Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), botânico e naturalista francês, em suas viagens por várias regiões do Brasil colonial, chegou a até mesmo a visitar o estremo sul, tendo registrado em um de seus diários que certa vez ficou hospedado na estância de um charqueador de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Sua primeira impressão sobre a vida das pessoas escravizadas na região foi a de que recebiam um tratamento melhor do que em outras regiões do país. Na região das charqueadas, sofreu uma forte desilusão a respeito ao presenciar cenas de crueldade para com os escravizados. Condoeu-se de sobremaneira com a sorte de uma menino escravo sobre o qual escreveu o seguinte em texto datado de 11 de setembro de 1820: Há sempre na sala um negrinho de 10 a 12 anos, que permanece de pé, pronto a ir chamar os outros escravos, a trazer um copo d'água e fazer todos os pequenos recados necessários ao serviço interior da casa.
Não conheço criatura mais desgraçada do que esta criança. Não se assenta, nunca ninguém lhe sorri, nunca se diverte, passa a vida tristemente apoiado à parede e é, muitas vezes, martirizados pelos filhos de seu patrão. Quando anoitece, o sono o domina, e quando não há ninguém na sala, põe-se de joelhos para poder dormir; esta casa não é a única onde há este hábito de se ter sempre um negrinho para utilizar-se dele quanto necessário.
Fonte |
O Longo Amanhecer do Sul, de O. Soria Machado. (Editora Mercado Aberto, 2000)
Mais |
Auguste de Saint-Hilaire: um viajante francês
na Porto Alegre de 1820
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