Auguste-François-César Prouvensal de Saint-Hilaire (1779-1853), botânico e naturalista francês, foi um dos inúmeros viajantes europeus que vieram ao Brasil movidos pelo interesse que seus estudos científicos despertavam. Em função de suas expedições ao Brasil, entre1816 e 1822, sob a chancela do governo francês, acabou conhecendo várias regiões do país (o que incluía a então Província Cisplatina, atual Uruguai) sobre as quais escreveu várias obras, como p. ex. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais (1830), na que pode-se ler o seguinte:
Para conhecer toda a beleza das florestas tropicais é necessário penetrar nesses retiros tão antigos como o mundo. Nada aqui lembra a cansativa monotonia de nossas florestas de carvalhos e pinheiros; cada árvore tem, por assim dizer, um porte que lhe é próprio; cada uma tem sua folhagem e oferece frequentemente uma tonalidade de verde diferente das árvores vizinhas. Vegetais imensos, que pertencem a famílias distantes, misturam seus galhos e confundem sua folhagem.
Na antiga província de São Pedro do Rio Grande do Sul, além de Porto Alegre, conheceu Torres, Tramandaí, Viamão, Rio Grande, São Borja, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo - em duas viagens diferentes em 1821 e 1822. De seu livro Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821), obra póstuma traduzida para o português, encontram-se várias observações suas sobre Porto Alegre, entre as quais poderíamos destacar as seguintes:
O frio
Diante do frio que fazia na cidade, estranha o fato de que não havia lareiras nos quartos na casa de campo do Conde de Figueira, onde se hospedou. Percebe nisso uma influência portuguesa, que ele notou em Lisboa, na qual as chaminés são objetos de luxo.
A Rua da Praia
Destaca que se trata da única rua comercial da cidade, extremamente movimentada. Nela se entram numerosas pessoas a pé ou a cavalo, marinheiros e muitos negros carregando volumes diversos. É dotada de lojas muito bem instaladas, de vendas bem sortidas e de oficinas de diversas profissões.
A economia local
Antevê para Porto Alegre um futuro próximo bastante promissor. Esta cidade, fundada há 50 anos, mais ou menos, conta já uma população de 10 a 12 mil almas (...) Os negociantes adquirem quase todas as mercadorias no Rio de Janeiro. Em troca exportam principalmente couros, trigo e carne seca.
A coluna
Na coluna no centro da cidade em que hoje se erguem a Catedral, o Palácio Piratini, a Assembleia Legislativa e outros prédios públicos, havia a Rua da Igreja (hoje Duque de Caxias), onde já se destacavam o Palácio do Governador, o Palácio da Justiça e uma capela-mor - prédios que para Saint-Hilaire não faziam jus à importância da cidade e a riqueza da Capitania.
A Santa Casa de Misericórdia
Fora da cidade, sobre um dos pontos mais altos da colina onde ela se desenvolve, iniciou-se a construção de um hospital cujas proporções são tamanhas que talvez não seja terminado tão cedo. De qualquer forma, elogia a escolha do local, arejado e bastante distanciado da cidade para evitar contágios e ao mesmo tempo próximo quanto às facilidades de suprimento médico e farmacêutico. O fora da cidade hoje faz parte do centro da cidade...
Crítica aos mandatários
Saint-Hilaire não poupa críticas aos mandatários da província, referindo-se ao poder absoluto dos capitães-generais. Sem nenhum obstáculo podem seguir todas as suas ideias, executar todos os seus planos, por esdrúxulos que sejam, e seus subalternos nunca deixam de se extasiar diante do que eles fazem. Nota que seus sucessores, numa tentativa de vingarem-se de seus despotismos, depreciam e abandonam suas obras, substituindo-as por outras, que por sua vez serão um dia esquecidas.
Referências:
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE. In. Vikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire. Acesso em: 29.09.2020.
NOAL FILHO, Valter Antonio; FRANCO, Sérgio da Costa. Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890. Santa Maria: Ana Terra, 2004.
Imagem: "File:JBRJ Busto de Auguste de Saint-Hilaire.jpg" by Halley Pacheco de Oliveira is licensed under CC BY-SA 3.0
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