20 setembro 2021

Porto Alegre | A Av. Farrapos no dia da morte de Getúlio Vargas (1954) e na Campanha da Legalidade (1961)

 




Escrita por Zara Gerhardt, a crônica A avenida publicada recentemente na revista digital Parênteses aborda alguns dos episódios ocorridos na Av. Farrapos, uma das mais importantes artérias da capital gaúcha, que liga o centro da cidade ao aeroporto, por ocasião do ato suicida de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 e do episódio da chamada Campanha da Legalidade, em 1961.

Àquela época, conta a cronista, ainda criança, não existiam ainda faixas de segurança nem tampouco semáforos ao longo da a avenida. Morava num prédio residencial na esquina da Farrapos com outra rua. Naquele dia fatídico, lembra ela, as aulas do colégio foram suspensas. Sem telefone para o contato com os pais, as próprias professoras se incumbiram da tarefa de levar as crianças de volta para suas casas. Sua própria mãe, professora, "atravessou a Farrapos com pencas de crianças em cada uma das mãos, incluindo vizinhos, a filha e sobrinhos".

Sua avó, "calejada de revoluções e levantes" tratou de ir ao armazém para suprir o lar com alimentos não perecíveis, querosene para o fogareiro, fósforos e velas. Pelo rádio, notícias alarmantes: o Diário de Notícias, do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand, foi empastelado, tendo suas máquinas sido jogadas na calçada; a turba enraivecida atacou estabelecimentos comerciais que lembrassem ainda que remotamente origem norte-americana, como foi o caso da Importadora Americana, que teve suas vidraças quebradas.

Na Campanha da Legalidade, em 1961, liderada por Leonel Brizola, para que João Goulart, vice-presidente da República, assumisse a presidência em função da renúncia de Jânio Quadros, situações semelhantes tomaram conta do dia a dia das pessoas que moravam nas redondezas. Escolas foram fechadas, aquisição de alimentos para serem estocados em casa. Expectativas de guerra civil, boatos sobre navios de guerra norte-americanos aproximando-se da costa gaúcha, tanques de guerra passando pela Farrapos, fazendo o chão tremer. Felizmente, a tensão acabou em 1º de setembro, com o desfile de chegada a Porto Alegre de João Goulart, sem mais impedimentos para assumir seu novo cargo,  passando numa limusine, vindo do aeroporto, sob os aplausos da multidão que se aglomerou em pontos da avenida.

Quanto a mim, em 1954, encontrava-me em Alegrete, cidade da Campanha gaúcha, ocupado em dormir e mamar, já que tinha nascido dois dias antes... Meus pais já moravam em Porto Alegre, numa rua próxima à Farrapos, mas minha mãe preferiu ter seu primogênito junto à minha avó e tias, já casadas, que poderiam lhe dar uma assistência maior, marinheira de primeira viagem... Em 1961, meu pai houve por bem colocar a família num trem que nos conduziria para Alegrete. Porto Alegre vivia a ameaça de o Palácio Piratini, sede do governo estadual, ser bombardeado pelas forças golpistas.

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