22 novembro 2021

Antiracismo: O futebol não pode estar fora da luta

 




Entrevistas de jornal (vide fonte) com Marcelo Carvalho - diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Sebastião Arcanjo (Tiãozinho) - presidente da Associação Atlética Ponte Preta (Campinas, SP), único negro de clubes das séries que disputam as séries A e B, e Marco Aurélio de Oliveira (Marcão), treinador do Fluminense, também negro, dão conta da necessidade de o futebol dar sua parcela de contribuição na luta contra o racismo estrutural existente no Brasil desde o período colonial.

Para Marcelo Carvalho, o futebol é extremamente racista, algo facilmente detectável em função de atos de teor racista contra jogadores, mas em outras situações, como o fato de não termos negros em posição de destaque ligados ao futebol, fora de campo. Lembra que isso acontece em outros setores importantes da sociedade. Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF e Alceu Collares, ex-governador gaúcho, são dados por ele como exemplos de exceção à regra. Difundiu-se ao longo do tempo a ideia de que negros não têm capacidade intelectual, são malandros, preguiçosos. Para Carvalho, "a grande parcela das pessoas nos locais em que acontece um ato racista acha que é apenas um insulto, um xingamento". Segundo ele, o futebol pode se envolver na luta contra o racismo com ações de combate, muito além de postagens e camisetas. Os clubes deveriam criar espaços para a promoção de palestras e debates sobre racismo, até mesmo dentro da própria instituição, por exemplo. Isso faria com que seus atletas se sentissem mais protegidos e seguros para abordarem o tema. Para ele, a luta contra o racismo "é luta por direitos civis, é progressista, humanitária".


Sebastião Arcanjo (Tiãozinho), ex-deputado estadual, presidente da Ponte Negra, é uma figura de destaque no enfrentamento do racismo nos meios futebolistas. Para ele, além das ações punitivas contra atos racistas, para uma política a longo prazo deveríamos adequar o currículo escolar, valendo-se de uma pedagogia mais inclusiva que levasse em conta a pluralidade cultural deste país, o que significaria dar mais visibilidade à importância da cultura negra na formação do país, diria eu. Para Tiãozinho, é importante que no engajamento na luta contra o racismo, haja a participação de brancos. Cita o exemplo o caso George Floyd, nos EUA, em que "jovens brancos estavam na linha de frente para os outros pudessem se manifestar".

Marco Aurélio de Oliveira (Marcão), um dos poucos treinadores negros do futebol brasileiro, atualmente no comando da equipe do Fluminense, vê com simpatia iniciativas de seu clube atual, bem como as do Bahia, em prol de um trabalho de conscientização frente à questão. De qualquer forma, sempre tem a impressão de que "tem de fazer tudo em dobro". Vê na capacitação cada vez maior dos treinadores negros um elemento valioso  para enfrentarem as questões raciais.

Fontes
Entrevistas de Marcelo Carvalho, Sebastião Arcanjo e Marco Aurélio de Oliveira publicadas no caderno de esportes de Zero Hora, de 20-21/nov/2021

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