02 maio 2022

(4) Séc. 19 | Relatos de viajantes alemães sobre Porto Alegre

 



Na foto acima, o primeiro laboratório fotográfico de Porto Alegre (1893), criado pelo fotógrafo ítalo-brasileiro Virgilio Calegari (1868-1937).




J.E. Wappäus (1812-1879)

Johann Eduard Vappäus nasceu em Hamburgo, Alemanha em 1812 e faleceu em 1879. Foi professor de Geografia e Estatística. Entre 1833 e 1834 empreendeu uma viagem às ilhas de Cabo Verde e ao Brasil. O relato sobre sua visita a Porto Alegre foi escrito muito tempo depois de sua estadia. Sua descrição física da cidade destaca os prédios públicos da Praça Mal. Deodoro (Praça da Matriz, para os íntimos), então chamada de Praça Dom Pedro 2º: a Catedral, o Palácio do Governo, A Assembleia provincial e o Theatro São Pedro. Segundo ele, o teatro era "provavelmente o mais belo do Brasil". Em termos arquitetônicos destaca a Capela do Menino Deus, que ficava "a um quarto de légua da cidade" e faz referência às festas religiosas promovidas por ela. 

"Para os moldes das cidades brasileiras", considera as ruas da cidade muito limpas, o que atribui principalmente à geografia da cidade, cheia de declives, "fazendo com que toda chuva as lave e todo vento as varre". Faz uma crítica ao sistema de de distribuição de água potável sob a forma de cisternas. De qualquer forma, elogia a água fornecida pelos rios que deságuam no Guaíba: "totalmente insípida e limpa". Destaca a participação de imigrantes alemães e seus descendentes na vida econômica da cidade, reunidos em associações, como a de ginástica, canto, teatro entre outras, além do Clube Germânia.


Oskar Canstatt (1842-1912)

Emil Arthur Oskar Canstatt nasceu em Ansbach, na Baviera, em 1842, e falecido em 1912, ano contestado por alguns, diga-se de passagem. Sua viagem para o Brasil deu-se em 1868, tendo conhecido as províncias da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e as dos sul. Acabou naturalizando-se brasileiro e se estabelecendo no Rio Grande do Sul, onde casou-se na cidade de Santa Cruz do Sul em 1870. Retornou à Alemanha no ano seguinte e lá publicou diversos artigos sobre o Rio Grande do Sul e a imigração alemão na província. 

Em seu livro Brasilien. Land und Leute (Brasil. País e Gente), descreve a Porto Alegre de 1871. Conta que por ocasião de sua chegada à cidade, ela teve um pequeno inconveniente: o vapor posicionou-se afastado da margem e os passageiros tiveram que se valer do serviço de barcos para desembarcarem. Em seu caso, contou com a ajuda de um amigo que não via há muitos anos. 

"Devido ao terreno acidentado da península a monotonia das ruas retilíneas é agradavelmente interrompida e os esplêndidos panoramas que se gozam do alto de muitas ruas e partes mais altas da cidade, regalam os olhos assim que se alcançam." -

comenta ele quando descreve a cidade.


Dos 26 mil habitantes da cidade, diz ele, a oitava parte é de origem alemã, incluindo-se os descendentes, que segundo ele já consideram o Brasil como sua pátria. Para ele, o mercado, o teatro, o arsenal de guerra, o seminário e outras construções "ficariam bem em qualquer cidade europeia". Faz um referência especial à elegância que encontrou na rua 7 de Setembro. As grandes firmas são alemãs. O pequeno comércio acha-se nas mãos de brasileiros e portugueses principalmente.

Critica "o lamentável estado" da Casa do Imigrante, situada na antiga Praça da Harmonia (hoje Praça Brigadeiro Sampaio) e o desvelo do governo local para com os imigrantes recém-chegados, que pelo menos podiam contar em parte com o auxílio da Sociedade Alemã de Beneficência então existente. O prédio da Casa era dividido em compartimentos quadrados de madeira, nos quais as pessoas se alojavam provisoriamente. As mulheres preparavam refeições, com víveres oferecidos pelo governo, em fogões instalados na parte externa do estabelecimento e lavavam roupas na "lagoa". 

O autor faz referência à região onde se encontra atualmente o Parque Farroupilha, o mais tradicional da cidade, então conhecida como Várzea, onde havia picadeiros, para o treinamento de cavalos selvagens, e pasto para equinos e bovinos. Menciona "uma grande fogueira" em que num grande caldeirão era preparado uma feijoada com charque para a refeição dos tropeiros acampados no local. Na Várzea promoviam-se também corridas de cavalos.


Fonte |

Os viajantes olham Porto Alegre: 1754-1890, de Valter Antônio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco (2004).


Mais |

https://cesardorneles4.blogspot.com/2022/04/3-sec-19-e-20-relatos-de-viajantes-e.html


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