09 | De meu diário íntimo... | Por que gostei mais de Piratini/ "O Direito de Nascer"

 

17 de novembro de 1964

Escrevo em meu diário:

Comecei os exames do 3º ano. (...) Dia 24 estarei em férias e retornarei no colégio dia 30 para buscar o boletim. Estou escrevendo com minha caneta automática. (1) (...) O bob sabe fazer "Estrala Bico". Dia 22 de novembro faz um ano que o presidente dos Estados Unidos faleceu. Estou calçando o nº 35 ou 36. O bob o nº 34.

19 de novembro de 1964

Hoje fui na escola (2) encher minha caneta. O pai colocou outra tinta. Estou escrevendo com ela. Faz dias que eu, o bob, a mãe e o pai fomos de Volkes em Pelotas e em Piratini. Gostei muito do passeio. Em Piratini paramos na casa da dona Chininha. Deu-nos uma merendeira para mim côr amarela e uma para o bob côr côr-de-rosa. Hoje não tem exame mas tem aula. Eu acho que sábado vai ter exame de Matemática. Em Piratini o bob queria comprar um apontador. O bob gostou mais de Pelotas porque tinha as crianças do senhor Slol [Scholl]. Eu gostei mais de Piratini porque lá a cidade é pequena e eu podia caminhar pelas ruas. O bob vai agora na escola com a mãe ver os dentes dêle.

Agora vai ter a novela intitulada "O Direito de Nascer". (9:00hs)

Não vai dar a novela. Será dada amanhã. (3)

Inventei o seguinte verso:

Brasil

Brasil, cheio de árvores

Gigantescas árvores verdes

Cheias de galhos (4)

Também é o Brasil.

Minha letra no começo do ano era grande e agora é pequena. Fica meio grande quando as vêzes escrevo ligeiro.

(1) Caneta-tinteiro.

(2) Referência ao colégio agrícola em que meu pai trabalhava no cargo que hoje se denomina assessor financeiro. Era responsável pelo serviço de compras da escola e pelo almoxarifado. Tinha sua sala própria, próxima à do diretor, com armários e um birô. 

(3) Novela de rádio, bem entendido... Eu era um noveleiro de primeira. Nunca me esqueci de uma novela em que uma mulher muito má, que vivia numa fazenda, prendeu o marido numa gruta e o deixou lá acorrentado por muitos e muitos anos!

(4) O poeta ao falar nos galhos das árvores talvez tenha se inspirado de uma maneira não consciente nas belas e majestosas figueiras do lugar onde morava... 

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