19 abril 2023

PEDRO ÁLVARES CABRAL: de "persona non grata" e esquecido a personagem da História do Brasil

 



De olho em Calicute - Em fevereiro de 1500, Pedro Álvares Cabral, fidalgo português, com pouco mais de 30 anos, foi escolhido por Dom Manoel 1º, rei de Portugal, para ser capitão-mor de uma importante expedição marítima cujo destino final seria Calicute, à época cidade que atuava como entreposto comercial bastante importante localizado na região ocidental da Índia. Cabral não era nenhum navegador experiente, mas costumeiramente, por razões políticas, para tal missão a escolha recaía num nobre. O objetivo da viagem era estreitar os laços comerciais com a cidade, aceitando os portugueses como parceiros. Para impressionar os indianos, a frota de 13 embarcações era composta de 1.500 indivíduos, metade deles soldados. Além de cofres do navio abarrotados de ouro para o comércio na Índia, Cabral recebeu 10 mil cruzados, o equivalente hoje a um milhão de dólares, como forma de pagamento pelo serviço prestado. Ô beleza!

"Descobertas" - A frota zarpou rumo à Índia em 9 de março de 1500. À altura das ilhas de Cabo Verde, uma das naves sumiu, coisa comum naqueles tempos, e não foi encontrada. 44 dias depois, de maneira imprevista ou não, como querem alguns, adivinhem o que aconteceu! A Bahia foi "descoberta"... Depois de uma estadia de dez dias, a armada prosseguiu a viagem. Uma naveta (pequena embarcação) foi enviada de volta para Portugal levando a famosa carta do escrivão Pero Vaz de Caminha, toras de pau-brasil, artefatos indígenas e duas araras, que fizeram muito sucesso na Europa. Próximo ao Cabo da Boa Esperança, contudo, quatro navios afundaram em função de uma tempestade, matando cerca de 400 homens, entre eles Bartolomeu Dias, o europeu que transpassou esse cabo pela primeira vez 12 anos antes. O navio sob o comando de Diogo Dias, irmão dele, se perdeu devido à força dos ventos e Diogo acabou "descobrindo" a ilha de Madagascar. 


Caravela (Porto Seguro, BA)

Conflito militar com mulçumanos - Depois de passarem por Quílon, uma ilha da atual Tanzânia, em Melinde, onde hoje fica o Quênia, Cabral conseguiu que um piloto nativo guiasse a frota até Calicute, onde mercadores árabes e chineses negociavam há muito tempo. A princípio, tudo ia bem. Contando com o apoio do governante local, os portugueses conseguiram montar uma feitoria, entreposto comercial fortificado, bem como um armazém na cidade. A tensão crescente entre eles e os mercadores mulçumanos resultou no ataque destes à feitoria recém criada, o que provocou a morte de 50 portugueses, entre eles Pero Vaz de Caminha. Como represália, o capitão-mor português atacou e saqueou  dez navios mercantes árabes, na qual 600 tripulantes inimigos foram mortos. Tendo perdido o suporte do poder local, Cabral bombardeou Calicute por dois dias e depois ele e seus comandados deixaram a cidade, tendo sido bem recebido em Cochim, mais ao sul. A cidade era território vassalo de Calicute e sonhava com sua libertação. Nela, o comandante português instalou uma nova feitoria e conseguiu fazer bons negócios. 

O retorno - Em janeiro de 1501, deu início à volta para a casa, com os navios cheios de especiarias valiosas. Uma viagem não de todo satisfatória, em função da perda de mais um navio, que encalhou num banco de areia e começou a afundar com suas preciosas mercadorias. Em junho, chegavam a Lisboa, com uma tripulação reduzida a um terço. Foi recebido com grande pompa. Suas 700 toneladas de especiarias renderam um lucro de 800% e motivaram os europeus a novas viagens de caráter comercial.

De persona non grata a reabilitado - Por outro lado, Dom Manoel 1º, a título de revanche contra Calicute, armou uma "esquadra da vingança". Para chefiá-la, escolheu Vasco da Gama, cheio de prestígio por ter sido o primeiro navegador a atingir Calicute por mar. Cabral, desgostoso com o fato de ter sido preterido para o posto, não aceitou sua escolha como subcomandante. Deu pra ele! Acabou virando persona non grata à Corte e nunca mais foi escolhido para qualquer missão. Além disso, até mesmo a memória de que tenha sido muito provavelmente o primeiro navegador europeu a chegar ao Brasil caiu no esquecimento. A carta de Caminha foi guardada a sete chaves e somente divulgada muito tempo depois por intermédio de Dom Pedro 2º, que desejava criar uma biografia oficial do Brasil. Foi assim que Pedro Álvares Cabral entrou para a história do país.

fonte Cabral além do Brasil, matéria de Alexandre Carvalho publicada em Superinteressante de dez/22

imagem Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854–1916), 
Public domain, através da wiki Wikimedia Commons


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4 comentários:

  1. Cem Ideias mais uma vez espetacular relembrando fatos já esquecidos por muitos como Cabral foi.
    Parabéns pela bela matéria 👏👏👏

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  2. Anônimo17:39

    Reportagem muito boa, espetacular parabéns

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