O passado não reconhece o seu lugar:
está sempre presente.
Mário Quintana
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A cada 11 de julho, Ricardo Chust Trajano, engenheiro aposentado, casado e com duas filhas, residente em Belo Horizonte, comemora seu "segundo aniversário". Considera que nessa data renasceu de novo. Motivo? Foi o único passageiro sobrevivente no mais trágico acidente aéreo vivido pela Varig, em 1973, em Paris, que resultou na morte de 123 pessoas, sendo que transportava 134 incluindo a tripulação. O destino final seria Londres, onde ele, com 21 anos, tinha a intenção de conhecer grupos de rock da cidade.
Quando o avião já se encontrava na iminência de aterrissar no aeroporto de Orly, para depois seguir seu destino final que seria Londres, Trajano "percebeu uma fumaça fina e branca que vinha dos fundos, próxima ao banheiro", conta o jornalista Pedro Tavares (vide fonte) sobre o ocorrido. Levantou-se de seu assento para sentar mais na frente, mas o comissário solicitou que retornasse ao seu lugar, o que ele acabou não fazendo. Apesar das tentativas da tripulação de resolver o problema, o princípio de incêndio se espalhou, com a fumaça tomando conta de todo avião, o que foi informado à torre de controle de Orly. "Trajano não se recorda de gritos nem tumultos entre passageiros, que possivelmente já estava sob efeito da inalação tóxica."
Além do mais, o oxigênio estava contaminado com gases tóxicos, o que impediria o recurso de máscaras nessas circunstâncias. Pelo menos os tripulantes tinham acesso a máscaras de oxigênio puro. Quando a torre autorizou o pouso da aeronave, ele se deu sob condições muito adversas. A fumaça bloqueava a visibilidade dos pilotos e o pouso se deu forçosamente sobre uma plantação, seguido de um estrondo. Trajano desmaiou. Dez tripulantes se salvaram além dele, o único passageiro que escapou da morte. Entre os que deixaram de viver estavam Agostinho dos Santos, um dos cantores mais populares da época e o senador Filinto Müller, que fora famoso chefe de polícia da Ditadura Vargas, além de outras pessoas conhecidas na época.
Trajano já havia recuperado a consciência quando o avião caía. Pensou que despedia-se da vida. Quando foi resgatado, ainda estava desacordado. Um dos destroços em chama caiu em suas costas, deixando-lhe uma cicatriz sobre elas. pelo resto da vida. Ao dar entrada num hospital nos arredores de Paris, o jovem foi identificado erroneamente como um dos comissários. O Globo noticiou no dia seguinte que nenhum passageiro sobrevivera. "Meu pai já estava encomendando o caixão", afirmou Trajano. Já sua mãe pediu calma à família. Tinha certeza de que ele estava bem. Mãe é mãe e tem suas intuições... No dia 12, quando despertou no hospital, os médicos deram-lhe papel e caneta para se escrevesse seu nome, nomes dos pais e seu endereço. O engano foi desfeito. De qualquer forma, sua recuperação não foi nada fácil: tinhas sérias queimaduras nas costas, nádegas e coxas, deixando-lhe cicatrizes. Seu tratamento teve continuidade posteriormente no hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio. Nos últimos anos, tem dado palestras sobre sua dramática experiência de vida e está por lançar um livro a respeito.
A propósito: em 1976, segundo o governo francês, em relatório oficial, a provável causa da tragédia teria sido provocada "por incidente elétrico, ou pela imprudência de um dos passageiros", hipótese questionada por Trajano. Para ele, faria mais sentido o posicionamento do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o qual durante alguns anos defendeu a hipótese de uma carga clandestina presente no portão do avião e de caráter explosivo. Seria melhor tanto para a Varig quanto para a ditadura cívico-militar que tal possibilidade não fosse levada em conta e apegar-se à versão disseminada pela imprensa: a de que um passageiro teria jogado um cigarro aceso na lixeira do banheiro.
fonte Cinquenta anos num dia, reportagem de Pedro Tavares publicada na revista Piauí de ago/23
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Parabéns para o Cem Ideias , não lembrava desse acidente, que bom saber de um pouco mais de história de acontecimentos e por esse mundo.
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