14 fevereiro 2022

Semana da Arte Moderna (1922): O Berço do Modernismo? Há quem conteste.

 


Foto: alguns dos artistas participantes da Semana de Arte Moderna



Comemora-se o centenário da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, em seu Teatro Municipal, envolvendo diversos artistas de vários campos da cultura, como escritores, músicos, artes plásticas, escultura e maquetes de arquitetura, dentre eles nomes que depois foram consagrados, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Heitor Villa-Lobos e Di Cavalcanti.

Vários livros foram ou estão por ser lançados sobre o evento, considerado como berço do Modernismo no Brasil, dentre eles alguns que contestam esse festejado pioneirismo, como uma obra a sair do prelo de autoria do Prof. Luís Augusto Fischer, professor de Literatura Brasileira na UFRGS e escritor, por sinal ex-colega meu de faculdade. Em entrevista recente de Fischer publicada no caderno cultural do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele fala sobre sua obra e discorre sobre outros assuntos como a necessidade de valorização do estudo de letras de música em nível universitário.

A respeito da Semana de Arte Moderna, o professor está entre aqueles que discordem da ideia de que ela tenha sido uma espécie de pontapé inicial do modernismo brasileiro, embora reconheça que tenha sido um marco em termos culturais. Uma das ideias que apresenta para reforçar seu ponto de vista tem a ver com uma famosa conferência de Mário de Andrade de 1942 que ele afirma que se a Semana tivesse sido realizada no Rio de Janeiro, não teria maiores repercussões. Para Fischer, 

"o Rio já tinhas muitas estratégias de modernidade, autores, compositores, cancionistas, gente que fazia cinema, feminismo. (...) Não porque era melhor do que São Paulo, simplesmente era uma cidade mais cosmopolita, mais antiga. Era a capital do país."

Com esse mesmo posicionamento a respeito da questão, pode-se mencionar Ruy Castro, consagrado jornalista e escritor, em entrevista dias depois para o mesmo jornal, expressou a ideia de que "a Semana de 22 arrombou uma porta já aberta", algo que foi desconsiderado pelos acadêmicos da USP nos anos 50, que promoveram a Semana como tendo um caráter de vanguardismo imerecido. 

Castro opõe-se ao conceito de "pré-modernismo" que envolveria vários escritores como Euclides da Cunha, Lima Barreto, João do Rio, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira e outros tantos, na tentativa de enaltecer-se ainda mais as figuras que participaram da Semana de Arte Moderna. "O próprio Lima Barreto, que Mário de Andrade chamava de escritor de bairro, só foi redescoberto nos anos 1950." 

Propagandeou-se a ideia de que a Semana foi "um rompimento". Rompimento com o quê? - pergunta Ruy Castro, que esclarece: 

"O verso livre e sem rima já era praticado por Mario Pederneiras desde 1910 e depois por Manuel Bandeira. Os contos de Adelino Magalhães, todos em livro antes de 1920, já tinham fluxo de consciência, ações simultâneas e até palavrões. Orestes Barbosa já escrevia naquele estilo telegráfico, picotado, que depois seria copiado por Oswald de Andrade."

 Ruy Castro lançou recentemente o livro As Vozes da Metrópole, pela Companhia das Letras, em que fala sobre 41 escritores esquecidos pela "indústria acadêmica da USP", mas que praticaram uma literatura modernista anterior aos modernistas de 1922.


Ainda esta semana em Cem Ideias |

15/02 - 3ª-feira: Armazém Dorneles

16/02 - 4ª-feira: Das 100 músicas de que gosto mais

17/02 - 5ª-feira: Cabeças Pensantes

18/02 - 6ª-feira: Ser mulher na Antiga Roma

 

Imagem | DesconhecidoUnknown author, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons

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