Tal como Auguste Saint Hilaire (1779-1853), que dá nome inclusive a um parque no município de Viamão, cidade vizinha a Porto Alegre, Wilhelm Breitenbach (1856-1937) foi um dos inúmeros viajantes e observadores europeus que vieram ao Brasil no século 19 que deixaram em seus diários, memórias e reportagens relatos sobre suas viagens, de valor histórico inestimável para os pesquisadores de hoje. Wilhelm Breitenbach foi um biólogo e zoólogo alemão que veio ao Brasil em 1880 e que atuou como jornalista e professor na capital gaúcha até 1883, quando voltou ao seu país. Na cidade colaborou com os jornais em alemão Deutsche Zeitung e Koseritz Deutsche Zeitung. Era um colecionador de insetos e publicou vários ensaios sobre zoologia, etnologia e outros assuntos. Em sua obra Aus Süd-Brasilien: Erinnerungen und Aufzeichnungen (Do Sul do Brasil: lembranças e apontamentos), de 1913, dedica várias linhas para registrar suas observações sobre Porto Alegre, cidade que ele admirava. Vejamos algumas delas, de maneira resumida, extraídas da obra Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890, de Valter Antonio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco:
Menino Deus
Menciona o Menino Deus, um bairro da cidade, que era avistado pelos navios que chegavam ao lago Guaíba, em direção ao porto. Na época, nada mais era do que um lugarejo unido a Porto Alegre por uma linha de bondes, puxados por tração animal, no caso. Salienta que o Menino Deus é um dos lugares preferidos dos moradores da cidade para o lazer.
O porto
Na chegada ao porto, destaca a profusão de raças e nacionalidades, citando-as: pretos, brancos e amarelos, brasileiros, alemães e italianos.
Os alemães
Salienta que na cidade as raças não se antagonizam, o que acontece, por exemplo, na América do Norte. Destaca o elemento alemão, na configuração do caldeirão de nacionalidades que vivem em Porto Alegre, dirigindo-se a ela como uma cidade teuto-brasileira. Informa que a cidade contava entre 70 e 80 mil habitantes, dos quais 9 ou 10 mil eram alemães e teuto-brasileiros. Credita aos alemães o desenvolvimento da cidade nas última décadas.
O Mercado Público
Breitenbach dá um especial destaque à sua descrição sobre o Mercado Público Municipal, inaugurado em 1869 sobre o primeiro aterro da cidade. Nele encontramos lojas de artigos diversos, botequins para marinheiros, instalações de alemães que servem cerveja (...), açougues, pequenos matadouros, funilarias, produtos manufaturados, cigarrarias e tabacarias (...). Faz alusão às casuarinas, árvores plantadas no pátio interno e que forneciam sombra aos transeuntes. Foram aliás posteriormente abatidas pela prefeitura em 1886. Ainda no referido espaço, faz referência às bancas atendidas, principalmente, por portugueses, italianos e negras que oferecem diversificados produtos da terra. No mercado depara-se ainda com a venda de animais, em menor número do que no Rio de Janeiro e Salvador: papagaios, macacos, tamanduás, antas, tatus... Dentre os comestíveis, uma variedade de peixes bem como galinhas, marrecos e perdizes.
Praça XV de Novembro
Refere-se à Praça XV, ao lado do Mercado, como um belo, amplo e bem instalado jardim, repleto de bom gosto em suas formas, lembrando que no local anteriormente havia apenas um pântano e que a praça criada pelas mãos de um jardineiro alemão. Salienta que a praça serve como um local de encontro da população ao entardecer, em que as damas permitem que se admirem suas novíssimas toaletes, como o fazem no teatro ou na igreja; também nesse local podemos distrair-nos observando a jovem e feliz nova geração alemã.
Praça da Alfândega
Depois de descrever rapidamente a Rua Sete de Setembro, destacando o fato de que era artéria que servia de endereço para firmas importadoras e casas comerciais de alemães, em sua maioria, faz referências à Praça da Alfândega, onde encontra o prédio que deu nome a ela, segundo ele não passa de um velho casarão que não faz justiça à nova e vibrante cidade comercial.
Rua Voluntários da Pátria
Essa rua, na qual moram muitos alemães, passa em frente à estação ferroviária, rumo à Vila Navegantes, que dista cerca de três quartos de hora da cidade e que pode ser descrita como uma cidadezinha alemã, subúrbio de Porto Alegre - escreve o autor.
Rua da Praia
Como não poderia deixar de ser, Breitenbach dedica algumas linhas à Rua da Praia, a mais tradicional artéria da cidade, já na época tendo com nome oficial Rua dos Andradas. Destaca que se trata de uma rua onde se localizam lojas de roupa, lojas que vendem ouro e prata, grandes magazines, alfaiatarias e chapelarias de imigrantes alemães, duas livrarias brasileiras e duas alemãs, tipografias, hotéis - uma perfeita rua comercial. Observa que além da iluminação pública por meio de postes com lampiões a gás, a maioria das lojas instalaram, também elas, luz própria.(...) Hoje se veem elegantes entradas, com grandes espelhos, como nas grandes cidades europeias.
Enfim, um pouco da Porto Alegre ao final do século 19...
Referências:
NOAL FILHO, Valter Antonio; FRANCO, Sérgio da Costa. Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890. Santa Maria: Ana Terra, 2004.
VILHELM BREITENBACH. In: Vikipedia: die freie Enziklopädie. Disponível em: https://de.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Breitenbach. Acesso em: 16.08.2020.
Referências:
NOAL FILHO, Valter Antonio; FRANCO, Sérgio da Costa. Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890. Santa Maria: Ana Terra, 2004.
VILHELM BREITENBACH. In: Vikipedia: die freie Enziklopädie. Disponível em: https://de.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Breitenbach. Acesso em: 16.08.2020.
Muito bom 💯
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