04 fevereiro 2022

PORTO ALEGRE 250 ANOS (4) | Açorianos se recusam a abandonar o Porto de Viamão/ A produção de trigo para as tropas

 





Os Campos de Viamão

Como vimos na postagem anterior desta série, em 1752 chegam a Porto Alegre os primeiros imigrantes provenientes dos Açores, que a princípio estavam destinados a continuarem viagem até a região missioneira, fato que acabou não ocorrendo. Na região onde hoje se situa a capital gaúcha, havia apenas o chamado Porto de Viamão. A cidade vizinha a Porto Alegre já era uma freguesia chamada Nossa Senhora da Conceição de Viamão (1747). Os assim denominados Campos de Viamão, como se viu, abarcavam uma extensão de terra entre o rio Mambituba (hoje divisa entre RS e SC) e a região do lago Guaíba. Criadores de gado provenientes principalmente de Laguna desenvolveram um comércio de carne de gado (charque) e couro, que através de duas rotas - uma por Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, e outra ao longo do mar, atingiam os mercados de Laguna e Sorocaba.

Os açorianos se recusam 
a abandonar Porto Alegre

As famílias de açorianos aglomeraram-se junto ao Porto de Viamão, mais precisamente onde situa-se a Praça da Alfândega. Segundo Achylles Porto Alegre (1848-1926), escritor e jornalista, descreve o contexto inicial: "choupanas de taquaras, ripas, barro e colmo erguendo-se aqui e ali, na pressa do colono em construir seu abrigo." De qualquer forma, muitos deles, em busca de terras, seguiram as tropas pelo rio Jacuí acima e chegaram a participar das Guerras Guaraníticas, em que os índios se rebelaram contra a tentativa de expulsá-los da região missioneira. Outros, sob a permissão de Jerônimo de Ornellas, dono da sesmaria em que habitavam, tiveram a permissão para criarem pequenas roças. Um terceiro grupo constituiu-se de artesãos, que se instalaram junto ao porto. Em 1767, com a tomada de Rio Grande pelos espanhóis, como já vimos, muitas famílias buscaram refúgio na região em que se ergue Porto Alegre, sem falar naquele contingente de pessoas provenientes das margens do rio Jacuí e Colônia do Sacramento (Uruguai). Os açorianos, que já viviam no local, receberam a ordem de transferência para a Aldeia dos Anjos (atual Gravataí, cidade vizinha a Porto Alegre), habitada por índios provenientes das Missões que acabaram lutando junto aos portugueses nas Guerras Guaraníticas. Os imigrantes açorianos se rebelaram e se recusaram a partir.


O povoado se desenvolve

O coronel Inácio Elói de Madureira, demitido por ter entregue Rio Grande aos espanhóis, foi substituído por  José Custódio de Sá Faria, que havia já se instalado em Viamão. Este teve a ideia de fundar-se uma cidade junto ao Porto dos Casais (alusão aos açorianos). O povoado se concentrava ao longo da Rua da Praia. Acima do que é hoje a Praça da Alfândega (na época, Largo da Quitanda), próximo à atual Rua Riachuelo, viviam os militares da guarnição de Rio Grande bem como as autoridades que recolhiam impostos. Em 1764, Jerônimo de Ornellas vendeu sua sesmaria a Inácio Francisco, que à época sofria a ação de invasores de terra, que criavam suas chácaras no local por conta própria. A Sesmaria de Santana acabou sendo desapropriada por inteiro. O Porto dos Casais não passava de um núcleo de Viamão, que por sua vez foi elevada à categoria de freguesia em 1747.


A produção de trigo

A produção de trigo, por parte dos açorianos, passou a ser a principal o principal produto econômico da região. Além de cultivado, o trigo era moído em moinhos movidos à água (azenha) ou a vento. "Azenha", aliás, deu nome a um dos bairros da cidade. Para a Coroa Portuguesa, o trigo assim como as chácaras eram importante sobretudo para a alimentação das tropas. Além do mais, o crescimentoda população era bastante útil para eventuais requisições para atividades militares.



Praça do Paraíso, atual Praça XV de Novembro. À dir. o Mercado Público. Ao lado, a Doca do Carvão, posteriormente aterrada para a construção da Prefeitura Municipal. Foto de 1877. Segundo consta, a antiga Praça do Paraíso recebeu esse nome porque no local funcionava um bordel. Entende-se...


Fonte |

História Ilustrada de Porto Alegre, edição sob o patrocínio da CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica. Responsável pela publicação: Elmar Gomes da Costa (1977).

Porto Alegre, uma história em três tempos. Museu de Porto Alegre José Joaquim Felizardo (1998).


Mais |
Porto Alegre 250 anos (3) | Sesmarias às margens do Guaíba/ A chegada dos açorianos



Imagem 1 |  Carlos Nascimento, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, através da wiki Wikimedia Commons


Imagem 2 | Luigi Terragno, Public domain, através da wiki Wikimedia Commons

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