20 setembro 2021

Pandemia | O drama de motoristas e cobradores de ônibus urbanos

 




Reportagem da revista Piauí de setembro mostra o drama vivido por motoristas e cobradores de ônibus de linha, que são obrigados a enfrentarem a pandemia como podem, vivendo o medo e a insegurança diante da possibilidade de contraírem o coronavírus, que já matou muitos de seus colegas.

A reportagem cita como exemplo o motorista Renato Galdino, de São Paulo, que trabalha durante oitos horas diárias conduzindo um ônibus de janelas vedadas, muitas vezes lotado de pessoas. "Cada vez que o motorista de 41 anos ouvia alguém espirrar ou tossir dentro do veículo, a apreensão dele aumentava. (...) É sufocante dirigir com a máscara sem ter ar circulando, comentou ao repórter que escreveu a matéria. Levar o vírus para sua casa e infectar seus familiares constituía-se em seu maior receio. A linha em que trabalha tem um percurso de  8km e ele transporta algo em torno de 600 passageiros por dia. Chega à garagem dos ônibus lá pelas 4h da manhã, munido de sua máscara de tecido e um frasco de álcool em gel.

Certo dia, no início de maio de 2020, sentiu dores pelo corpo e cansaço. Contraíra a covid-19. Em função das dificuldades em respirar, procurou um hospital. Sentia medo de morrer, tal  como outros colegas seus, "uns vinte" afirmou ele, entre motoristas e outros profissionais do serviço. Deu alta três dias depois e ficou duas semanas em casa isolado no quarto. Após esse período, voltou ao trabalho, mais cuidadoso do que nunca. Sua mulher também infectou-se, mas com sintomas leves.

Em São Paulo, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no primeiro quadrimestre deste ano, "a categoria dos motoristas de ônibus urbanos ocupa a nona profissão entre as profissões que mais registraram desligamento do trabalho por morte". Porém na comparação com os dados com 2019, do mesmo período, a ocupação de motorista foi aquela que registrou o segundo maior aumento de mortes - 631 casos em 2021.

As causas maiores são conhecidas: motoristas sem medidas de proteção alguma contra o vírus, trabalhando muito próximos dos usuários, sem nenhuma barreira física, muitas vezes trabalhando inclusive como cobradores. É interessante lembrar a pesquisa realizada em Recife pela Fiocruz de Pernambuco, em fevereiro deste ano, a maior incidência de vírus ocorre justamente  nos terminais de ônibus. (Veja linque abaixo a respeito)

Yuri Lima, pesquisador da UFRJ, lembrou a ausência de uma coordenação por parte do governo federal com vistas a determinar, desde o primeiro momento da pandemia, uma relação de categorias profissionais prioritárias em termos de vacinação, como prioritárias. Motoristas de ônibus estavam de fora da primeira leva. A escolha muitas vezes é feita levando em conta um caráter político: sindicatos mais fortes, com maior representatividade no Congresso e em condições de mobilizar a mídia têm mais chances de gozarem de prioridade.

De acordo com Célia Maria da Silva, psicóloga clínica do Sest Senat - Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte, de Teresina, Piauí, "houve uma aumento expressivo no número de motoristas e cobradores com transtornos psicológicos e psiquiátricos durante pandemia", sendo que o problema mais comum é a ansiedade. Transtornos de estresse pós-traumático também ocorrem em função da perda de colegas de trabalho e o medo de contaminação. "O medo não é nem tanto por si, mas pelos filhos, pela esposa, pelas pessoas que eles amam", afirmou a psicóloga.

Fonte |
O medo é constante, chefe, reportagem de Tiago Coelho publicada na revista Piauí de set/2021.

Mais |
Pesquisa da Fiocruz-PE



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