De meu diário íntimo... (11) | O presépio com os Três Pastores/ O país "valentoso"

 

Diário que mantive entre os 8 e 14 anos de idade

20 de dezembro de 1964

Fomos fazer um pique-nique no parque "Sainte Hilaire" (sic). O Ademar, namorado da Maria, foi também com nós.

21 de dezembro de 1964

Fui no centro com a Maria, para comprar coisas para o presépio. Os três pastores (1), uma pastora, um carneiro, uma vaca, um burro e três bolas para o pinheiro. Dia 24 farei o presépio.

28 de janeiro de 1965

Ontem fomos na praia do "Espirito Santo" (2). Gostei muito. (...)

12 de abril de 1965

No aniversário do Ademar (20-3-65) a Maria da Graça noivou com êle. A páscoa será no dia 18 deste mês.

Dias depois escrevi uma observação:

Em vêz de: No aniversário do Ademar... deve ser dito: Ao realizar o aniversário de Ademar, Maria da Graça ficou noiva dêle. (17/5/65)

22 de maio de 1965

Estou no 4º ano B. Minha professôra é a mesma do ano passado. (Heloiza). São 8:20 h. O pai, a mãe e o bob foram na sessão. Gosto muito da Geografia e História.

Verso: 

Brasil

Campos verdes,/ Céu azul,/ Grandes montanhas/ És o valentoso Brasil!/ Ó Pátria, ó Pátria querida,/ És grande pela beleza e glória!/ És tu, ó Brasil/ Verdadeiro País! (3)

As letras: o que elas disem?

A - Sou a primeira de todas do alfabeto.

B - Tudos dizem que sou burro.

C - Querem que eu seja um número (100=C)

D - Dizem que também sou um número (500).

E - Sou quase igual ao efe.

F - Sou quase igual ao e. (Inventado)

Rio Grande do Sul:

Governador - Ildo Meneghetti

Prefeito da Capital - Renato Souza. (...)

(1) "Os três pastores": Melchior, Baltazar e Gaspar. A tradição de fazer-se presépios no Natal começou no ano anterior e durou alguns anos. A partir do segundo, fui o encarregado de montá-lo na mesa da sala. Primeiramente era revestida por inteiro com jornal. Depois espalhava-se terra por toda a superfície. A parte mais divertida para mim era catar pedras maiores no pátio, que serviriam para a caverna (e não estábulo) onde o Menino Jesus tinha nascido... Figuras em gesso representando os personagens e animais típicos de um presépio eram dispostas como deviam. Um pinheiro, com suas bolas coloridas e pedaços de algodão (neve), não poderia faltar, além de um espelho pequeno, devidamente coberto de terra nas bordas, que acabava representando um belo lago.

A partir da experiência com presépios, houve um momento em que passei a brincar de construir "cidades" num dos níveis do pátio, um terreno amplo e aberto, apenas separado, à direita, do aviário da escola por uma cerca de arame em tela. Um barranco servia muito bem para imaginar uma imensa montanha...

(2) Na época, as praias fluviais de Porto Alegre ainda eram propícias ao banho. Hoje apenas uma, o do Lami, voltou a ser usada, depois de ter passado por um processo de despoluição anos atrás.

(3) Vai ver foi por causa do neologismo "valentoso"... O fato é que depois dessa poesia, as musas inspiradoras abandonaram o poeta e ele nunca mais poetou.

Mais em:  https://cesardorneles4.blogspot.com/2021/03/de-meu-diario-intimo-10-bicicleta.html

Do álbum de família: batizado do Édison (Bob) - 1957. Imagino que tenha sido na Igreja São Pedro, no bairro Floresta, onde morávamos.