Em seu artigo Derrubem as estátuas publicado na Piauí de setembro, sobre a cultura do cancelamento, o cientista político Miguel Lago, discorre sobre assunto sem esquecer a questão da onda de derrubadas de estátuas verificada nos últimos tempos. A crítica à derrubada tem um argumento muito pertinente, diz ele, na medida em que não se pode condenar "a posteriori" figuras que estão inseridas em outros contextos históricos e são produtos de outros sistemas de pensamentos. Além do mais, não dá pra alimentar maniqueísmos do tipo ou santo ou vilão dada a complexidade do personagem histórico.
Getúlio Vargas, um dos exemplos citados pelo articulista, foi o mandatário que entregou Olga Benário aos nazistas, mas ao mesmo tempo evitou o destino traçado pelas nossas elites endinheiradas para o Brasil: o de se tornar uma grande Guatemala. O problema reside na mitificação dos grandes vultos do passado com objetivos políticos de dominação, que pôde contar por muito tempo com uma historiografia a seu serviço, fato hoje superado.
Por outro lado, as políticas oficiais de memorialização, diz o articulista, nas quais as estátuas se inserem como meios para tal, entre outros, continuam a fomentar a criação de mitos. A estátua de Cristóvão Colombo não simboliza o personagem histórico, com suas ações, contribuições e defeitos. Lembra o descobridor da América, não seu conquistador. Quem derruba a estátua de Colombo está lutando contra essa narrativa, e não vilanizando a figura de Colombo. Para Miguel Lago, no sentido de se combater mitos, a derrubada de determinadas estátuas é bem-vinda. Aquelas com valor artístico poderiam ter como guarita algum museu. Penso de igual forma.
Referência:
LAGO, Miguel. Derrubem as estátuas. Piauí, Rio de Janeiro, set. 2020, p. 29-30.
Nenhum comentário:
Postar um comentário