Interessante o artigo da Profª Tatiana Zizmann, doutora em Letras pela UFRGS, tendo como título "Trágica Epidemia em O Tempo e o Vento" (vide abaixo) e que nos fala de uma epidemia real de cólera-morbo, retratada ficcionalmente na obra mais conhecida de Erico Verissimo. Tal surto de cólera surgiu em meados do séc. 19 na Índia e espalhou-se pelo mundo, incluindo o Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, entre 1855 e 1856, causou a morte de cerca de 5 mil pessoas. Em Porto Alegre foi algo em torno de 1.700 mortes, 10% da população; no RS, 4 mil pessoas, sendo que sua disseminação foi a partir do porto de Rio Grande em 1855, tal como a Gripe Espanhola mais de meio século depois.
A epidemia real faz parte do cenário ficcional no início do segundo volume da referida obra, no episódio que tem como título A Teiniaguá, uma das novelas que fazem parte de O Tempo e o Vento, tal como Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo, as mais afamadas. Nela, destaca-se a figura de Luzia, a Teiniaguá, que casa com Bolívar, filho de Bibiana Terra. O casal passa a viver no sobrado da família e um conflito entre sogra e nora se instala, não se entendem, nem mesmo depois do nascimento de Licurgo, o primeiro filho de Bolívar e Luzia. Em uma viagem que o casal faz a Porto Alegre, deixando o filho sob os cuidados da avó, eclode o surto epidêmico.
As carroças da municipalidade andavam pelas ruas a recolher os cadáveres, que na maioria dos casos estavam de tal modo desfigurados que se tornava impossível de identificá-los. Havia pessoas que eram atacadas subitamente pelo mal e caíam fulminadas nas ruas. Temia-se que muitas tivessem sido enterradas vivas, pois os médicos. os enfermeiros e os funcionários municipais estavam de tal modo cansados, tresnoitados e nervosos que nem tinham tempo para maiores verificações.
Quando o casal voltou a Santa Fé, Bibiana não permitiu que a nora visse o menino, isolado dos pais na água-furtada, de tão temerosa que estava com o que acontecia. Sob determinação de Bento Amaral, o manda-chuva da cidade e inimigo dos Cambarás, o sobrado é posto de quarentena. Bolívar encontrava-se transtornado com tudo, principalmente chocado com o caráter mórbido e sádico da mulher, que em Porto Alegre sentia-se prazerosamente atraída pelas cenas trágicas que via da janela e adquirira o hábito de presenciar a retirada dos cadáveres, com o interesse de olhar para o rosto das pessoas que pereciam. O marido, não suportando a quarentena, sai do sobrado e é alvejado mortalmente por capangas de Bento Amaral, vigilantes da quarentena.
No filme O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim, adaptação do romance homônimo, o episódio relacionado com Luzia Teiniaguá, vivido na tela por Mayana Moura, foi cortado na apresentação da película, dada a sua extensão. Foi visto, porém, quando transformado em minissérie da Globo em 2014:
https://www.youtube.com/watch?v=y8KYLEKNjXQ
Referência:
https://www.polbr.med.br/2020/05/01/a-pandemia-esquecida-a-colera-no-brasil/
ZISMANN, Tatiana. Trágica epidemia em "O Tempo e o Vento". Zero Hora, Porto Alegre, 20-21 mar. 2021. Doc, p. 10.
Nossa... Muito bem lembrado!👏👏👏
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