autoridade da norma culta para tentar barrar a evolução da linguagem. Muitas legislações mundo afora e diversos comportamentos comunicativos na educação, na economia, no direito, na ciência, na arte e na imprensa, avançam consolidando essa evolução cultural que aperfeiçoa a linguagem com educação e respeito."

Vale lembrar que até mesmo em esperanto, uma língua planejada, hoje com com status de língua viva, que se desenvolve como qualquer outra, propõe-se a introdução do pronome ri, pronome neutro que significa "a pessoa à qual se fala", para juntar-se a li, ŝi e ĝi (este último, neutro, para indicar coisas e animais). Como falante de esperanto, particularmente não aderi à ideia, o que não significa que seja inteiramente contrário a ela. Vejamos o que acontecerá.

Algo para mim bastante curioso em seu artigo tem a ver com sua introdução ao assunto, no qual evidencia que a expressão de gêneros nunca se limitou à polarização binária entre masculino e feminino. Marshall, em sua introdução, chama a atenção para fatos curiosos em torno da questão dos gêneros gramaticais. No proto-indo-europeu** havia no início apenas a distinção entre gêneros animados e inanimados. Posteriormente o gênero animado dividiu-se em masculino e feminino e do inanimado originou-se o neutro. A maior parte das línguas indo-europeias seguem esse esquema, como o antigo sânscrito, o grego, o latim, o alemão o russo por exemplo. Há, porém, línguas que não diferem o gênero, como o turco, o húngaro, o japonês e até mesmo o tupi-guarani. No continente africano, nas línguas da família Bantu, há línguas com mais de 20 gêneros.

* "Desprovido de instrução".
** Língua de origem asiática que teria surgido no quinto milênio a.C., falada por um povo pré-histórico, e que espalhou-se pela Índia e Europa, dando origem a tantas outras línguas, asiáticas e europeias.


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