25 dezembro 2022

ESTATUTO do estuprador | Os deuses dos outros | 1961: sem grenal pelo rádio | Onde há fumaça...

 




POLÍTICA | Estatuto do Estuprador


Em exame na Câmara dos Deputados o famigerado projeto de lei intitulado Estatuto do Nascituro, uma verdadeira excrescência bem ao gosto de um congresso ultraconservador, pois criminaliza o aborto em quaisquer circunstâncias, mesmo aquelas permitidas por lei desde 1940: quando a gravidez significa risco de vida para a gestante ou consequência de violência sexual, sem falar na decisão do STF, de 2012, que passou a autorizar a interrupção da gravidez em casos de feto anencéfalo. Como se não bastasse, o projeto prevê ainda a proibição do aborto em caso de estupro, mesmo na situação de meninas recém chegadas à puberdade. Se o estuprador for identificado, será obrigado a pagar pensão alimentícia. Ganhou o apelido de Estatuto do Estuprador

"Não pode abortar, fique tranquila porque o estuprador vai pagar a pensão", ironiza Laura Molinari, da campanha Nem Presa Nem Morta. "É um nível de crueldade e sofrimento", acrescenta.  Segundo a psicóloga Vanessa Gebrim, "ao garantir a possibilidade de paternidade ao estuprador,  o projeto subjuga a integridade das mulheres e contribui para a perpetuação da violência e da impunidade". Pelo visto, ao que parece, por trás de tudo o obscurantismo religioso pronto para dar o bote.

  FONTE: Bolsa estuprador, reportagem de Fabíola Mendonça publicada em CartaCapital de 21/dez/22.


LITERATURA | 1961: sem grenal pelo rádio...

Acabei de ler o romance Atado em Ervas, da escritora gaúcha Anna Mariano (L&PM, 2022). Muito bom! Abaixo, um fragmento da história. O ano é 1961, em plena Campanha da Legalidade, na luta empreendida por Leonel Brizola, entre outros, pela posse de João Goulart, até então vice-presidente, para assumir a presidência em lugar de Jânio Quadros, que renunciou. Todas as rádios de Porto Alegre haviam interrompido suas transmissões por ordem dos militares, exceto a Guaíba, cuja aparelhagem tinha sido confiscada por Brizola.

- Brasileiro até pode ser, Inácio, mas gaúcho dá um dedo por uma briga! Que raça desgraçada!
Inácio escondeu a ponta de culpa num sorriso. Mesmo depois de tantos anos, Leonor ainda achava os gaúchos uma "raça" diferente. No entanto, precisava reconhecer que, até certo ponto, ela tinha razão. E o pior é que, com tudo isso, o Gre-Nal já foi pro brejo, lamentou-se girando o dial para sintonizar outra rádio. Nada, só as rádios da Argentina. Voltou à Guaíba. O discurso de Brizola continuava.



Zeus

MITOLOGIA |
Os deuses dos outros

Quando um pagão descobria que um povo longínquo adoravam deuses que lhe eram desconhecidos, não se preocupavam com a questão de saber se esses deuses eram verdadeiros ou falsos (...). Para ele, os deuses dos outros eram deuses desconhecidos dele que talvez fosse bom importar (...); ou até achava que os deuses eram por toda a parte os mesmos sob nomes diferentes, os nomes próprios dos deuses se traduziam de uma língua para outra, a exemplo dos nomes comuns: Zeus era Júpiter em latim e Taranis em celta.

> Paul Veyne, arquéologo e historiador francês, em seu livro Quando nosso mundo se tornou cristão (Ed. Civilização Brasileira)

HUMOR | Balaio

O sol nasceu para toldos. (Sylvio Abreu) *** Neto e neta são netos, no masculino. Filho e filha são filhos, no masculino. Pai e mãe são pais, no masculino. Avô e avó são avós. (Arnaldo Antunes) *** Guerra é uma série de catástrofes que podem resultar numa vitória. (Georges Clemenceau) *** Onde há fumaça, há torrada. (Anônimo) *** Cachorro mordido por cobra até de linguiça tem medo. (Provérbio mineiro) *** A formiga só trabalha porque não sabe cantar. (Raul Seixas)

Um comentário:

  1. Esse ano vai ser o mais difícil, pois temos ainda uma grande parte de pessoas que ao meu ver são pessoas que se beneficiaram com o sofrimento dos outros. Seus textos são incríveis e nos dá uma ampla visão de vários contextos vividos por todos nós.

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